Baía seca prejudicando pequenos produtores e deixando animais sem fonte de água

Fonte:

A Baía do Recreio, a primeira a ser vista quando se chega em Barão de Melgaço, a 120 quilômetros de Cuiabá, no pantanal mato-grossense, está praticamente seca. O filete de água que resta não atende as necessidades dos pequenos produtores de hortaliças, tampouco a criação de animais. Isto não acontecia há mais de 50 anos, desde 1968, quando teria secado pela primeira vez.

Proprietário de uma área de terras à margem da baía, o aposentado Dorival Gonçalves de Queiroz, 78 anos, se recorda do que aconteceu em 1968.

Ele conta que a represa secou e permaneceu seca por cerca de 10 anos. Quando voltou a encher permitiu a exploração das áreas para produção não só de hortaliças.

Além de arroz, batata doce, mandioca e banana, se extraia da área iscas vivas que geraam renda e movimentavam a pesca turística na região.

Dorival conta que herdou as terras do pai, Antônio José de Queiroz. Já o pai dele adquiriu a área em 1958 com o objetivo de plantar e criar animais.

Pela estimativa de Dorival Queiroz, essa seca está prejudicando diretamente cerca de 40 produtores.

Conforme Dorival, nas últimas quatro décadas a baia se manteve piscosa. Dela era possível fisgar, em grande quantidade, diferentes espécies de peixes.

Ele garante que da Baía Recreio saiam peixes de até 30 quilos. Peixes que alimentavam famílias e ajudavam na renda de produtores e pescados.

Hoje, somente as aves que se alimentam de pequenos peixes podem ser vistas na baía. Entre as quais estão o Tuiuiú, Colhereiro e a Garça. Essas, fazendo revoadas, ainda podem ser vistas explorando o lago.

Relator da Comissão de Meio Ambiente na Câmara Municipal, o vereador Adauto Luís da Silva diz que a seca da Baía Recreio e de outras de grande importância para o Estado, como a Chacororé. Acorizal e Siá Mariana, estão entre os temas em debate no legislativo.

Adauto Silva explica que a Câmara enviou ofício à Assembleia Legislativa pedindo ajuda nas discussões, definição e viabilização de medidas para proteção ambiental e produção de renda.

Pescador profissional desde a adolescência, Adauto lembra que está na função de vereador, porém sua principal atividade é a pesca, assim como a de pelo menos 1.500 pescadores da região.

A grande maioria desses profissionais, lembra o vereador, está sem renda em pleno período de pesca. “Com a escassez de peixe ninguém está conseguindo pescar para garantir renda, sem para sobreviver”, alerta ele.

Isso significa que o que acontecia somente no período da Piracema, quando a pesca ficava proibida para permitir a reprodução dos peixes, está ocorrendo na alta temporada da pesca.

“Barão de Melgaço precisa de ajuda, não de ser apontada ou responsabilizada por práticas criminosas”, reclama Adauto, explicando que nos últimos anos a atuação dos órgãos de proteção e fiscalização ambiental vem se limitando a acusar os pescadores e a comunidade.

Fonte: Diário de Cuiabá