Os primeiros elefantes do Santuário que está em construção em Chapada dos Guimarães chegam a Mato Grosso no mês de setembro. Maya e Guida foram encontradas em uma propriedade rural de Minas Gerais, acorrentadas, doentes, e serão resgatadas por Junia Machado e a equipe do Primeiro Santuário de Elefantes da América Latina.
A notícia de que o Santuário seria construído em Chapada chegou à mídia pela primeira vez há cerca de um ano. O trabalho de Junia, presidente da Organização Não-Governamental ‘Santuário de Elefantes’, no entanto, começou muito antes.
A paulista é publicitária e, por muito tempo, trabalhou em multinacionais. “Eu cheguei a um ponto da vida em que eu precisava fazer alguma coisa pelo planeta. Eu não queria passar todos os meus anos gerando consumo”, contou a presidente, em entrevista ao Olhar Conceito.
Com esses novos objetivos, ela decidiu viajar à África e à Ásia para fotografar a caça aos elefantes e o comércio de Marfim. Seu objetivo era fazer uma exposição para levar ao conhecimento das pessoas o que estava acontecendo. “Esse marfim está em todo lugar. Ele é vendido como se fosse antiguidade, de forma ilegal, mas na verdade é dos elefantes que estão morrendo agora”, conta. (Veja mais sobre o comércio ilegal de marfim AQUI).
De volta ao Brasil, Junia foi visitar o Zoológico de São Paulo e se deparou com Terezita, uma elefanta. “Ela estava parada, em uma plataforma de concreto, sozinha. Eu pensei, cara, se eu não fizer nada, eu sou uma ameba”. Foi a partir daí que surgiu a ideia. Ela começou a estudar a vida dos elefantes, conhecer todas as ONGs que existiam pelo mundo, e descobriu que existem 50 elefantes vivendo em condições adversas na América Latina. Alguns deles são de zoológicos, alguns de circo e alguns (como Maya e Guida) vivem acorrentados em propriedades rurais.
Para colocar seu plano em prática, Junia entrou em contato, então, com a ONG Elephant Voices, em 2010. Logo, ela já tinha se tornado a representante deles no Brasil. “Eu mandei uma carta contando a situação da Terezita, e disse que queria tirá-la de lá, mas que se não conseguisse, queria pelo menos plantar uma sementinha pra que as pessoas soubessem da situação”. Aos poucos, ela já estava traduzindo artigos científicos da ONG para o português, e então, junto aos colegas da ONG internacional, concebeu o projeto de criar um Santuário no Brasil.
“Não dá pra mandar os animais de volta pra África e pra Ásia principalmente por causa da rivalidade que existe entre homens e elefantes lá. Por causa da caça pelo marfim e também porque os elefantes que ‘invadem’ propriedades rurais estão sendo mortos”, explica.
Junia Machado (Foto: Rogério Florentino Pereira / Olhar Direto)
Não podem voltar pra África
Para saber mais sobre como gerir um santuário, Junia entrou em contato com o maior do mundo, que fica no Tenessee. Ao todo, são apenas seis santuários no planeta. “Conheci o Scott, que foi o fundador do Santuário do Tenessee, e ele decidiu sair de lá por questões pessoais e veio pra cá junto a sua esposa, que é técnica veterinária”, conta. “Ele é um expert em elefantes, desde 95 ele estuda e sabe projetar, construir e gerenciar um santuário”.
A terra em Chapada dos Guimarães foi comprada em 2015. Segundo Junia, a escolha foi minuciosa, feita a partir de uma pesquisa que começou em outubro de 2013. “Precisávamos de uma área grande o suficiente, que tivesse colinas para os animais descerem e subirem, com uma vegetação variada”. A área comprada aqui fica a 1h30 da cidade de Chapada, e era de uma fazenda de gado, o que faz com que tenha vegetação natural e também pasto plantado. No total, são 1100 hectares (1hac = 10.000m²). “Na verdade os ancestrais dos elefantes viveram na América (…), e o clima e vegetação de Chapada são semelhantes ao da Savana Africana”, explica.
