Em meio à tentativa de encontrar um treinador, após ter demitido Alberto Valentim no sábado, o vice-presidente do Cuiabá, Cristiano Dresch, tem mais uma dor de cabeça.
Em ação que corre na 1ª Vara Trabalhista de Cuiabá, o zagueiro Luiz Gustavo afirma ter sido ameaçado e assediado moralmente pelo dirigente. Ele cobra R$ 2,5 milhões do clube, valores referentes a verbas trabalhistas e outras obrigações.
A ameaça que teria sido feita pelo dirigente está gravada, e o áudio foi anexado ao processo (assista ao vídeo abaixo). De acordo com a ação, no último dia 21, por intermédio de um funcionário do clube, o atleta conversou por telefone com o dirigente.
O motivo da ligação seria a recusa de acordo entre o atleta e o departamento de Recursos Humanos do clube. Luiz Gustavo, que já defendeu o Vasco, não teve seu contrato continuado após lesão e foi desligado do Cuiabá.
O Cuiabá, via assessoria de imprensa, confirmou que o vice-presidente do clube teve uma “conversa ríspida” com o atleta, mas afirma que “jamais teve a intenção de ameaçá-lo ou assediá-lo e justifica sua atitude como um ato isolado de defesa à honra da instituição”.
No áudio, que dura pouco mais de dois minutos, Cristiano Dresch chama Luiz Gustavo de “jogadorzinho de merda”, “seu quebrado”, “seu bosta”, “vagabundo” e ainda diz: “eu sei onde você mora”, “você tá na minha terra”, “abre essa boca sua de novo aí pra cê ver, seu vagabundo”.
Ouça:
Os trechos acima foram retirados da íntegra da conversa que foi anexada aos autos da ação. De acordo com o processo, neste dia, por precaução, Luiz Gustavo decidiu dormir num hotel numa cidade próxima a Cuiabá e no dia seguinte voltou para São Paulo.
Antes de deixar a cidade, após o diálogo com Cristiano Dresch, o jogador registrou a ameaça na 1ª Delegacia de Polícia Civil de Cuiabá, conforme documentos anexados aos autos do processo.
Luiz Gustavo registra ameaça que afirma ter sofrido por parte de Cristiano Dresch — Foto: Reprodução
Luiz Gustavo chegou ao Cuiabá em 2019, depois de encerrar vínculo com o Vasco. Assinou com o clube mato-grossense em setembro de 2019, com contrato válido por quatro meses. Três meses depois, no entanto, ele sofreu uma lesão, em jogo contra o Luverdense, e precisou ser operado no joelho esquerdo.
Durante o período de recuperação, Luiz Gustavo passou a receber pelo INSS, com rendimento que caiu para cerca de 10% do que recebia antes. Os advogados do atleta afirmam no processo que o Cuiabá descumpriu a lei ao não manter o vínculo com o jogador, com o retorno das suas atividades no clube, encerrado o período de vigência do afastamento pelo INSS. Eles também questionam o fato de o Cuiabá não ter seguro por acidente de trabalho, conforme determina a Lei Pelé (9.615/98).
Destaca-se que as incertezas sobre seu futuro, a diminuição de sua renda bruscamente justo no momento em que mais precisava (acidentado), somados aos abalos psicológicos sofridos com o acidente de trabalho, desencadearam avançado nível de stress. O Reclamante procurou ajuda de um psicólogo, que descreveu em seu Laudo Psicológico que o Reclamante está com Transtorno de Ansiedade, desencadeado por elevado nível de Stress em decorrência do ambiente de trabalho”, escreveram na ação os advogados do atleta.
De acordo com o processo, após cinco notificações extrajudiciais enviadas pelos representantes do atleta, o clube ofereceu um acordo de indenização, no valor de R$ 400 mil, mas a quantia não foi aceita.
