Quinze dias após o término do segundo turno das eleições, em Cuiabá, a advogada Gisela Simona (Pros), que ficou em terceiro lugar, no primeiro turno das eleições, na disputa pela Prefeitura de Cuiabá, assevera que a vitória apertada no dia 29 de novembro, garantida pelo prefeito emedebista, Emanuel Pinheiro, que buscou a reeleição pelo comando do Palácio Alencastro, deixou claro que a população cuiabana não estaria satisfeita com os políticos que lhe foram apresentados no segundo round da corrida eleitoral na capital, quando mais de 90 mil eleitores optaram em não ir às urnas.
Sobretudo, que a alta aprovação da gestão de Pinheiro, de acordo com as últimas pesquisas de intenções de votos, na época do pleito, tão propagada pelo gestor cuiabano, não foi compartilhada com o mesmo entusiasmo pela população. Ao assegurar uma vitória acirradíssima à Pinheiro, com um pouco mais de seis mil votos. Entrando para a história como o pleito mais apertado desde 2004, na capital, com o emedebista recebendo 135.871 votos (51,15% dos válidos), contra 129.777 (48,85% dos válidos) de seu oponente, Abílio Junior (Podemos).
Para Gisela, a pequena diferença entre Pinheiro e Abílio – a quem a advogada oficializou apoio, no segundo turno -, mandou um recado claro ao prefeito reeleito, que além da atipicidade da eleição por conta da pandemia da Covid-19, sua vitória mostrou uma cidade bastante dividida.
“Isso foi importante no sentido de que o gestor reeleito saiba que não foi aprovado 100% nas urnas. Sobretudo, mostrando a necessidade de que ocorram mudanças de vários tipos e em inúmeras áreas de atuação do poder público em Cuiabá”.
Neste diagnóstico minucioso do pleito na capital, Gisela ainda apontou, em conversa com o site O Bom da Notícia, que ainda é necessário levar em consideração que além da pequena diferença entre o prefeito emedebista e Abílio Junior, nas urnas, ela se lembra que no dia da eleição pode ser observado toda a estrutura da máquina municipal trabalhando em favor da reeleição de Pinheiro.
“No dia da eleição vimos a estrutura, toda máquina municipal sendo usada, não só pelos servidores contratados da Prefeitura de Cuiabá que foram induzidos, à ideia, que se Pinheiro não fosse reeleito, eles perderiam seus empregos. Depois a contratação de fiscais foi algo absurda. Enquanto nós tínhamos uma, duas pessoas em cada colégio eleitoral, do outro lado, víamos 20 até 40 pessoas realizando esta fiscalização. Então, isso, por si só, assegurou desequilíbrio e revelou que o poder econômico pode fazer, sim, diferença, no resultado final das eleições”.
Gisela fez questão ainda de apontar a contratação de especialistas em inteligência artificial, no uso dos bots(robôs), para a realização de disparos em massa nas redes e no Whatsapp, com mensagens que tinham a clara intenção de desinformar e confundir o eleitor, desvelando ‘até onde pode chegar o jogo eleitoral’, quando ele deixa de lado valores e parte para o ‘vale tudo’.
“Foram usados vários expedientes ilegais neste pleito, pelos coordenadores de campanha do prefeito Emanuel Pinheiro. Desde os fake News, criando uma verdadeira batalha de ações na Justiça, além dos disparos em massa com os robôs, para poder confundir o eleitor, para poder deixa-lo em dúvida sobre a idoneidade do adversário. Ficando público e notório a utilização de quaisquer tipos de expedientes. Com situações tão escrachadas, que chegaram até mesmo a encomendar um falso padrasto para Abílio, em um depoimento cruel, onde um senhor supostamente dizia que era vítima de agressões do candidato do Podemos. Situações baixas que foram espalhadas aos quatros cantos da cidade, na utilização de recursos ilegais, mostrando que não só Mato Grosso, mas o Brasil precisa se atentar contra este tipo de jogo sujo, para que possamos nos prevenir, no futuro, contra esse tipo de ferramenta usada de uma forma tão absurda nas campanha eleitorais”.
Mas se ao realizar um diagnóstico de como foi o segundo turno das eleições, na capital, Gisela mostrou as ‘sujeiras jogadas debaixo do tapete’, pelo comando estratégico de Pinheiro, a advogada, contudo, não poupou, igualmente, Abílio Junior, a quem deu apoio, na segunda rodada eleitoral.
Sob sua análise, o candidato do Podemos começou a construir a sua derrota quando confundiu donos de veículos de comunicação, com os jornalistas que atuam neles. Dando a estes últimos a responsabilidade pelos ataques que vinha recebendo de alguns deles.
