Muitos dos pacientes que pegaram a Covid-19, mesmo aqueles que nunca chegaram a passar perto de um hospital, reclamam de sequelas que duram semanas ou até meses para passar, mesmo depois de se curarem da infecção. Após quase um ano e meio de pandemia no Brasil, pesquisadores e profissionais da saúde já percebem que os infectados pelo coronavírus também são impactados a longo prazo. Esta condição tem sido chamada de vários nomes como “Síndrome Pós-Covid” ou “Covid Longa”.
De acordo com a epidemiologista, virologista e professora da Unemat em Tangará da Serra, doutora Ana Cláudia Pereira Terças Trettel, não se pode afirmar que nesses casos o paciente ainda está doente com a Covid-19. “O vírus não está ativo. Após o período de infecção, ele está causando efeitos no organismo, que está se recuperando de todo aquele feito para vencê-lo. Ficam alguns déficits e pode ser visto como uma sequela provisória”, explica.
Um estudo preliminar do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FM-USP), que monitora aspectos de vida de 882 pacientes que tiveram a forma grave da Covid-19 e estiveram internados na unidade, aponta que 89,3% tiveram sintomas persistentes como cansaço, dores pelo corpo e falta de ar. Os sintomas são múltiplos, conforme estudos diversos – conheça alguns
Uma revisão de artigos científicos feito por pesquisadores dos Estados Unidos, México e Suécia e publicado em um período da Universidade de Yale (EUA) levantou mais de 50 sintomas que podem afetar pacientes em um longo prazo. Entre as queixas mais presentes dessa “Covid Longa”, está a fadiga. A virologista Ana explica que esses impactos podem ocorrer independentemente do grau que o paciente teve a infecção.
Outros sintomas envolvem falta de ar, dores de cabeça, dores no corpo e musculares, trombose, problemas vasculares, tontura, perda de olfato e paladar, dificuldade no raciocínio, memória e linguagem e até perda de cabelo, inclusive com a raiz.
Segundo Ana Cláudia, algumas dessas situações podem durar por bastante tempo, como a de pacientes que reclamam que não sentem o gosto ou cheiro de comida há vários meses. Nos casos de trombose, provocada pelo entupimento de veias e artérias, a virologista explica que o paciente pode desenvolvê-la caso não tenha feito o tratamento no período adequado. “O corpo continua com essa disfunção”.
Arquivo pessoal
Epidemiologista e Virologista Ana Cláudia Pereira Terças Trettel ressalta que a pessoa não está mais com a doença, entretanto segue com os efeitos dela
Com um pós-doutorado em andamento sobre a saúde mental de pacientes que tiveram a Covid-19, Ana Cláudia chama a atenção para casos de ansiedade e depressão. Os estudos da USP indicaram que, dos 882 pacientes monitorados, 28% apresentaram quadros de ansiedade e 22% de depressão. Artigos publicados em periódicos internacionais, como o de Yale e a revista Nature, também corroboram esse impacto e chamam a atenção para outras doenças psiquiátricas como insônia e até paranóia.
“Há muitos relatos. O paciente fica por um tempo processando a limitação que vivenciou, seja em um isolamento comum ou numa hospitalização. E podem se tornar crônicas, se não forem tratadas na época correta”, comenta Ana.
Quando é o momento de buscar ajuda?
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A virologista e epidemiologista explica que, caso alguns desses sintomas fiquem exacerbados, é recomendo buscar ajuda médica. O objetivo é começar um tratamento, nem sempre a base de remédios, para evitar que o problema se torne crônico.
A orientação da profissional é buscar um clínico geral – tanto pela rede pública quanto pela particular – para fazer uma avaliação geral e indicar o encaminhamento para um especialista, caso necessário.
A recomendação da virologista é procurar ajuda médica depois do primeiro mês de terminada a doença, que costuma se encerrar após duas semanas ao início da infecção. O mesmo vale para aqueles que venham sentir sintomas de doenças mentais, como insônia, doença e depressão. “Procure um profissional da área mental”, reforça.
Por estar associada a uma doença anterior, Ana explica que não há necessidade de buscar de profissionais ou clínicas especializadas. “Alguns sintomas serão tratados como as infecções que eram antes”, pontua a virologista fazendo referência aos sintomas de dor de cabeça, constipação, alteração cardíaca e entre outros.
Contudo, para alguns casos, estão sim surgindo tratamentos específicos. “Para cada sintoma vai ter o manejo adequado e o profissional de saúde, que é especialista da área, vai saber orientar os caminhos e estratégicos a tomar”.
Esperança
A virologista Ana tranquiliza a população e diz que nenhuma dessas complicações durarão para a vida toda. “Nenhuma dessas manifestações clínicas são eternas. O paciente vai levando algumas semanas e meses para ir recuperando cada um dessas situações desfavoráveis. Não vai ser do dia para a noite. Cada um vai demorar um tempo para restabelecer de tudo o que ele viveu e de toda agressão que o vírus causou no organismo”, disse.
Ela ressalta que é importante, durante a recuperação, se levar um estilo de vida mais saudável, se alimentar melhor, sair do sedentarismo e diminuir o consumo de álcool.
Fonte: RD News