A China aumenta investimentos no Brasil e diversifica atividades econômicas pelas quais demonstra grande “apetite” para fazer sociedade com capitais brasileiras ou mesmo adquirir o controle dessas empresas.
Inicialmente, o interesse dos chineses era por investimento no segmento do agronegócio, com ênfase no fornecimento de matérias-primas para suprir seu colossal parque industrial e alimentar a sua gigantesca população. Porém, desde 2015, passou a se interessar por aquisições na área de infraestrutura, em especial de geração e fornecimento de energia elétrica.
Nesse contexto novo de foco da China a construção da ferrovia bi-oceânica, que antes era visto como um projeto de longuíssimo prazo, quase um sonho, ligando os mercados do Centro Oeste, com destaque para Mato Grosso ao Oceano Pacífico, no Peru, e daí encurtando caminho para a Ásia, está mais perto de se tornar realidade do que muita gente pode pensar. Afinal, a logistica de transporte em escala – o que se traduz pelo barateamento dos fretes – faz parte dessa nova estratégia do gigante asiático de aumentar investimentos no Brasil, que já é o principal parceiro comercial daquele país.
No caso mato-grossense, os chineses através da Hunan Dakang adquiriram 57,5% dos ativos da Fiagril, uma das expoentes do agronegócio e que tem sua base no eixo da BR-163, com sede na cidade de Lucas do Rio Verde onde iniciou suas atividades ainda no final da década de 80.
A própria história da Fiagril se confunde com o processo de colonização de Mato Grosso intensificado a partir da década de oitenta. Fundada em 1989, seu empreendedorismo, inovação e uso de tecnologia de ponta contribuíram decisivamente para mudar paradigmas como a infertilidade do Cerrado e para o desenvolvimento sustentável que transformou o Médio-Norte mato-grossense na maior região produtora de grãos do país.
Focada no fornecimento de fertilizantes, defensivos e serviços para o setor agrícola e também na originação de grãos, produção e comércio de sementes e fabricação de biodiesel, a Fiagril é uma empresa sediada em Lucas do Rio Verde/MT que, em 2011, deu seu primeiro passo fora de sua região de origem ao estender suas operações para o estado do Tocantins.
A propósito desse recente avanço de interesse da China por novas e diferentes áreas da economia brasileira, a Folha de São Paulo e o portal Uol trazem matéria esclarecedora.
Confira o texto, na íntegra:
Investimento chinês no Brasil cresce e começa a se diversificar
Leticia Moreira/ Folhapress
Barateadas pelo câmbioe com problemas financeiros, empresas brasileiras viraram alvo de investidores chineses. Desde janeiro, eles desembolsaram US$ 10,6 bilhões em aquisições no Brasil, mais do que o dobro dos US$ 5 bilhões registrados no ano passado inteiro, segundo levantamento da consultoria Dealogic.
A cifra representa quase 60% do valor total investido por estrangeiros em fusões e aquisições de empresas no país neste ano, mas ainda é uma fração dos US$ 53 bilhões prometidos pelo primeiro-ministro chinês Li Keqiang durante sua visita ao Brasil, em maio de 2015.
O grosso do dinheiro chinês se concentrou neste ano em cinco negócios, mas a lista pode aumentar até o fim do ano, por causa da desvalorização de muitas empresas brasileiras. Segundo a agência Bloomberg, o valor de mercado de 73 companhias nacionais listadas na Bolsa está abaixo do valor contábil.
Enquanto o Brasil está barato, os chineses têm recursos abundantes para superar as ofertas de outros competidores nas negociações.
Na maior aquisição feita no país pelos chineses nos últimos dois anos, a estatal State Grid ofereceu pela participação da empreiteira Camargo Corrêa na distribuidora de energia CPFL um prêmio de 21,6% acima do preço das ações da empresa na época em que o negócio foi fechado.
A State Grid agora negocia com os acionistas que dividem o controle da companhia com a Camargo Corrêa, o fundo de pensão Previ e a Bonaire Participações. Eles também devem aceitar vender suas ações diante do prêmio oferecido, segundo relatório do banco Credit Suisse.
Se a aquisição da CPFL for confirmada, será a maior oferta pública de compra já feita na história do Brasil, avaliada em US$ 8,7 bilhões.
“Os investidores chineses têm visão de longo prazo e por isso aceitam pagar mais. São diferentes dos investidores circunstanciais, que querem comprar hoje para vender daqui a dois anos”, afirma o advogado Rabih Nasser, professor da Fundação Getúlio Vargas e especializado em investimento estrangeiro.
CONCESSÕES
Com as maiores construtoras brasileiras em crise por causa das investigações da Operação Lava Jato, o governo do presidente interino, Michel Temer, passou a apostar nos investidores estrangeiros para viabilizar um novo pacote de privatizações e concessões de infraestrutura.
Temer planeja viajar à China para participar de um encontro do G20 em setembro, logo após a conclusão do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
“O governo está tentando melhorar o quadro regulatório e estamos animados com isso”, diz Li Yinsheng, presidente-executivo da China Three Gorges (CTG) no Brasil.