Para ela, na reta final, com o acirramento da campanha, quando foi travada uma batalha ‘de quase vida e morte entre os adversários’, Abílio pecou, enormemente, ao abrir um confronto direto com a imprensa.
“Na verdade, Abílio pecou. Pecou por generalizar. Nós sabemos que existem excelentes profissionais atuando na imprensa. E que o fato de trabalharem em um veículo A ou B, não significava que o jornalismo não estaria sendo independente e, nem tampouco, que não fosse sério. É importante ter esse respeito e nunca generalizar. Algo que eu levo sempre na minha vida: nós não podemos generalizar. E quando ele, de alguma forma, generalizou, acabou atraindo toda a fúria da imprensa contra ele. Em específico, no último debate promovido pela TV Vila Real [Gazeta], que foi um debate muito sangrento, sem propostas ou discussões propositivas. Então, acho que aquele momento foi um divisor de águas e que, claro, gerou um resultado negativo para Abílio’.
Ressaltando, que se tivesse que apontar dois fatores que resultaram no crescimento e na fragilização da imagem de Abílio, um deles, a queda, sem dúvida, foi a antipatia que Abílio angariou para ele, da imprensa, ao criar embates desnecessários na reta final da campanha.
Já o outro, diz Gisela, pesou à favor de Abílio, como o seu jeito combativo. Que o tornou de vereador cassado e reconduzido à Câmara de Vereadores à candidato. Mas do que isto, um parlamentar municipal que entrou numa corrida eleitoral com oito nomes na disputa pelo comando da Prefeitura de Cuiabá e foi para um segundo turno, em primeiro lugar, com 90.631[33.72% dos votos válidos] contra o prefeito Emanuel Pinheiro que buscava a reeleição e que obteve 82.367[30.65% dos votos válidos], tendo a máquina nas mãos.
“No primeiro momento destas eleições, existia um comportamento do candidato do Podemos que as pessoas já conheciam e gostavam, por conta de seu jeito combativo, e pelo seu discurso anticorrupção, que fez total diferença. Mas aos olhos da população, aquela combatividade seria mais adequada à um vereador. No Executivo, as urnas, mesmo apertada, mostraram que a sociedade optou por alguém que encarnasse uma imagem mais equilibrada, mesmo que tivesse uma série de dúvidas quanto a transparência da atual gestão. E isto acirrou ainda mais quanto vieram os ataques contra a imprensa”.
Assim, para Gisela, o recado das urnas, ao final, para Abílio Junior e seu vice, Felipe Wellaton (Cidadania), é que a sociedade queria, sim, combater a corrupção. Contudo, exigia, que fosse representada sem grandes rupturas e, principalmente, longe do imediatismo. Alguém com uma postura mais conservadora no sentido de que aquilo que o outro fez e que foi bom deveria ser mantido.
“A sociedade mostrou seu medo de rupturas violentas, principalmente, naquelas coisas que ela acredita que funcionaram. Isto ficou bastante claro. Ou seja, não é o fato de ser oposição que tudo que foi feito, de repente, tenha ficado ruim. E, nem tampouco, o fato de ser oposição desvalida todo o resto feito pelo outro. Revelando, de forma subliminar, que a análise se pautou pela pluralidade social, ao apontar, nas urnas, somente uma pequena vantagem ao ganhador. Contudo, esta vantagem revelou que a sociedade queria ser respeitada nesta pluralidade”.
Já para Emanuel, Gisela recomenda que ele tenha aprendido a escutar as vozes das ruas, ‘aprendido que o eleitor mostrou durante todas as reuniões eleitorais, seu sentimento pela mudança’.
“Particularmente, os mais pobres. Que vivem distante dos discursos políticos. Que só querem, na prática, sua rua asfaltada. Que querem poder ter iluminação pública do lado de fora de sua casa, e em seu bairro. Querem ter seu sonho realizado do ônibus passando na sua porta, de poder marcar uma consulta e ser atendido. São angústias que parecem tão básicas, mas tão necessárias e que mudam, literalmente, a vida daquelas pessoas que vivenciam isto diariamente. Pessoas na maioria das vezes invisíveis para aqueles que vivem no poder. Foram estas pessoas que queriam muito uma mudança. Mas nesta queda de braço eleitoral, muitas coisas contaram a favor e contra os dois candidatos, mas venceu aquele que, no finalzinho, ao visto, para a sociedade, errou menos. Pelo menos, aparentemente”.
Fonte: O Bom da Notícia