Atenção: golpes das pirâmides financeiras com bitcoins e dólares circulam em MT

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Mais um golpe para arrancar dinheiro de pessoas desavisadas chegou em Mato Grosso e circula por várias cidades do Estado. Trata-se de esquemas de pirâmides financeiras, cujos envolvidos alegam ser um “tipo de investimento financeiro que rende por dia” exigindo que os “investidores” desembolsem valores em reais para ingressar, mas que têm como foco principal transações em bitcoins (criptomoedas – dinheiro virtual) e até dólares.

O site Folhamax conversou com uma moradora de Sorriso (420 Km de Cuiabá) que foi convidada a participar da empresa “FX Trading Corporation” e recusou a proposta tida por muitos como “tentadora” e outra que mora em Chapada dos Guimarães (67 Km da Capital) e participa da “Unick Forex” há três meses junto com uma amiga. Juntas, elas já investiram R$ 3 mil e ainda não recuperaram todos os valores. Os nomes das “investidoras” serão preservados.

Uma rápida pesquisa na internet já aponta links de matérias em diferentes sites de notícias informando que a “Unick Forex” nada mais é do que uma pirâmide que foi, inclusive, listada como fraude pelo Badbitcoin.org, site especializado em pirâmides financeiras. Já existem, inclusive, ações contra ela tramitando na Justiça do Rio de Janeiro. A “Unick Forex” está proibida de oferecer investimentos no Brasil desde março de 2018, porém sites especializados no tema mostram que ela segue captando clientes.

De acordo com o Badbitcoin, pirâmide financeira é qualquer esquema que paga juros aos “investidores” vindos de novos membros. Ressalta ainda que todo esquema entra em colapso em algum momento deixando a maioria dos participantes sem dinheiro.

A moradora de Chapada dos Guimarães, que é contadora e também atua como professora, ainda não está totalmente convicta se fez ou não um bom negócio. Mas também não se mostra arrependida pelo investimento já feito juntamente com a amiga que é pecuarista.

Elas foram convencidas por um amigo em comum, morador de Várzea Grande. Foi ele quem colocou elas no “negócio”, agilizou a abertura de contas para ambas e providenciou os boletos para depositarem os primeiros valores. Ou seja, os investimentos iniciais. Dos R$ 3 mil já depositados, elas pegaram de volta, através de saques, apenas R$ 1.089 até o momento. Porém, existe outro saque de R$ 1 mil programado para depois do dia 26 deste mês.

“Já investimos mais de R$ 3 mil e mudamos de plano. Agora passamos para o executivo e quando a gente recuperar o valor que investimos vamos parar e ficar recebendo nosso lucro. Já fizemos um saque de R$ 389 que era para ser de R$ 420, mas descontaram um imposto. Depois recebemos mais R$ 700 e após o dia 26 vamos receber mais de R$ 1 mil”, relata a mulher de 42 anos.

Ela explica que depois do saque programado para o final deste mês será preciso aguardar mais 30 dias para solicitar uma nova retirada, cujo valor ela ainda não sabe qual será. Para quem entra, existe uma tabela com diferentes planos. O inicial exige um investimento de R$ 99. Nesse caso, a pessoa receberá apenas R$ 33 depois de 30 dias.

Apesar de já terem investido mais de R$ 3 mil, ambas não sabem direito qual é a metodologia utilizada e muito menos quem são os responsáveis. Também não sabem dizer se existe alguma sede da empresa e nem se operam com dólares e bitcoins. “Só sei que a gente recebe em dinheiro normal, em reais”, diz a contadora ao explicar que para ingressar no “negócio” é preciso abrir uma conta no site da “Unick Forex”.

Depois tem que cadastrar uma senha para entrar num link gerado onde constam opções como consulta dos rendimentos diários, datas para solicitação de saques e outros detalhes. Também é preciso informar uma conta em banco para receber os valores dos saques que são solicitados através da conta virtual. “A gente cadastra uma conta bancária e o dinheiro cai direto na conta da gente”, explica  a “investidora” que pagou em uma lotéria o primeiro boleto gerado pelo site para fazer parte do “negócio de investimentos”.

CONVENCIMENTO NO BOCA A BOCA E INCERTEZAS 

“Um colega comentou com a minha amiga que estava num negócio muito bom e ela se interessou e comentou comigo. No começo eu fiquei desconfiada achando que fosse pirâmide igual a Telexfree, mas ela disse que não era. Então a gente aceitou participar e o amigo dela, morador de Várzea Grande, providenciou tudo”, revela.

