Foi há cerca de 30 anos, por acaso, que Sergio Gugelmin, hoje aos 59, encontrou seu primeiro escafandro. Apaixonado por relíquias de todos os tipos, ele fazia uma busca em um ferro velho de Cuiabá quando descobriu este novo mundo. A partir daí, não parou mais. Nesta trajetória de colecionador, já chegou a ter 50 diferentes tipos, quase todos usados por garimpeiros de ouro e diamante em cidades de Mato Grosso. Hoje, guarda onze – além das bombas, roupas e pesos de chumbo, que completavam a ‘armadura’ dos mergulhadores.
O próprio Sergio já trabalhou com garimpo de diamante, mas nunca chegou a usar um escafandro. “Quem usava eram as pessoas menores… a roupa não cabe em mim”, explica. Segundo ele, todo o conhecimento que tem sobre a peça veio tanto desta época de trabalho, quanto com pesquisas, depois que se tornou colecionador.
Sérgio (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)
“O auge do garimpo em Mato Grosso foi na década de 30, na região de Cuiabá e do Araguaia. Teve muito escafandro. Então quando, na década de 50, 60, surgiram os aparelhos modernos, os garimpeiros abandonaram”, conta. “Ficava na família, jogado num canto, e a primeira coisa que a pessoa fazia era vender para o ferro velho, e ia para o desmanche”.
Foi nestes ferros velhos que ele encontrou suas preciosidades. Um escafandro de rio, hoje, chega a custar U$S 3 mil. O marítimo que ele já teve, vendeu por U$S7 mil, para um colecionador da Europa.
Funcionamento
Os escafandros eram peças muito caras, e pouca gente tinha acesso para comprá-las. “As pessoas compravam de São Paulo, o conjunto, e davam para os garimpeiros trabalharem a meio a meio”, explica Sergio. Neste trabalho, quem aceitava mergulhar levava 50% da produção, e o dono do equipamento, os outros 50%.
“Ele era montado em cima de duas canoas, com tábuas atravessadas”, explica. “No meio ficava um buraco, onde se coloca uma escada, e o garimpeiro descia com um saco de couro”. A roupa especifica ficava parafusada no escafandro, e dois pesos de chumbo eram encaixados no peito do mergulhador, para conseguir afundar. Além disso, levavam uma corda guia, com um ferro amarrado em cima, que era usado para cavar, e uma pá curta, usada para encher o saco de couro com o cascalho.
Encaixado no capacete ficava um cano e, em cima da canoa, uma bomba manual – era preciso duas pessoas para girá-la sem parar – mandava o ar para o mergulhador. Quando o saco já estava cheio de cascalho, o garimpeiro dava um toque com a mão, e os colegas de cima o içavam com ajuda de uma manivela – alguns, mais modernos, possuíam um sistema de telefone semelhante ao usado pelos militares na Segunda Guerra, com um alto falante dentro do capacete. Todo o processo poderia se repetir por horas.
Entrada dos cabos de telefone (Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto)
O equipamento chegava a pesar 50 quilos, fora a bomba de ar, que ficava na canoa. Sergio, inclusive, comprou duas em Goiânia e precisa ir buscá-las – já que se aguardasse o transporte, ficaria muito caro. Dos seus onze escafandros, apenas cinco estão em sua casa. “Os outros estão nas casas dos meus filhos, e um eu emprestei pra um amigo de Chapada colocar como enfeite na casa dele”.
Os outros que ele tinha, acabou vendendo. “De dez anos para cá eu parei de vender, porque não acho mais. Acho que eu comprei todos”, brinca. “Tem duas pessoas que eu sei que têm aqui em Cuiabá, mas não vendem de jeito nenhum. (…) Eles só têm uma peça que ficou do pai, do avô…”.
Uma das peças de Sérgio, inclusive, foi usada no filme ‘Caçada Sangrenta’, de Ozualdo Candeias, com o ator David Cardoso, em 1974. “No filme aparece ele mergulhando com escafandro no rio Cuiabá, perto da ponte”, conta.
Hoje, Sergio faz contato com diversos colecionadores em todo o mundo. “Tem um pessoal na Europa que dá curso para mergulhar com ‘búzio antigo’, como eles chamam. Já me convidaram, mas eu não tenho coragem de mergulhar com isso não”, finaliza.
Fonte: Olhar Direto/Conceito