Dezesseis vezes. Ao longo desta entrevista exatamente 16 vezes Emanuel Pinheiro citou a cadeira de prefeito de Cuiabá. Ele não explicou a razão para tanta referência àquele móvel, mas aparentemente tratou-se de uma dualidade: euforia pelo cargo e temor quanto ao seu exercício.
Político de berço, filho do ex-deputado federal Emanuel Pinheiro da Silva Primo, o prefeito que chega ao poder acumula no currículo dois mandatos de vereador e quatro de deputado estadual, mas sua atuação na área administrativa não vai além de uma curta passagem pela função de secretário de Trânsito e Transportes Urbanos de Cuiabá. Aos 51 anos, com essa bagagem, filiado ao PMDB e secundado pelo vice-prefeito seu colega advogado e conterrâneo cuiabano Niuan Ribeiro (PTB), de 32 anos, Emanuel entra em cena numa cidade quase tricentenária e com problemas que transcendem a capacidade da prefeitura em solucioná-los.
Gestão de pessoal, transporte, trânsito, saúde, saneamento, segurança educação e são os maiores problemas de Cuiabá. Na campanha Emanuel apresentava solução ou encaminhamento para solucioná-los. E agora?
O novo prefeito quer o enxugamento dos quadros com redução de cargos comissionados. A prefeitura ultrapassa o limite prudencial de 49% das receitas correntes líquidas para quitar a folha que patina em torno de 52%. Essa gastança acende a luz amarela de Emanuel. Ele não admite, mas é pressionado por vereadores e partidos que pedem cargos. Se conseguir levar adiante seu propósito, ganhará fôlego; se atender aos pedidos trocará seis por meia dúzia.
O enxugamento, segundo Emanuel, não é o único caminho para equilibrar as finanças. Sem citar o montante, para não incorrer em erros, porque ainda não tem em mãos os números exatos, o novo prefeito fala que a prefeitura tem endividamento milionário, “sobretudo, na saúde”.
No setor de transporte Emanuel sonha acordado com a conclusão do VLT, mas na verdade a prefeitura será mera espectadora dos desdobramentos da conclusão ou não daquele modelo de transporte.
O trânsito além de violento e de pouca fluidez tem um divisor de opinião pública: os radares eletrônicos, que para muitos são meros caça-níqueis. O novo prefeito sequer toca na possibilidade de desativá-los.
Saúde em Cuiabá não é diferente do restante de Mato Grosso. Caos é a melhor definição para ela. A capital além de atender seus 585 mil moradores é destino do turismo de saúde que despeja milhares de acidentados e doentes dos demais municípios em sua rede pública. A obra do novo pronto-socorro avança e Emanuel quer pressa na sua conclusão. Porém, seu modelo de funcionamento poderá sofrer alteração. O senador Wellington Fagundes (PR), seu aliado, quer transformá-lo em hospital e federalizá-lo. O novo prefeito precisará tomar pé da situação para ver qual caminho seguir.
O saneamento é um nó sem ponta. Emanuel entende que a CAB Cuiabá descumpriu cláusula do contrato de concessão da água e esgoto; fala em caducidade, mas prudente pede 90 dias de prazo para bater o martelo.
O alto índice de violência deixa a população refém do crime e seu combate é atribuição do estado, mas a prefeitura também precisa atuar em defesa do cidadão. Emanuel foi secretário municipal nessa área e sabe que a modernização dos pontos de ônibus de modo a identificar visualmente os passageiros e a detectar armas em seu poder contribui para a redução da criminalidade. O quê da questão é a falta de recursos para tanto.
A rede física das escolas municipais é precária. Emanuel é professor universitário e se diz apaixonado pela Educação. Sua meta é a ampliação e a reforma das unidades escolares.
O ano começa com o novo prefeito tendo pela frente um mandato de quatro anos, que ele promete cumprir até o fim. Os problemas saltam aos olhos e Emanuel promete enfrentá-los. Por sorte a taxa de crescimento é baixa – ficou em 25,97% nos últimos 10 anos, com média anual inferior a 3%. Vontade parece que não lhe falta e ele busca força na fé, “se Deus quiser conseguiremos”, resume enigmaticamente. Deus lhe ouça. Cuiabá tem que chegar com melhor qualidade de vida e boa infraestrutura em 8 de abril de 2019, data de seu tricentenário.
