Um relatório sobre a taxa de mortalidade em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Regional de Sinop, no norte do estado, aponta que, desde outubro, todos os pacientes com Covid-19 internados na unidade morreram. De acordo com os dados, desde o início da pandemia a mortalidade no Regional de Sinop é excessivamente alta, se comparada com a dos outros outros hospitais do estado. O levantamento é do Observatório Social de Mato Grosso.
Ainda segundo o documento, o observatório recebeu diversas denúncias feitas por médicos e servidores das UTIs sobre falha nas condições de trabalho, incluindo falta de equipamentos básicos para o enfrentamento à pandemia.
O Observatório Social já vinha acompanhando os contratos de gerenciamento de UTI firmados pelo governo estadual há mais de um ano, o que permitiu uma melhor análise.
Segundo a organização, as falhas no gerenciamento das UTIs vem acontecendo desde 2019 e se intensificou com a pandemia. Os dados analisados foram obtidos diretamente com o estado e cruzados com informações do Ministério da Saúde.
Os gráficos apresentados no documento mostram que, no Hospital Regional de Sinop, a partir de outubro, a taxa de cura em pacientes com coronavírus caiu para 0 e a mortalidade foi para 100%.
Gráfico mostra taxa de mortalidade nas UTIs para Covid-19 de Sinop — Foto: Observatório Social de MT
Já nos outros hospitais de Mato Grosso, no mesmo período, a taxa de mortalidade dos pacientes internados com Covid-19 nas UTIs ficou entre 70% e 80% e taxa de cura variou entre 20% e 30%.
O observatório informou também que o secretário estadual de Saúde foi alertado sobre o problema nas UTIs em setembro de 2019, e novamente questionado em ação judicial para anular licitação com a empresa que administra os leitos, em junho de 2020.
A instituição questiona os contratos.Na análise dos processos de pagamento, segundo o observatório, foi possível constatar algumas falhas, como:
– UTI em funcionamento sem registro de responsabilidade técnica no CRM;
– Médicos sem qualificação técnica adequada, isto é, sem especialidade em medicina intensiva registrada no CRM, e sem o mínimo de três cursos dentre os 27 oferecidos pela Associação de Médica Intesiva Brasileira (Amib), em desconformidade com a legislação;
– Realização de plantões seguidos. Além de não possuirem qualificação técnica mínima para atuação em UTIs, vislumbrou-se em diversas ocasiões plantões médicos de 60 horas ou mais, até 120 horas;
– Falta de insumos e equipamentos mínimos necessários para o funcionamento da UTI;
– Alta taxa de mortalidade nas UTIs de tratamento de pacientes acometidos pela Covid-19;
– Um outro problema citado é que o pagamento é sempre integral, calculado em função da quantidade de dias no mês vezes o número de leitos contratados.
“Essa forma de pagamento não comporta o gerenciamento de leitos de UTI vagos, isto é, leitos não utilizados. Dessa forma, a contratada é premiada por recusar pacientes, já que seus custos diminuem e a remuneração permanece a mesma”, diz outro trecho do estudo.
Na ocasião o Observatório emitiu uma notificação extrajudicial ao governador recomendando que a SES gerisse diretamente todas as UTIs em hospitais regionais, sob pena de representação às autoridades para responsabilização criminal pelas mortes que ocorressem por falta de assistência de médico intensivista, falta de medicamentos e de equipamentos que tais empresas deixem de fornecer.
O observatório apontou também que, dos três médicos atuantes na unidade, nenhum era especialista em medicina intensiva.
“Então notificamos o governador pedindo que incluísse um médico intensivista altamente qualificado e voluntário do Observatório nessa comissão. No dia 13 de janeiro recebemos a resposta recusando a ajuda tendo em vista que a comissão já está em andamento”, afirma outro trecho.
Ainda segundo o observatório, não há resposta dos motivos da alta mortalidade, já que a comissão aberta para apurar a denúncia apresentada não produziu relatório.
“Também solicitamos que seja incluído no Boletim Epidemiológico do estado os indicadores de mortalidade nas clínicas e UTIs do estado, para que o cidadão tenha o direito de buscar os hospitais com maior sobrevivência”, diz a instituição.
Fonte: Muvuca Popular