O advogado Felipe Nogueira, de 34 anos, ainda consolidava-se no ramo jurídico de Cuiabá quando a pandemia chegou e obrigou um número considerável de atividades econômicas a fechar as portas. Único provedor do lar, depois que a esposa engravidou e deu um tempo na profissão para se dedicar ao bebê, ele viu que montar o próprio negócio era a oportunidade de renda da família que veio de Primavera do Leste (231km da Capital).
“Foi nossa renda principal neste momento de crise. A gente sobreviveu e sobreviveu bem. Com a misericórdia de Deus a gente prosperou no meio da crise, com o hambúrguer gourmet”, conta o dono do “Burguer do Prédio” no Edifício Arboretto, na região central de Cuiabá. O empreendimento começou na sacada do apartamento da mãe dele e teve tanto “sucesso” que há um mês mudaram para o condomínio de duas torres e 144 apartamentos.
Demanda mais que suficiente para a hamburgueria, que conquistou e fidelizou uma clientela exclusiva no prédio com o serviço de atendimento domiciliar. Sem falar na experiência na preparação de lanches que Felipe já trazia e a garantia de qualidade do produto cuja linha de produção, mesmo os molhos e geleias que compõem o burguer, é toda preparada por ele seguindo todos os protocolos de biossegurança.
Felipe faz parte dos 23% de brasileiros, que impulsionados pela crise econômica provocada pelo novo coronavírus nos últimos seis meses, se tornaram empreendedores iniciais, conforme o Monitor Global de Empreendedorismo (GEM). Esse número deve se aproximar de 25% até o final deste ano, segundo estimativa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Em Mato Grosso, a Junta Comercial do Estado (Jucemat) recebeu de abril até setembro a inscrição de 31.531 novos empreendimentos no Estado ante 29.218 cadastrados no mesmo período do ano passado. Foram abertos, assim, 1.549 novos negócios. Isso sem considerar aqueles informais. O levantamento inclui tanto as grandes empresas como os microempreendedores individuais, MEI.
Ainda, de acordo com a Jucemat, os segmentos que mais registraram os novos cadastros neste ano de 2020 são Serviços (18.729), Comércio (9.366), Indústria (2.659) e outros como Agropecuária, Produção Florestal, Pesca e Aqüicultura (777). Apesar de números tão animadores, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indica que a taxa de desemprego no Estado vai ultrapassar de 10,5%.
O momento econômico adverso afetou muitos trabalhadores, como a secretária Maurileide da Silva Soares, de 40 anos, que teve o contrato de trabalho rescindido em meio ao isolamento social. Com uma filha de 4 anos, um neto de 2 e sem poder trabalhar fora por conta da pandemia e das crianças, ela amadureceu o antigo desejo de ser artesã e passou a fazer laços, toucas, tiaras, faixas, turbantes, entre outras peças que apreende pelo Youtube.
Maurileide lembra que mal sabia costurar, mas tão logo recebeu a rescisão não pensou duas vezes e já tratou de comprar uma máquina overlock e outra de bordar, ambas usadas. Até então, ela confeccionava algumas peças apenas para presentear a filha, sobrinhos e filhos de amigos. Hoje também faz roupinhas de bebês, kits cozinha, bonecas de pano e bonecos articulados.
“Meu trabalho é lindo e tem uma característica minha que é a alegria, amo peças coloridas”, revela a artesã que já planeja aprimorar o conhecimento com novos cursos e tem a esperança de um dia expor e até vender em feiras.
Fonte: Repórter MT