Óleo e desnível de pista podem ter causado acidente que matou família em rodovia

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Um desnível no acostamento em trecho de pista simples foi observado pela perícia da Perícia Técnica (Politec) que trabalhou no acidente ocorrido na BR-163 na manhã do dia 9 de setembro deste ano, quando três pessoas da mesma família morreram carbonizadas, próximo a Nova Mutum (259 km de Cuiabá). Adriano Vitorino dos Santos, de 46 anos, Francielle Aparecida dos Reis Santos, de 31 anos, e o filho do casal Gabriel Alaf, de apenas 11 meses, morreram na hora. Eles moravam em Campo Grande, no estado de Mato Grosso do Sul.

Tráfego intenso, óleo na pista e o início das chuvas são fatores que tornam muito acidentes inevitáveis nesta época do ano nas rodovias do Mato Grosso. Trechos ainda não duplicados e com desnível no acostamento representam um grande perigo para quem utiliza as vias, principalmente veículos de transporte de carga que escoam a safra agrícola.

Deles, parte da mercadoria cai no asfalto e é esmagada por outros veículos, formando um material escorregadio que potencializa a possibilidade de acidentes no início do período chuvoso. A dica dos especialistas é atenção!

Com relação ao acidente perto de Nova Mutum, o motorista da carreta carregada com papelão perdeu o controle do veículo atingindo outra carreta que transportava milho, onde estavam as vítimas.

O motorista da carga de papelão foi o único sobrevivente e contou para a Polícia Civil que ao perder o controle do caminhão, atravessou a pista em L atingindo a outra carreta. Ele informou que a pista possivelmente estava com óleo.

O perito Nilton Carlos Dalberto, da Politec, confirma que uma camada de óleo pode ter sido a principal causa do acidente. “As condições da pista simples são extremamente desfavoráveis. Ela não consegue comportar o tráfego na região e ainda tem um desnível da pista para o acostamento”. Ele explica que o óleo é resultado de cargas de grãos que caem dos caminhões e formam uma camada de alcatrão no asfalto, tornando-o escorregadio e propício, durante as chuvas, a causar acidentes. “Do ponto de vista da perícia, o óleo na pista é uma condição recorrente e atribuímos a presença de óleo quando tem uma grande quantidade localizada no local do acidente. A situação encontrada no local é uma situação previsível, que nas primeiras chuvas essa menor aderência da pista em função do alcatrão”, diz Dalberto.

O alcatrão se forma a partir de grãos que vão caindo dos caminhões que circulam pelas rodovias e que são esmagados no asfalto quente pelos outros carros, formando uma camada escorregadia. “O alcatrão é um material betuminoso de consistência variável, resultante da destilação com destruição de matéria orgânica, entre elas matéria vegetal como grãos”, explicou. A BR-163 é um importante eixo de escoamento de soja e milho do Mato Grosso.

Acidentes

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) registrou 48 mortes este ano, nos 535 acidentes na BR-163, isso apenas no trecho corta o Mato Grosso. Março, quando ainda há incidência de chuvas, foi o mês com maior número de registros, com 10 mortes em 77 ocorrências. Entre os dias 1º e 13 de setembro foram 33 acidentes com 5 mortes. No dia 9 de setembro ocorreram dois acidentes entre os quilômetros 513 e 626, na região de Nova Mutum.

A Concessionária Rota do Oeste explica que monitora e inspeciona todo o trecho sob concessão da BR-163 de forma proativa e ainda verifica todos os apontamentos feitos por usuários da rodovia com relação à presença de elementos que possam resultar em acidentes para que medidas preventivas sejam adotadas.

Sobre a duplicação da rodovia na região de Nova Mutum, a Concessionária tem o segmento como prioritário. A retomada das obras de grande porte está prevista para 2022. Para que isso ocorra, trabalha para a assinatura do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Governo Federal, por meio da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), com posterior troca do controle acionário da empresa. A medida vai garantir o reequilíbrio do contrato e a fixação de um novo cronograma de obras para a BR-163, com retomada da duplicação.

Prejuízos

Acidentes representam cerca de 60% dos prejuízos apontados pelas seguradoras de cargas no Mato Grosso. A informação é do corretor Luiz Gobbo, da Pamcary, especializada em seguros de transporte de cargas. Um problema apontado por ele no Mato Grosso está no fato de que há um estrangulamento de veículos de grande porte tipo Bi-trem e Rodo-trens que escoam a safra agrícola, em trechos de pista simples. “Esses trechos deveriam estar duplicados. O risco de acidentes com mortes aumenta e o custo do transporte também”, observa Luiz Gobbo.

O corretor lembra que no acidente ocorrido em Nova Mutum, a pista escorregadia por conta do óleo na pista é comum no início das grandes chuvas. Gobbo lembra também que nestes trechos há ainda a incidência de incêndios em cargas de plumas e caroços de algodão, avaliadas em mais de R$ 500 mil. Um grupo de estudos formado por representantes do agronegócio, transportadores, seguradoras, Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e PRF visa estudar as causas e tentar reduzir este tipo de acidente.

O Grupo de Estudos de Queima de Algodão, criado em 2019, aponta como uma das causas o número de focos de incêndio ao longo das rodovias. “Uma simples fagulha pode propagar um incêndio de grandes proporções”, lembra o gerente executivo da Associação Nacional das Empresas Agenciadoras de Cargas (ANATC), Carley Fernando Welter. Ele explica que além de ser uma carga de alta combustão, alguns fatores como baixa umidade do ar, tipo de carroceria usado, mas principalmente os incêndios, causam este tipo de acidente e de perda das cargas, como o que aconteceu no dia 13 de agosto. Um caminhão trafegava pela MT-100, entre Alto Araguaia e Alto Taquari, quando viu pelo retrovisor as chamas na carga. Uma fagulha de um incêndio espalhou-se rapidamente. Ele conseguiu desengatar o cavalo da carreta. Houve perda total da carroceria do veículo e da carga de algodão.

Fonte: Olhar Direto