O arquivamento do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Paletó – que investigou o prefeito de Cuiabá Emanuel Pinheiro (MDB) por recebimento de propina e suposta obstrução de Justiça – conhecida como CPI do Paletó, não pegou ninguém de surpresa nesta quinta-feira (18).
O arquivamento do relatório, que pedia o afastamento do prefeito, ocorre quase três anos após a CPI ser instalada pela primeira vez, em novembro de 2017.
Entre os 13 vereadores que votaram contra a instalação da comissão processante para cassação e o afastamento de Emanuel por 180 dias, o vereador Adevair Cabral (PTB) chamou a atenção ao comparar o prefeito com ‘Cristo’. “Mesmo que a pessoa é bandida temos que respeitar. Querem crucificar o prefeito […] A população que vai julgar. Se Emanuel cometeu crimes”.
Já o vereador Renivaldo Nascimento (PSDB) classificou o prefeito como o melhor gestor que a capital já teve.
“Não quero registrar na minha história como sendo o vereador que atirou pedras. Ninguém está defendendo, mas é um fato. Emanuel tem que prestar contas à Justiça. Ele é o melhor prefeito da capital, sem dúvida, e isso não é imaginação”, defendeu Nascimento, afirmando que a CPI teve um caráter “político eleitoreiro”.
Na mesma linha de defesa, Justino Malheiros (PV) garantiu que não compactua com corrupção, mas “não posso condenar uma pessoa que sequer foi indiciada. Qual o crime que o prefeito fez? É aquela imagem, quantas pessoas foram condenadas? Isto é um jogo político, saiu do viés jurídico”, opinou Malheiros.
Para os nove vereadores favoráveis à instalação da comissão processante, a resposta para o arquivamento do relatório da CPI do Paletó na Câmara será dada pelo eleitor nas urnas. O presidente da comissão, Marcelo Bussiki (DEM), ressaltou que a Câmara atropelou o processo para proteger Emanuel Pinheiro.
“Cada um procura a desculpa que lhe convém. Mas hoje vai ser um marco. Emanuel não se justificou, o irmão dele (Marco Pólo Pinheiro) que seria o dono do dinheiro não veio depor, fugiu da CPI. O vídeo mostra o prefeito derrubando o dinheiro e ainda assim tem quem o defende? A população vai julgar nas urnas”, afirmou Bussiki, ressaltando que pretende recorrer contra o arquivamento do relatório.
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O vereador Abílio Júnior, que chegou a ter o mandato cassado em abril deste ano por quebra de decoro parlamentar, mas comprovou irregularidades no processo na Câmara, apontou a incoerência dos que não admitem que o vídeo comprova a corrupção. “É um absurdo. Esta sessão hoje foi vergonhosa”.
Votaram pelo arquivamento do relatório da CPI do Paletó os vereadores: Adevair Cabral (PTB), Juca do Guaraná Filho (MDB), Renivaldo Nascimento (PSDB), Chico 2000 (PL), Orivaldo da Farmácia (Progressistas), Mário Nadaf (PV), Justino Malheiros (PV), Marcrean Santos (Progressistas), Luis Cláudio (Progressistas), Adilson Levante (PSB), Dr Xavier (PTC),Toninho de Souza (PSDB) e Aluízio Leite (PV).
Votaram pela instalação da comissão os vereadores: Felipe Wellaton (Cidadania), Abílio Júnior (Podemos), Diego Guimarães (Cidadania), Clebinho Borges (PSD), Marcelo Bussiki (DEM), Dilemário Alencar (Podemos), Sargento Joelson (SDD), Lilo Pinheiro (PDT) e Wilson Kero Kero (Podemos). Misael Galvão (PTB), como presidente da Mesa Diretora, não votou.
O vereador Vinicius Hungney (SDD) não participou da sessão e os vereadores Marcos Veloso (PV) e Ricardo Saad (PSDB) estão afastados em tratamento da covid-19.
Entenda o caso
A CPI nasceu após viralizar nas redes um vídeo do prefeito, na época deputado estadual, sendo flagrado, recebendo maços de dinheiro, em forma de propina, do ex-chefe de gabinete do ex-governador Silval Barbosa, Silvio Correa. O prefeito emedebista também foi formalmente citado pelo ex-governador Silval Barbosa – em sua delação premiada e ainda na época da CPI -, de estar entre os deputados que recebiam ‘mensalinho’, como forma de não investigar os desvios milionários, comandados pelo chefe do Executivo estadual, que eram realizados nas obras da Copa em 2014.
A Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o prefeito emedebista foi criada na Casa de Leis no final de 2017, sob o comando do vereador Marcelo Bussiki(PSB) que continua a presidi-la. Ela volta mais uma vez à Câmara em um processo de judicialização, depois que o vereador progressista Diego Guimarães entrou com um mandado de segurança no Jucidiciário mato-grossense e ter seu pedido deferido pelo juiz João Thiago de França Guerra, da 4ª Vara Especializada da Fazenda Pública de Cuiabá.
O parlamentar progressista ingressou com a ação judicial em 2018, alegando que os vereadores da base do prefeito, Mario Nadaf (PV), membro da CPI, e Adevair Cabral (PSDB), relator, teriam realizado uma manobra para beneficiar Pinheiro e implodir a investigação. E foi atendido em seu mandado no dia 23 de agosto de 2019.
A nova composição foi nomeada pelo presidente da Câmara, Misael Galvão (PSB). Os novos membros escolhidos foram os vereadores Toninho de Souza (PSD) e Sargento Joelson (PSC), relator e membro da CPI, respectivamente.
A suspensão da CPI na Casa de Leis foi deferida, aliás, pela mesma desembargadora, Maria Helena Bezerra Ramos, que, em outubro de 2019 deyerminou sua suspensão ao aceitar as justificativas de Misael Galvão, presidente do parlamento. Agora a magistrada, ao rever o próprio posicionamento, acatou o argumento do vereador Diego Guimarães, determinando sua volta à Câmara.
Fonte: O Bom da Notícia