DIÁRIO – A adequação da prefeitura à realidade passa pelo facão?
EMANUEL – Passa pelo enxugamento de quadros; isso é inevitável se levarmos em conta que (a folha) ultrapassou o limite prudencial e toda política de pessoal, de recurso humano tem quer ser decidida com muito critério e deverá passar pela mesa do prefeito. Nesse primeiro momento tudo deverá passar pelo crivo e o autorizo do prefeito.
DIÁRIO – E o comprometimento de programas…
EMANUEL – Evito falar sobre isso enquanto não sentar na cadeira, até porque não quero perder certo foco nas melhorias diretas para a população e especialmente em infraestrutura e inevitavelmente teremos que cortar gastos e fazermos enxugamento nos cargos comissionados.
DIÁRIO – E o VLT…
EMANUEL – O VLT foi a grande bandeira da minha última legislatura de deputado estadual e inclusive coordenei a frente parlamentar para a retomada e conclusão de sua obra. Até agora, fui um árduo defensor do VLT não apenas como qualidade de vida das pessoas pelo aspecto do transporte coletivo, mas também como mote de desenvolvimento da nossa capital. Tudo aquilo que defendi me deixa feliz agora ao assumir a prefeitura ao ver que o governo contemplou aquilo que defendemos, inclusive na escolha do pessoal para a retomada do VLT, pessoal esse que indiquei quando deputado. Então, independentemente do autor da alternativa que vai viabilizar o VLT – espero! – o importante é que ele melhore a vida das pessoas.
DIÁRIO – A CAB parece problema sem fim…
EMANUEL – A CAB descumpriu uma cláusula contratual e patrocinou um retrocesso no avanço do saneamento básico em Cuiabá. Existem indícios de que recursos que deveriam ter sido investidos aqui foram desviados para outras unidades do grupo no país causando prejuízo muito grande à população cuiabana. Em virtude disso tenho compromisso com a população para cumprir uma cláusula contratual que me permite rescindir o contrato com a CAB, ou seja, decretar a caducidade do contrato. Entretanto, não obstante essa nossa proposta avalizada pela população o prefeito Mauro Mendes na legitimidade de seu mandato, construiu uma reengenharia para o sistema local da CAB. Eu quero prosseguir um estudo minucioso sobre esse processo para num prazo não superior a 90 dias, para que possa tomar uma decisão sobre o assunto.
DIÁRIO – Cuiabá não recebe grandes indústrias há muitos anos…
EMANUEL – Isso inclusive tem sido foco de minhas conversas com o ministro Blairo Maggi e o ex-ministro Neri Geler (ambos da Agricultura) desde que decidimos nomear o vereador Vinícius Hugueney (PP) secretário de Trabalho e Desenvolvimento Econômico. Quero focar na Cuiabá dos 300 anos, aonde nossa matriz econômica precisará ser aberta e devemos inverter a ordem dessa matriz. De que forma fazer isso? É Cuiabá puxar para si os louros do agronegócio. Nós somos chamados de Capital do Agronegócio. Aqui é a capital do estado, é a cidade mais importante, mas Cuiabá somente vê os benefícios do agronegócio em à margem do seu processo de desenvolvimento. Queremos inserir o agronegócio no contexto cuiabano e com isso atrair novas indústrias para que possamos escrever um novo processo econômico gerando emprego e renda.
DIÁRIO – A eleição em 2018 poderá leva-lo a interromper seu mandato?
EMANUEL – Não. Vou cumprir religiosa e rigorosamente os quatro anos do meu mandato; esse é meu compromisso com a população cuiabana.
DIÁRIO – Guerra ou paz na sua relação com o governador Pedro Taques?
EMANUEL – Minha relação com o governador é institucional, republicana, de respeito, de reciprocidade. É uma relação boa para Cuiabá. É aquilo que sempre digo nas minhas entrevistas: faço tudo por Cuiabá. Entendo que há divergências políticas, mas a eleição já passou, ficaram para trás a paixão e o processo eleitoral. Agora é pensar em Cuiabá.