A segunda obra de mobilidade urbana mais cara da Copa do Mundo de 2014, o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) de Cuiabá, já consumiu mais de R$ 1 bilhão dos cofres públicos e ainda não chegou nem na metade. A obra, cujo valor inicial estimado pelas autoridades de Mato Grosso era de R$ 700 milhões, teve seu orçamento revisto inúmeras vezes pelos responsáveis pela empreitada. Nesta semana, o governador de Mato Grosso, Pedro Taques (PSDB), anunciou o mais novo empecilho para a conclusão dos trabalhos, atualmente prevista para 2018, ano da Copa do Mundo da Rússia: o Estado não tem mais dinheiro para colocar no trem.
De acordo com Taques, ainda faltam R$ 600 milhões para terminar o projeto. O Estado de Mato Grosso, porém, não tem mais de onde tirar recursos para concluir o sistema de 23 quilômetros do VLT de Cuiabá, afirma o governador. A solução? Requerer mais dinheiro ao governo federal, que já emprestou – via Caixa Econômica Federal – R$ 453 milhões para o projeto. “Eu não tenho esses 600 milhões para terminar essa obra. Então eu tenho que buscar na União”, resumiu Pedro Taques.
Na última segunda-feira, o governador de Mato Grosso foi a Brasília e se reuniu com o ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB). O próprio governo estadual divulgou seu principal objetivo no encontro: defender a “necessidade de a União reservar em seus cofres o valor de R$ 600 milhões para finalizar as obras do VLT, que deveriam ter sido concluídas antes da Copa do Mundo de 2014, mas que estão paralisada há 18 meses, alvo de contestações por parte do Governo do Estado e do consórcio construtor.”
Ainda segundo o governo mato-grossense, o ministro Bruno Araújo disse que a reunião foi importante para compreender a gravidade do problema apresentado pelo governador Pedro Taques. “Ele enfatizou que o Ministério das Cidades vai apoiar em tudo que for necessário”, informa o governo estadual. Procurado pelo UOL Esporte, o Ministério das Cidades não comentou a reunião. Assim, ainda não é possível saber se haverá dinheiro para concluir a segunda obra mais cara da Copa do Mundo de 2014.
“Euforia do momento”
O deputado estadual mato-grossense Romoaldo Junior (PMDB) era o líder do governo na Assembleia Legislativa em junho de 2011, quando a Casa aprovou a construção do VLT. A obra foi incluída no plano de mobilidade urbana da cidade para a Copa do Mundo de 2014, contrariando a opinião unânime de técnicos em engenharia, que eram favoráveis à construção de um sistema de corredores de ônibus na cidade, por metade do preço da obra que foi por fim escolhida.
O atual governo estadual contratou uma auditoria diante das evidências de irregularidades e superfaturamento existentes em seu contrato e execução. A obra tem denúncia de direcionamento na licitação, pagamento de propina de R$ 80 milhões, má execução técnica e a compra inútil de 56 vagões de trem que não terão utilidade no sistema.
Diante de tal quadro, deputado Romoaldo, explicou à sociedade, no final do ano passado, o que fez com que ele e seus pares aprovassem a construção do sistema, mesmo com aviso dos técnicos sobre a dificuldade de êxito na obra: foi “a euforia do momento”.
“Na euforia da Copa do Mundo, o VLT parecia ser a melhor opção. Naquele momento, pareceu o melhor investimento, o mais moderno. A Assembleia errou? Se errou, foi tentando acertar”, disse o deputado, em entrevista coletiva na Assembleia Legislativa.
E a história do trem bilionário não tem data para acabar. No início desta semana, o secretário da Casa Civil de Mato Grosso, Paulo Taques, avisou que, com ou sem dinheiro da União, a obra não fica pronta até o fim do mandato de Pedro Taques. “Todo o VLT não deve ficar pronto até o fim da gestão. O que quero dizer com isso? O governador Pedro Taques está fazendo com que o próximo governador não receba, dele, o que nós recebemos da gestão passada. Vai receber uma obra não 100% pronta, mas vai receber uma obra com todo o planejamento feito.”