Candidato a prefeito de Cuiabá Abílio Junior (Podemos), afirmou durante sabatina no Conselho Regional de Corretores de Imóveis de Mato Grosso (Creci-MT), na noite desta segunda-feira (23), que as reformas feitas pelo ex-secretário de Serviços Urbanos, José Roberto Stopa (PV), nas praças 8 de Abril e no Porto foram “criminosas”.
Stopa é candidato a vice-prefeito na chapa de Emanuel Pinheiro (MDB), que tenta a reeleição.
Abílio só comprovou o que O Bom da Notícia, vem denunciando a meses. De acordo com o candidato, Stopa destruiu a escultura “Árvore de Todos os Povos”, do artista plástico Wlademir Dias-Pino, que ficava na praça do Choppão.
Ele ainda citou a retirada do coreto, em uma reforma da Praça Luis de Albuquerque. Esta obra foi feita na gestão do ex-prefeito e atual governador Mauro Mendes (DEM), que atualmente apoia Abílio.
“Fizeram um crime com o patrimônio material e imaterial da escultura do Choppão […] Na praça do Porto tinha um coreto, se foi, foi desmanchado. Já era. Virou poesia. E a mesma coisa aconteceu com a Árvore da Vida. Acabou […] Eu como arquiteto urbanista lamento a queda da casa de Bem Bem, lamento deixar cair a gráfica do Pepe, a destruição do centro histórico. Lamento muito todas as áreas do nossa cidade que são destruídas e colocado outro símbolo no lugar […] Essa política de apagar a história dos outros para colocar a sua história… Colocaram um cano de PVC com água embaixo de uma pedra. Aquilo ali não é arte, é vandalismo. Em uma cidade com políticos justos, aquele prefeito teria sido preso por vandalismo”, afirmou Abílio.
“Vou tentar salvar o mínimo possível do que foi destruído. O Stopa é um criminoso pelo que fez na nossa cidade. Foi o Stopa na gestão de outro prefeito que rancou o coreto do Porto. Foi o Stopa na gestão deste prefeito que destruiu a Praça Oito de Abril”, completou.
Árvore de Todos os Povos
Assessoria
Por mais de três meses a reportagem do O Bom da Notícia buscava notícias sobre o paradeiro da escultura. Com bastante descontinuidade nas informações, primeiro soube-se por meio Secretaria de Serviços Urbanos, no final do ano passado, que a pasta responsável pela revitalização da Praça, teria recolhido a peça para restauração e que ela [‘Árvore de Todos os Povos’] estaria guardada e em segurança.
‘E que foram tomados todos os cuidados necessários para que a retirada não causasse nenhum dano ao material’.
E ainda que a obra – após a restauração -, poderia voltar ao seu lugar de origem ou ser realocada em outra praça do município. Um mês mais tarde, em janeiro de 2020, após mais protestos dos artistas cuiabanos, o secretário de Cultura, Francisco Vuolo, se viu obrigado a dar uma resposta quanto a possível omissão pública às obras de arte. Assim, Vuolo garantiu que a escultura seria recolocada e o painel seria pintado novamente por Adir Sodré.
Recentemente, a informação é que a escultura estaria guardada na Secretaria de Segurança Urbana depois de ter sido substituída por uma fonte coberta de pássaros, apelidada por ‘Pirulito de Pedra’ ou ‘Geringonça’. Após obras de revitalização realizada a um custo de R$ 400 mil, segundo a Prefeitura de Cuiabá.
Revitalização que causou a ‘catastrófica’ perda de obras magníficas de dois artistas que, infelizmente, já faleceram. Uma coberta por uma tinta verde[Adir Sodré] e a escultura de Dias-Pino substituída por ‘uma Geringonça’. Tirando as características culturais do espaço.
Perdas culturais
Wlademir Dias-Pino é um dos poetas mais consagrados do Brasil e tem suas obras admiradas no país e internacionalmente. Ainda que tenha nascido no Rio de Janeiro, mudou-se para Cuiabá ainda criança em 1936. Em agosto de 2018, ele morreu no Rio de Janeiro, aos 91 anos, em decorrência de uma pneumonia.
Sua busca por uma poesia que pudesse ser entendida e assimilada universalmente tem início com o intensivismo. É do movimento que nasce o livro, A AVE. Concebida em 1948, A AVE só é lançada oficialmente em 1.956. Todos os 300 exemplares foram feitos à mão por Wlademir, e sua forma revolucionária o consagraria como o precursor da poesia visual. A AVE trata-se de um livro com transparências, perfurações e gráficos, que podiam ser interpostos pelo leitor para criar novos sentidos. É o primeiro livro-poema de que se tem registro na história da arte. Uma visualidade radical que confirma o vanguardismo da sua concepção artística.
A remoção de sua obra vem causando protestos ininterruptos pelas redes sociais, por artistas e apoiadores do processo criativo. E ainda pelo aplicativo WhastApp, nos mais diversos grupos, desde de jornalistas até de escritores e artistas.
Já Adir Sodré de Souza nasceu em Rondonópolis, mas passou quase toda a vida em Cuiabá. Suas pinturas tinham uma temática social, sempre com caráter irreverente. Em trabalhos quue percebia-se referências de importantes pintores como o francês Henri Matisse, assim cheio de cores puras, com elementos em que o erotismo sempre estavam presente, como em Falos e Flores (1986) ou Orgia das Frutas (1987). Tendo participado de várias mostras – individuais e coletivas -, em Mato Grosso e mundo afora.
Centro jogado ‘às traças’
Prefeitura de Cuiabá abandona obra da Praça da República e local se torna “lixão”. Pela quinta vez este ano, O Bom da Notícia esteve na praça, também conhecida como Largo da Matriz, no Centro Histórico de Cuiabá, para conferir de perto o abandono.
Com tamanha importância histórica para Cuiabá, a Praça da República, chama atenção pelo abandono e sujeira que amarga nos últimos meses. Desde que a obra de reforma começou, no ano passado [2019], a situação do local só piora e quem passa por ali se impressiona com o estado em que se encontra.
A grama, que já não é mais verde, está cheia de papel, plásticos e muitas folhas secas. Grande parte do piso português se soltou e pedaços de concretos estão espalhados pelo passeio público. Nesse contraste, há também entulho de obras espalhado por todo canto da praça.
Quem passa diariamente pela praça percebe um amontoado de pedras e materiais de construção espalhados por todo lado. Há pelo menos um ano a obra de revitalização da praça não sai do lugar. O piso português da área central foi retirado e amontoado, não há isolamento e sinalização nessa parte, que é irregular. E ainda com estacas, o que oferece riscos para quem transita pela praça. Enfim, para comerciantes e a população, a imagem que se tem do local é de descaso.
Inaugurada em 1922, a situação da praça que fica em frente à Catedral Metropolitana Basílica do Senhor Bom Jesus, é apenas um dos problemas apontados por quem frequenta ou trabalha na área histórica que aponta que há mais de 14 anos não há investimentos em melhorias significativas na região.
A obra – que já andava em passos lentos – foi interrompida, em dezembro do ano passado, devido à falta de autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Até hoje (24 de novembro), mesmo com a autorização do Iphan, a obra ainda não havia sido retomada. A Prefeitura de Cuiabá foi procurada e até o momento não respondeu os e-mails enviados, o espaço segue em aberto.
As informações são do Site O Bom da Notícia