Por: Vicente Vuolo
O Texas é o segundo maior Estado e segundo mais populoso dos Estados Unidos. Um gigante em tamanho e economicamente. Sua economia diversificou-se nos últimos anos e atualmente, são as indústrias petrolífera e aeroespacial, bem como o setor financeiro, que possuem maior importância na economia do Texas.
Mesmo sendo um grande produtor de petróleo, que ajuda a movimentar a gigantesca frota norte-americana de veículos a diesel e a gasolina, os governantes não se esqueceram que o petróleo é finito e causam danos irreparáveis à saúde da população. Preocupados com a nova geração e com a questão ambiental, a cidade de Austin acaba de lançar um projeto revolucionário na área de mobilidade urbana. A capital do Texas aprovou 7 bilhões de dólares para a implantação do VLT na cidade.
A Austin City Council e a CAPMETRO (Agência de Transportes) aprovaram o Plano de Mobilidade denominado Project Connect que inclui a construção de um sistema de Veículo Leve sobre Trilhos. O investimento exigirá 55% em financiamento do município e o restante financiamento federal.
De acordo com o presidente da Capital Metro Board (CAPMETRO), Wade Cooper, “esses tempos desafiadores exigem que sejamos flexíveis, continuemos ponderando e buscando soluções ousadas para criar o sistema de transporte necessário para nossa região de rápido crescimento. Este é um plano verdadeiramente transformador que facilitará o tráfego e conectará melhor todos em nossa comunidade à empregos, à educação e à assistência médica”.
O VLT, que lá é chamado de LRT (Light Rail Transport) inclui a construção das linhas Laranja (conexão entre o North Lamar Transit Center e Stassney Lane), Azul (ligará o aeroporto ao centro de Austin), Verde (um serviço adicional de trem para conectar o centro da cidade a Colony Park) e a linha Ouro. O cenário planeja um túnel subterrâneo que separa o VLT do tráfego da rua e inclui a aquisição de frota elétrica de emissão zero de poluentes.
A capital do Texas, com cerca de 1,8 milhões de habitantes, é a quarta maior cidade do Estado do Texas, depois de Houston, Dallas e San Antonio. Foi eleita a segunda melhor cidade grande na lista de “Melhores Lugares Para Morar” da revista Money, dos Estados Unidos, e a “Cidade Mais Verde dos EUA” pela MSN (“Verde” referindo-se ao compromisso com a vida sustentável).
Austin é uma cidade universitária, sede da Universidade do Texas, onde fica o campus que abriga 50 mil alunos em cursos de graduação e pós-graduação. É a cidade mais progressista do Estado, foi a primeira a ter um programa de reciclagem, não permite o fumo em nenhum local público, tem um forte movimento do comércio e cultura local, chamado Keep Austin Weird (Mantenha Austin Estranha). Tem uma vocação artística e musical fortíssima além de ser um polo tecnológico com empresas de tecnologia como AMD, APPLE, IBM, DELL, FACEBOOK, BLIZZARD, dentre outras gigantes.
Até quando iremos ficar aplaudindo somente o que existe de bom lá fora? Os norte-americanos têm um ingrediente interessante em sua cultura. Eles se apropriam do que há de melhor no mundo. Em alguns casos só copiam. Isso é ruim. Mas, em outros casos, eles absorvem os valores, percebem que uma coisa é boa e a adaptam ou recriam para as suas condições. Querem o que existe de melhor no mundo. Por isso, atraem estudantes muito inteligentes, oferecem bolsas de estudo, incentivam suas universidades, tanto as públicas quanto as privadas, investem muito em cultura, em música, cinema, teatro e em artes. E tudo isso volta na forma de lucros e novos investimentos. Criam assim um círculo virtuoso de prosperidade. O Texas é um bom exemplo disso. De uma terra antes dominada pelo gado, hoje é um lugar diverso, múltiplo, com muita tecnologia e prosperidade.
Quando falo que não devemos olhar os outros países com admiração, quero realçar que também temos um pouco desse ingrediente criativo que move os norte-americanos. Só precisamos de um empurrão, de liderança. Temos gente capaz, criativa. Temos uma cultura forte e diversa. Mas que precisa ser incentivada, animada e valorizada. O Brasil possui música, culinária, inteligência acadêmica e uma juventude cheia de vontade. Mas nossas lideranças políticas parecem que perderam a vontade de arriscar, de olhar para o futuro. Precisamos resgatar isso, investir no que pode gerar esse circuito virtuoso de prosperidade que vimos ter sido feito no Texas.
O VLT é um exemplo. É algo palpável, mas também uma ideia. Sua conclusão é importante, mas não devemos parar aí. A proposta é usar o que de bom mexeu com nossa sociedade para a defesa da conclusão do VLT para ir mais adiante. Precisamos ter um plano de todos para o futuro. Tanto no que diz respeito à mobilidade, como nos aspectos diversos de tudo o que pode provocar mudanças boas em nossa sociedade, gerar empregos para a juventude, atrair investimentos, incentivar nossas universidades e empresas.
Isso é que eu chamo de aprender com o mundo.
VICENTE VUOLO É ECONOMISTA, CIENTISTA POLÍTICO E COORDENADOR DO MOVIMENTO PRÓ VLT