Cerca sendo soldada por uma funcionária (Foto: Arquivo Pessoal)
O Santuário já está em construção, e o Centro de Tratamento e os primeiros currais ficarão prontos até o final do mês de agosto, para receber Maya e Guida. Todo o processo foi feito com acompanhamento da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA). “Já recebemos duas licenças, só falta a de operação, que deve ser entregue assim que terminarmos o curral”, conta.
Não tem dinheiro público e não haverá reproduçãoApesar do apoio com as autorizações, o Governo do Estado (do município, ou do país) não está financiando o projeto. Todo o dinheiro, segundo a presidente, vem de doações. “De instituições, empresas privadas que acreditam no projeto e de pessoas mesmo. A maior parte da verba ainda vem dos Estados Unidos”, conta. Em cinco anos todo o Santuário deve estar pronto.
“O ideal, o que eu queria, era que viessem os cinquenta elefantes da América Latina pra cá, mas eu sei que é muito difícil, principalmente por causa do transporte”, afirma Junia. Atualmente, além de Maya e Guida, uma elefanta chilena já está com “passagens compradas” pra Chapada. “E domingo eu vou para Buenos Aires, porque eles fecharam um zoológico lá e vamos ver de trazer os elefantes pra cá”.
Aos poucos, as coisas vão ‘se ajeitando’. A presidente explica que não dá pra prever muita coisa, pois tudo deve ser feito de acordo com a necessidade dos animais. “Vamos trazer tanto asiáticos quanto africanos, mas eles devem ficar separados. Além disso, os elefantes não vão se reproduzir. O ideal seria deixar machos e fêmeas separadas, mas se só vier um macho, por exemplo, ele não pode ficar sozinho. Aí teremos que fazer uma vasectomia. Tudo depente”.
Fechado ao público
O Santuário não será aberto ao público. É importante lembrar que o objetivo é resgatar os elefantes e colocá-los de volta na natureza, e não transformá-los novamente em atração. No entanto, está em estudo criar um ‘Centro do Turista’ em Chapada, onde os visitantes poderão ver imagens filmadas dos animais. “E teremos um espaço de visitação na borda, onde estudantes e pesquisadores poderão observar de longe, com binóculos. Mas a área de 1100 hac, não é certo que verão os bichos”, explica Junia.
Também pensando no bem-estar dos animais, o Santuário tem poucos funcionários. São dez no total, sendo que vivem na fazenda apenas Scott, sua esposa (técnica veterinária) e mais um veterinário que será contratado e dois biólogos. Outros voluntários e funcionários trabalham à distância. “Estamos com um cadastramento de voluntários, mas tudo para ajudar de longe, pela internet”.
A fazenda terá em volta uma cerca ‘para humanos’, e o cercado dos elefantes é feito de tubos específicos para isso, iguais aos do Tenessee. “São tubos que permitem a passagem da vida selvagem, de outros animais, só não dos elefantes”.
Primeiras Hóspedes
Maya e Guida saem de Paiaguassú (MG), onde vivem, no dia 12 de setembro, e vem para Chapada em contêiners feito especificamente para elas, dentro de um caminhão. “A viagem depende só delas. Se elas estiverem cansadas, a gente para e espera”. Assista a um transporte:
A chegada acontece no máximo no dia 18 de setembro. Ramba, a chilena, vem depois, mas de avião. “A maioria vem por terra, mas ela teria que passar pelos Andes, então vai ter que vir pelo ar”.
Chegando aqui, as elefantas serão tratadas, alimentadas com suplementação e também deixadas livres para comer nos pastos. Depois de tanto tempo sendo atração, o que merecem agora é um pouco de paz.Serviço
Quem quiser conhecer mais sobre o Santuário pode acessar a FAN PAGE ou o SITE. Doações também podem ser feitas pelo site.
Para os que querem ajudar voluntariamente de alguma forma, é possível entrar em contato pelo email: info@santuariodeelefantes.org.br