O homem em questão utiliza o que diz ser sua “história bem sucedida” para convencer outras pessoas a entrarem no negócio de investimentos. “O cara que indicou para nós já colocou um monte de gente. Ele era artesão e agora só mexe com isso. A renda dele só vem disso”, diz ela convicta ao reproduzir parte do discurso do homem que as convenceu a fazer parte da “Unick Forex”.

“Ainda não estou totalmente convencida. Ainda tenho desconfiança e por isso não coloco tanto dinheiro lá. Mas tem muita gente que entrou de cabeça nisso. Eu não, investi pequenos valores. Acho que é preciso esperar pelo menos uns dois anos. A gente ainda não tirou todo o capital e, portanto, ainda não estamos tendo lucros”, observa a moradora de Chapada dos Guimarães.

FX TRADING 

A “FX Trading” também opera ilegalmente no Brasil, pois não tem registro no mercado Forex (Foreign Exchange), conforme consta em nota publicada no dia 20 de maio deste ano no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O comunicado alerta o mercado de valores mobiliários e o público em geral sobre a atuação irregular da empresa por não possuir autorização para captar clientes residentes no Brasil, já que a oferta destes serviços depende de registro junto à CVM.

De acordo com o ato declaratório CVM 17.142, emitido pela área técnica, a empresa oferece serviços de intermediação de valores mobiliários e efetua a captação irregular de clientes brasileiros para a realização de operações no denominado mercado Forex, que envolvem negociações com pares de moedas estrangeiras, revelando a existência de instrumentos financeiros por meio dos quais são transacionadas taxas de câmbio.

A autarquia determinou a imediata suspensão de veiculação de qualquer oferta de serviços no Brasil com previsão de multa caso ela seja flagrada captando clientes e oferecendo os serviços que dizia realizar.

DIVULGAÇÃO EM GRUPOS DE WHATSAPP

Porém, FOLHAMAX constatou que a divulgação continua em grupos de WhatsApp onde existem dezenas de pessoas de várias partes do Brasil. Em um deles, denominado “FX a Melhor Poupança”, criado no dia 13 deste mês por um morador de Sorriso, constam telefones com os prefixos de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia, Rio Grande do Norte, Piauí, Pará e Espírito Santo. A maioria dos integrantes do grupo é do município de Sorriso que utiliza o prefixo 66. Mas também existem vários telefones com prefixo 65.

São duas as formas de entrar no grupo de WhatsApp. Por meio de links com convites ou através dos administradores (o criador do grupo e sua esposa) que inserem os números.

A cada novo membro, o administrador pergunta se tem interesse em investir, chama a pessoa no privado e envia uma espécie de cartilha com algumas informações e detalhes de cada um dos planos. Ele também orienta como abrir a conta, confirma que as transações são realizadas em dólares e bitcoins e repassa o link para fazer o cadastro e a conta virtual.

“É um sistema em que você pode só investir ou formar rede de pessoas. Se você for só investir vai ter dar um rendimento de 1% a 2.5% ao dia. Mas se você conseguir formar rede ai seu ganho é outro. Passa para 6% do investimento feito por pessoa indicada e se formar binário ganha mais 8%”, diz ele que continua a repassar as explicações, basicamente as mesmas contidas no folder em PDF enviado aos interessados. “E você que conseguiu fazer 1000 pontos começa a ganhar mais 2% em cima do investimento de cada um de sua rede”, explica.

Sobre os procedimentos para os iniciantes, ele também orienta: “Você vai ter ter que abrir uma conta no mercado betcoin e comprar bitcoin e transferir para a FX. Assim que chegar na FX ele torna em dólar. Começa com 100 dólares que vai dar R$ 500 reais que tem umas taxas”, acrescenta.

Com a moradora de Sorriso, uma dona de casa e autônoma de 29 anos, foi exatamente assim que aconteceu. Um conhecido a inseriu no grupo de WhatsApp, mas ao tomar conhecimento do que se tratava e ver as explicações, ela saiu do grupo.

“Me adicionaram num grupo chamado FX e diziam que era um investimento em dólar. Tinha que comprar R$ 500 em bitcoins para entrar e depois era convertido em dólares”.

Questionada sobre a forma como recebeu o convite ela detalha: “Eles pegam o número da gente em outros grupos. Falaram que era uma nova plataforma de investimentos muito rentável. Mandaram um monte de links para mostrar como funcionava, mas eu não abri nenhum. Algumas pessoas perguntavam como funcionava, como fazia entrar e ele chamava para conversas no privado. Várias pessoas foram saindo e eu também vazei de lá”, relata ela que não acredita na promessa de investimentos com ganhos fáceis.

Fonte: Folhamax