“Food trucks” ganham as ruas e fomentam mercado

Fonte: Midianews

Se até não muito tempo, comida de rua era uma venda improvisada, com ingredientes de procedimento duvidoso e cuidados com higiene aquém do desejado, hoje essa percepção mudou bastante.

Nos últimos meses, Cuiabá vive um “boom” de “food trucks” – pequenos caminhões ou van especializados em servir hambúrgueres gourmets, massas, doces como churros e cookies, cervejas e batatas.

Multicoloridos, bem equipados e ecologicamente sustentáveis, os “food trucks” pouco lembram os antigos carrinhos de cachorro-quente, caldo de cana e pastel, comuns nos arredores de praças e centros de comércio popular.

O diferencial do “food truck” é trazer a qualidade de um restaurante, com alimentos refinados, às ruas, para perto do cliente e com preços mais em conta.

Os mais famosos da Capital são o do “Cozinha dos Fundos”, “Bistro dos Churros”, “Mostarda Gourmet” e “Cerveja Louvada”.

O primeiro “food truck” do mundo surgiu em 1872, na cidade de Providence, nos Estados Unidos. O dono, Walter Scott, vendia tortas e sanduíches para trabalhadores de fábricas. Os operários precisavam de comida barata e rápida – e os sanduíches vendidos em carrinhos eram uma boa opção.

O modelo acabou sendo muito copiado e se espalhou para outras regiões dos EUA rapidamente.

Foi a partir dos anos 2000 que eles começaram a ganhar um toque gourmet. Em 2008, a crise econômica enfrentada pelo mercado americano acabou levando muitos restaurantes tradicionais à falência e, quando o País começou a se recuperar, alguns empreendedores tiveram a ideia de levar comida de qualidade para as ruas, investindo pouco.

O processo acabou se acelerando e rapidamente os “food trucks” tomaram conta das calçadas. A moda chegou ao Brasil em 2012, quando os primeiros “food trucks” surgiram, em São Paulo. Agora, eles já fazem parte do roteiro turístico das grandes cidades brasileiras. E, em Cuiabá, não é diferente.

Há um mês, o casal Sabryna Carvalho e Francisco Sperotto decidiu inovar e abriu o primeiro “food truck” de sobremesa em Mato Grosso, o Bistrô do Churros

Sabryna e o marido são apaixonados por cozinha. Eles criaram o primeiro “food truck” de doce em MT
Eles participaram, na última quinta-feira (28), de um evento de “food trucks” no supermercado Big Lar, na Miguel Sutil, em Cuiabá.

Sabryna, que é jornalista por formação, contou que ela e o marido já trabalhavam com “food trucks” de salgados em Florianópolis (SC), mas sempre tiveram um sonho de montar um de doces.

“Analisei o mercado e vi que aqui em Mato Groso não havia nenhum ‘food truck’ de doce ainda. Então casou a vontade de voltar para Cuiabá, porque nós somos do Mato Grosso, e manter ainda no mercado um ‘food truck’ de sobremesa. Formulamos a ideia e tem um mês que estamos no mercado. Estamos tendo uma aceitação muito bacana, as pessoas têm pedido para poder ir seus estabelecimentos, fazer parcerias”, disse.

Sabryna e o marido são apaixonado pela cozinha. Os dois fizeram cursos para se capacitar na área. Ela contou que o churros que fazem para vender no “food truck” é bem diferente daqueles encontrados pelas ruas da cidade. O Bistrô do Churros não tem ponto fixo. Aliás essa é a ideia do “food truck”: estar cada dia em um local diferente.

“O modo de apresentação do churros, nossas embalagens e nossa fritura também é diferenciada. O óleo que usamos é um algodão. Temos mais de 50 combinações de sabores”.

Sabryna explica que ainda não deu tempo de fazer a conta para saber qual a renda o Bistrô do Churros fornece ao casal. Revelou que o negócio tem dado certo e que planejam abrir filiais no interior.

O casal ainda não tem empregados fixos. Eles trabalham somente com freelancer e garantem que o “food truck” é regularizado. “Estamos analisando currículos para contratarmos”, pontuou.

O evento no Big Lar superou as expectativas. Mais de 500 pessoas comparecem ao local para saborear um hambúrguer gourmet, cerveja e doces em geral.

A estudante Alana Alburqueque, de 22 anos, aprovou o evento. Afirmou que os produtos são de qualidade e o preço “bacana”. “Já conhecia alguns food trucks em São Paulo e os daqui estão de parabéns. Não deixam nada a desejar em comparação com os de lá. A qualidade do produto é muito boa e o preço é melhor ainda”, disse.