“A respeito do atleta Luiz Gustavo, o Cuiabá Esporte Clube e o vice-presidente Cristiano Dresch vêm a público esclarecer os seguintes pontos:
1)Desde o início do seu contrato, o atleta Luiz Gustavo cometeu diversos atos de indisciplina e teve pelo menos três discussões acaloradas com funcionários, membros da comissão técnica e diretoria do clube;
2)Um dos episódio de violência e insubordinação ocorreu em 25.01.21. Após tentar levar documentos de seu prontuário que deveriam permanecer no clube, o jogador quis rasgar o exame periódico, tentou tirar o laudo à força da mão da médica Lívia Borges de Souza, xingou a profissional e saiu chutando a porta da sala. Após ser contido pelo então supervisor Daniel Freitas, falou em tom de ameaça ao superior: “se você quiser me ver mais bravo do que estou, não chega perto de mim”; tanto a médica como o ex-supervisor do clube estão à disposição do Grupo Globo para corroborar os fatos descritos;
3)A conduta antiprofissional e inadequada do atleta pode ser ratificada também por vários de seus ex-companheiros e ex-superiores no clube e resultou em multa por infração disciplinar, conforme documento anexo;
4) Após ver seu clube chamado inúmeras vezes pelo jogador de “time de merda” e “time pequeno”, depois de 12 anos de sacrifício para conquistar uma vaga na elite do futebol brasileiro, Cristiano Dresch confirma que teve uma conversa ríspida com Luiz Gustavo. O dirigente, no entanto, afirma que jamais teve a intenção de ameaçá-lo ou assediá-lo e justifica sua atitude como um ato isolado de defesa à honra da instituição. Pouco antes da discussão, Luiz Gustavo havia reclamado na sala de fisioterapia, na presença de 12 pessoas, que havia “muita gente falsa” no clube e incitou seus companheiros a não seguirem os protocolos médicos;
5)Sobre a ação na Justiça, o Cuiabá reitera que quitou todas as suas obrigações contratuais, como é praxe desde sua fundação, e que rebaterá todas as acusações na Justiça”
A assessoria enviou, também, a cópia de uma multa que o atleta teria levado, no valor de R$ 500, por se recusar a tirar os brincos durante as sessões de fisioterapia.
Multa do Cuiabá ao jogador Luiz Gustavo por não retirar brincos durante sessão de fisioterapia — Foto: Reprodução
“1. A agremiação tenta desviar o foco do seu descumprimento das normas legais. Mesmo que o Luiz tivesse cometido os supostos atos e insubordinação, isso não seria motivo para as ameaças proferidas pelo VP do clube (Eu sei aonde você mora, você está na minha terra) e muito menos os xingamentos e tentativa de desqualificação do atleta.
2. Se houve algum ato de violência ou insubordinação, porque o clube JAMAIS advertiu por escrito o atleta e jamais suspendeu seu contrato de trabalho? Ora, a CLT é bem clara ao tratar sobre a matéria: se há ato considerado como falta grave, deve a empresa advertir por escrito ou dar suspensão. E isso jamais ocorreu, pois o Luiz jamais cometeu tais atos.
3. Luiz Gustavo tem mais de 10 anos de carreira, atuando por clubes como Palmeiras, Avaí, Vasco, Guarani e Vitória, deixando sempre grandes amigos e sempre respeitando seus colegas de trabalho. O atleta é querido por todos os lugares onde passou, sendo conhecido por ser atleta calmo, tranquilo e respeitador.
4. Luiz Gustavo jamais desqualificou o Cuiaba, e muito menos proferiu as palavras que a falaciosa nota do Cuiabá menciona. A afirmação da suposta conversa ríspida é risível, vez que na gravação se ouve apenas uma parte agredindo a outra, apenas Dresc ameaçando o Luiz Gustavo, xingando-o e tentando desqualificá-lo.
5. A tentativa de imputar falsos atos ao Luiz Gustavo é medida desesperada de quem o ameaçou sem nenhum motivo. Lembrando que o Código Penal (artigo 138) diz que comete criem quem Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Calúnia
- Art. 138 – Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
- Pena – detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
6. Por fim, desde Janeiro de 2021 o Luiz Gustavo não recebe suas verbas do clube, que também se negou a prorrogar seu contrato de trabalho em virtude da estabilidade provisória, mesmo após 5 notificações extrajudiciais.”