Na correria do dia a dia, muita gente acaba jantando mais tarde, quase na hora de dormir, e aí vai para a cama de barriga cheia. Você faz parte desse grupo? Se respondeu que sim, talvez seja melhor rever o hábito.
O fato é que comer e deitar logo em seguida pode causar uma série de problemas, que vão desde ter o sono prejudicado até o favorecimento do refluxo gastroesofágico.
Por que comer e deitar faz mal?
Nosso corpo funciona de acordo com o ritmo circadiano, processo biológico que leva cerca de 24 horas e regula diversas ações metabólicas influenciado pela presença ou ausência de luz. Sendo assim, conforme vai escurecendo, ele como um todo desacelera e se prepara para dormir.
Neste período, diversas ações acontecem. Por exemplo: a temperatura, a frequência cardíaca e a pressão arterial diminuem, uma enxurrada de hormônios é liberada e a digestão fica mais lenta.
Porém, quando comemos e deitamos, sobretudo se a refeição for farta e repleta de calorias, esse processo fica completamente bagunçado, e o organismo, ao invés de relaxar, se mantém em estado de alerta, trabalhando forçadamente para digerir o alimento e absorver os nutrientes.
O resultado dessa desorganização, para algumas pessoas, é um sono não reparador e alguns incômodos. Na lista estão mal-estar, desconforto, distensão abdominal, queimação, azia, gases, cólica intestinal, dor de estômago, cansaço e insônia.
Além disso, um estudo realizado pela Universidade Dokuz Eylül, da Turquia, constatou que jantar tarde, especificamente duas horas antes de dormir, é considerado fator de risco, maior até do que uma dieta rica em sal, para a hipertensão noturna (quando a pressão não cai como deveria no decorrer da noite) e, consequentemente, para infarto.
A explicação, ao que tudo indica, é que a alimentação tardia, considerada após as 19h, estimula a produção de adrenalina e cortisol, os chamados hormônios do estresse, que deveriam diminuir ao anoitecer —com eles “na labuta”, a pressão não consegue baixar os 10% necessários durante o período de descanso do organismo.
Outro problema de comer e deitar é que essa ação favorece o surgimento do refluxo gastroesofágico, transtorno caracterizado pelo retorno do conteúdo gástrico do estômago para o esôfago, resultando na irritação desse órgão e no surgimento de azia, indigestão, dor torácica, tosse seca, regurgitação, engasgos e até doenças pulmonares de repetição, como pneumonia e asma, e infecções (otite e faringite são algumas).
E a sesta após o almoço, também é prejudicial?
Agora que você sabe disso tudo, pode estar se perguntado: mas e a sesta depois do almoço, também faz mal? Diferentemente do que acontece à noite, durante o dia o organismo ainda está ativo, o que significa que ele não terá de fazer um trabalho extra para digerir o alimento consumido.
Portanto, essa cochilada rápida —de 20 a 30 minutos— não é considerada prejudicial à saúde. Pelo contrário, ela só traz benefícios: revigora a mente e o corpo, dá mais energia, aumenta a criatividade e melhora a atenção, a disposição e a performance no restante do dia.
Quanto tempo antes de deitar é indicado comer?
Para que haja a correta digestão do alimento e assim se evite qualquer tipo de complicação, a recomendação, à noite, é esperar três horas para deitar após comer, sobretudo quem sofre de refluxo, hipertensão arterial e doenças estomacais.
No período, também é importante evitar ingerir grandes quantidades de comida e itens pesados e gordurosos, por serem mais difíceis de processar. O mais indicado é fazer refeições leves, dando preferência para verduras, legumes, frutas, sopas, carboidratos, inclusive os simples, e líquidos (exceto bebidas alcoólicas e café, já que são estimulantes).
Fontes: Diego Yuji Ito, cirurgião do aparelho digestivo do Hospital Leforte Liberdade (SP); Ingrid Baptista, coordenadora dos setores lactário e terapia nutricional do Hospital Icaraí (RJ); Thiago Costa Ribeiro, cirurgião do aparelho digestivo do Hospital Moriah (SP); e Vanessa Prado, médica do centro de especialidades do aparelho digestivo do Hospital 9 de Julho e membro da SBCD (Sociedade Brasileira de Cirurgia do Aparelho Digestivo) e da SBC (Sociedade Brasileira de Coloproctologia).
Fonte: UOL