O advogado Paulo Junior também gostou da ideia, mas reclamou do tamanho das filas e falta de lugares para sentar. “Ainda não tinha conhecido nenhum ‘food truck’. Apesar da desorganização, gostei muito da novidade”, disse.

Concorrência

Se os clientes aprovaram os “food trucks”, há quem não esteja gostando nada do novo mercado gastronômico da Capital.

O presidente do Sindicato Empregados de Bares, Restaurantes e Simliares de Mato Grosso (Sindecombares), Sidnei Silva, acusou os “food trucks” de não serem regularizados e de “roubar” clientes dos bares e restaurantes que pagam impostos e funcionários.

“Por que o Duca’s 7 fechou? Justamente por causa disso. Os clientes iam lá, tomavam uma ou duas cervejas e iam comer nesses ‘food trucks’”, protestou.

“Os empresários de restaurantes têm muitos gastos, com impostos em geral, pagamento de funcionários. A maioria desses caminhões não são regularizados. Eles não têm compromisso com funcionários, contratam para um dia e depois dão um dinheirinho só. Por isso que Mato Grosso está com uma taxa muito alta de desemprego. Não é que as pessoas estão paradas, elas só não têm carteira assinada” completou.

O sindicalista disse que já levou um pedido ao Ministério Público do Trabalho e à Prefeitura para fiscalizar a questão. “Eu sei que muitos dos que trabalham com caminhões são pais de família, mas não se podem trabalhar na informalidade”, pontuou.

A reportagem também procurou o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Mato Grosso, que reúne os empresários do setor, mas a diretoria não quis se pronunciar sobre o tema.

“Picuinha”

Marcio Augusto Patrício, um dos proprietários do Cozinha dos Fundos, rebateu o dirigente sindical.

“O ‘food truck’ paga imposto sim. Hoje em dia, para se manter, a gente segue todas as normas, desde registro de funcionário, pagamento de impostos, tudo feito certinho. É uma empresa legal que funciona dentro dos padrões normais”, disse.

“Eu não roubo cliente de ninguém. Se uma pessoa deixa de sentar em um restaurante com ar-condicionado, ser servido por um garçom, para esperar na fila 15 minutos e comer um lanche embrulhado, é porque nosso serviço é bom”, afirmou.

“Conquistamos nosso público pelo produto e qualidade que a gente tem. Se o cara acha que está perdendo cliente por causa de ‘food truck’, ele tem que aprender a trabalhar e melhorar o produto dele”.

O “food truck” do Cozinha dos Fundos foi o primeiro de Cuiabá.

Conforme Marcio, que não revela o quanto ganha com o “food-truck”, o Cozinha dos Fundos nasceu literalmente no fundo de sua casa no bairro Nova Esperança, em Cuiabá, em 2014.

De lá para cá os negócios cresceram e ele e outros dois sócios resolveram inovar. Eles também já abriram uma filial em Rondonópolis (215 km ao Sul de Cuiabá) e São Bernardo do Campo (SP).

“Somos uma das primeiras hamburguerias de Cuiabá, sempre implantando novos conceitos. Mesmo sendo bastante tradicional, o hambúrguer tem características tradicionais. Consegui implantar no nosso cardápio, coisas regionais como carne seca, furrundu, banana frita”, disse.

Conforme Marcio, o “food truck” pontencializou a loja e vice-versa. Conforme ela, várias empresas buscas parceria para ter o “food truck” no seu empreendimento e assim conquistar clientes.

Para eles, esse novo mercado gastrônico tende a crescer em Cuiabá.

“As pessoas falam em crise, mas elas estão dispostas a sair, a pagar por um produto de qualidade e um preço justo. Tem pessoas que vendem preços absurdos por um produto ruim, e a gente veio para quebrar esse paradigma”, pontuou.

Regularização

A legislação municipal determina que todos os “food trucks” de Cuiabá têm obrigatoriamente de se regularizar.

A Secretaria Municipal de Trabalho e Desenvolvimento Econômico está recebendo solicitações para que os empreendimentos possam andar com o termo de autorização válido por 12 meses.

O secretário Alex Jony da Silva explicou que os “food trucks” precisam informar os pontos em que pretende comercializar, não podendo ficar em qualquer lugar, tais como hospitais, ambulatórios medicos, órgãos públicos, escolas, próximo de vias e calçadas rebaixadas e faixa de pedestres.

Conforme Jony, além do alvará, emitido pelo Município, os proprietários precisam estar em dia com a documentação junto ao Detran (Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso).

Os proprietários, ainda pagam a taxa de uso de solo.