Escola em Cuiabá ensinava mulheres a serem boas donas de casa

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A Escola Doméstica Dona Júlia foi criada pela professora Maria Dimpina Duarte e durou apenas seis anos

Há exatos 75 anos, surgia em Cuiabá a Escola Doméstica Dona Júlia, que preparava mulheres para serem boas donas de casa. No local, que funcionava no número 32 da Rua Pedro Celestino, no Centro Histórico, elas aprendiam trabalhos manuais, consertos de roupas usadas, ordem e economia doméstica, culinária e higiene de alimentação.

A escola só existiu graças ao esforço de Maria Dimpina Lobo Duarte, uma das mais importantes figuras da história cuiabana, que morreu em 1966 aos 75 anos.

Na escola, as mulheres também aprenderiam história, educação moral e cívica e português, todas disciplinas lecionadas pela própria Maria Dimpina. A professora foi a primeira diretora da instituição e ficou no cargo durante quatro anos, deixando a função por conta de problemas de saúde.

A escola funcionava no número 32 da Rua Pedro Celestino, no Centro Histórico da Capital.

De acordo com a mestranda Gabrielle Moura da Silva, que desenvolve uma pesquisa de mestrado em Educação na UFMT sobre a Escola Doméstica Dona Júlia, sob orientação da professora doutora em Educação, Nilce Vieira Campos Ferreira, a unidade surgiu através de mulheres de famílias tradicionais de Cuiabá.

Sócias do Grêmio Literário Júlia Lopes de Almeida também participaram do processo de criação. No entanto, Maria Dimpina planejou praticamente todas as especificidades da escola.

“Coletando e catalogando as fontes documentais relacionadas à EDDJ, identificamos que Maria Dimpina estava à frente de várias atividades relacionadas à instituição. Ao longo da pesquisa foi perceptível que Dimpina não só participou do planejamento, da organização para a criação da Escola Doméstica Dona Júlia, como também foi a primeira diretora da instituição”.

Ao MidiaNews, as pesquisadoras explicaram que, 20 anos antes da inauguração, já havia discussões sobre a demanda de uma escola de ensino doméstico em Cuiabá.

“Essas intenções foram publicadas pela Revista A Violeta. As sócias do Grêmio Literário Júlia Lopes de Almeida, grêmio que fundou a revista ‘A Violeta’ e do qual Dimpina fazia parte. A história da escola se entrelaça com a história da trajetória de Maria Dimpina. Essa história foi narrada pela revista ‘A Violeta’, que publicou várias notícias sobre a unidade”.

Foi através da revista A Violeta que Gabriella e Nilce encontraram informações sobre a preocupação de Maria Dimpina com a formação das mulheres cuiabanas. A Escola Doméstica Dona Júlia visava formar mulheres que acompanhassem as transformações da sociedade.

“Mas sem que elas se desprendessem da ‘missão’ na família, como mãe, esposa, filha e dona de casa. Para além disso, a escola também buscou formar a mão de obra doméstica, pois a própria Dimpina mencionou, em várias notícias publicadas na revista A Violeta, que faltavam mulheres qualificadas para trabalhos domésticos em Cuiabá”.

Seis anos de funcionamento

Gabriella relatou que, durante os estudos sobre a Escola Doméstica Dona Júlia, foi possível perceber que a instituição não teve vida longa no Centro Histórico da Capital. Indícios apontam que ela funcionou aproximadamente durante seis anos.

Um dos motivos que ajudam a explicar a derrocada do ensino doméstico é o período de mudanças e modernização que as mulheres cuiabanas vivenciavam à época, ainda que de modo restrito.

“Ainda que de modo restrito, as mulheres começaram a ocupar outros espaços que não o doméstico. Buscavam trabalhos em repartições, espaços públicos e sociais. A vida feminina começou a tomar outros rumos e as mulheres buscaram outras profissões em busca de autonomia. A escola que tinha como objetivos a formação voltada para a vida doméstica, tornou-se desinteressante sem uma perspectiva de oferta de formação profissional mais ampliada”.

A inauguração da instituição foi marcada por um fita que, ao ser cortada pelo Interventor Federal do estado de Mato Grosso, Júlio Strübing Müller, dava acesso à cozinha.

O interventor, em seu discurso, mencionou que “a cozinha deve ser o salão de honra da mulher”, conforme publicado por Dimpina na revista A Violeta.

As pesquisadoras ressaltaram que é importante trazer para o centro das discussões estudos como o da Escola Doméstica Dona Júlia, principalmente, para registro da história das mulheres, que até hoje é invisibilizada.

“É possível analisar como era pensada a formação e a perspectiva de vida para mulheres, que, de alguma forma, ainda influenciam relações entre homens e mulheres na sociedade atual. Enfim, tratamos de pesquisar a história de mulheres para trazer uma compreensão de uma sociedade na qual homens e mulheres possam atuar em igualdade ou de forma mais equânime. Na qual direitos e deveres sejam divididos igualmente”.

Com informações do Site MidiaNews