Retirados de condomínio por risco de desabamento, moradores não sabem para onde ir

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Após notificação do risco de desabamento da Defesa Civil, moradores do Condomínio Terra Nova, no bairro 23 de Setembro, em Várzea Grande, estão deixando suas moradias após anos de trabalho que foram investidos para aquisição do sonho da casa própria. Na tarde desta sexta-feira (1º), está previsto para acontecer uma reunião entre a empresa responsável pela construção dos imóveis, Rodobens e os moradores afetados.

Moradora há cinco anos do condomínio, Elisângela Antunes fala com lágrimas nos olhos do sentimento de ter que deixar sua casa, onde mora com marido e filhos. “O que eu já chorei, não dá para falar. A gente luta para comprar. Agora tem que fazer tudo isso, sair da casa, ver o sentimento dos filhos. É muito ruim, é um sentimento de perda”, disse.

Moradores se preparavam para mudança. Foto: Olhar Direto

Elisângela contou que tomou conhecimento da situação há pouco tempo. “A gente ficou sabendo depois que alguns moradores vieram falar sobre o problema nas casas. A nossa não tem, mas fomos visualizando outras e indo mais a fundo no assunto. Tivemos acesso a fotos do muro, os laudos e realmente nos deparamos com o problema. As residências são geminadas. Se, por acaso, vir a ceder o muro, acredito que uma vai puxar a outra”, lamentou.

O gerente Pedro Carvalho mora no condomínio desde fevereiro de 2011. Conforme ele, as casas sempre tiveram pequenos defeitos, até que a situação se agravou. “Diferente do que foi publicado pela própria Rodobens, essa etapa não foi entregue em 2009, mas em 2011. Sempre houve pequenos ajustes a serem feitos nesta parte dos fundos, pequenas fissuras, rachaduras. A própria Rodobens disse que era normal, que seria resolvido. Com o passar do tempo, isso foi potencializando. Agora chegou em um ponto que não dá”.

A situação teria ficado mais evidente depois que algumas casas foram submetidas a uma reforma, inclusive a dele. “Vários vizinhos começaram a reforma e começou a aparecer bastante rachadura. O condomínio contratou uma perícia de uma engenharia, foi atestado que o solo é impróprio para esse tipo de obra. Tem esse laudo, foi atestado, é todo úmido por baixo e tem a questão do muro. Ele tem fissura e rachadura”, contou.

Diante da notificação para deixar a própria casa com a esposa e filhos, o gerente procurou respaldo na Justiça. “Entrei com um pedido de liminar para que eles paguem meu aluguel. Estou saindo com ajuda de amigos, minha família não é daqui, da minha esposa também não. Estamos saindo com a cara e coragem. Não resta outra alternativa”.

“Eu investi 12 anos de trabalho aqui, compramos a casa na planta, foi entregue em 2011. De lá para cá, a gente foi juntando e depois de tantos anos, paramos para fazer uma reforma para que fique confortável e acontece tudo isso”, lamentou.

Laudo

A notificação aconteceu na última quarta-feira (29). O prazo para desocupação estabelecido é de 48 horas. De acordo com um laudo técnico, as trincas e rachaduras que estão presentes na estrutura de contenção é ação de cargas que podem não ter sido previstas para o mesmo. Essas cargas estão fazendo que a contenção se desloque, assim abrindo vazios ao tardoz da contenção. Esse vazio e preenchido pelo solo existente. O preenchimento deste vazio faz com que o solo desça, podendo de forma geral, descalçar a estrutura.

Uma das casas que teve que ser desocupada. Foto: Olhar Direto

O problema ainda pode estar agravado de forma evolutiva, pois se realmente existir a linha de drenagem a fundo dos terrenos, com a movimentação do solo, a mesma pode ter sido rompida, descarregando água no solo, o que aumenta o empuxo do mesmo. Outro problema que agrava seria a falta de drenagem no tardoz da contenção, pois em período chuvoso a sobrecarga é maior.

Outro lado

A incorporadora e construtora RNI, responsável Condomínio Terra Nova, informou, por meio de nota, nesta sexta-feira (1º), que irá dar auxílio de acomodação às famílias que serão removidas de suas residências, após risco de desabamento constatado pela Defesa Civil.  A empresa disse que as ações acontecem em solidariedade aos moradores, enquanto são apuradas as causas dos danos na construção.

A RNI informou que enviará, na próxima segunda-feira (4), uma equipe especializada ao empreendimento para uma nova vistoria nas casas que apresentam trincas e fissuras. Esse trabalho será usado para dar suporte a análises técnicas.

Ainda conforme a nota enviada à imprensa, em julho, a construtora realizou voluntariamente vistoria no Terra Nova Várzea Grande para apurar possíveis causas aos danos relatados por moradores. Na época, contratou uma empresa de engenharia especializada para fazer uma análise com documentação fotográfica dos imóveis.

O laudo elaborado pela consultoria independente indicou que os danos foram ocasionados por movimentação do solo e envolvem as edificações construídas depois da entrega do residencial, em 2009. A companhia disse não tem conhecimento sobre os métodos e/ou processos adotados nas ampliações ou modificações realizadas após a implantação do condomínio.

Fonte: Olhar Direto