História de Cuiabá II

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Já no século 18 o teatro se havia tornado um poderoso instrumento do desenvolvimento cultural de Cuiabá. Enquanto em todas as demais Capitanias do Brasil, somadas, foram realizadas cerca de 50 apresentações teatrais, em Mato Grosso – que a essa época se limitava a Cuiabá e Vila Bela – foram encenadas 80 peças:

Do término da Guerra (1870) à revolução de 1930, num período de 60 anos, portanto, surgiram em Cuiabá, circularam, desapareceram muitos e continuaram circulando outros, mais de 100 órgãos de imprensa (relacionados em meu livro “História da Cultura Mato-grossense), fato inédito que bem revela o alto nível cultural da Capital.

Em 1867, em meio as atribulações do sangrento conflito com o Paraguai, fundou-se em Cuiabá uma “Sociedade Teatral” que por muito tempo divertiu a elite local. De então até 1921 mais 15 associações culturais foram fundadas, sendo as duas últimas o Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e a Academia Mato-grossense de Letras.

Prestigiosas instituições de ensino, que se tornaram famosas pelos serviços prestados à causa da cultura no Estado e pelos grandes homens – que formaram, floresceram em Cuiabá: antes da Guerra da Tríplice Aliança o Seminário da Conceição; em 1880 o “Liceu Cuiabano”, em 1894 o “Liceu Salesiano São Gonçalo”; em 1910 a “Escola de Aprendizagem Artífices”, hoje “Escola Técnica Federal”; em 1911 a “Escola Normal Pedro Celestino”.

Quando em 1936 o escritor MONTEIRO LOBATO visitou Cuiabá, admirou-se ele do nível cultural da cidade e escreveu: “A elite de Cuiabá é muito fina. Cuida bastante da educação. Abundam homens de linda cultura, até filosófica”.

A 15 de Outubro de 1939 era instalada na Capital a primeira emissora de rádio, a “Rádio A Voz do Oeste”. Hoje a cidade é servida por seis estações de radiodifusão, sendo uma de frequência modulada.

EXPLOSÃO POPULACIONAL

O crescimento da população brasileira, que se acentuou cada vez mais a partir da década de 50, gerando a completa ocupação dos espaços territoriais das regiões sudeste e sul do país, deflagrou o processo do deslocamento da fronteira econômica para Mato Grosso.

Cruzando o rio Paraná as migrações se precipitaram sobre o grande Estado do Oeste, começando pelo seu extremo sul e logo atingiram o norte, desbravando lhe as florestas virgens. Cuiabá, que era até então apenas a “boca de sertão” de uma pequena área, circunscrita à bacia do rio que tem o seu norte do Estado, alargando sua esfera de influência até Rondônia, Acre e Amazonas, dos quais se tornou ponto de apoio.

E aí começou o seu explosivo crescimento populacional que atinge um absoluto “recorde” nacional.

NOVAS CONQUISTAS CULTURAIS

Novas conquistas se registraram, no campo cultural; em 1969 foi inaugurado o primeiro canal de televisão na Capital, – a TV Centro-América -, que depois recebeu outro: o canal 8, TV Brasil Oeste.

Em 1954 foi instalada a Faculdade de Direito de Mato Grosso, primeira escola de nível superior, e em 1970 a cidade ganhou a sua Universidade Federal criada pela Lei nº 5.647, em cujo campus estudam atualmente 11.000 alunos.

GRANDES HOMENS

Tendo se tornado um centro de cultura, seria natural que Cuiabá desse ao Brasil muitos filhos ilustres, que se projetaram no cenário nacional nos mais diversos campos: Manoel Peixoto Corsino do Amarante, Coronel do Exército, Professor da Escola Militar e preceptor dos filhos de Dom Pedro II; CANDIDO MARIANO DA SILVA RONDON, o Marechal “civilizador dos sertões”, figura de projeção internacional; EURICO GASPAR DUTRA, Ministro e Presidente da República; JOAQUIM MURTINHO, Ministro da Fazenda no Governo Campos Sales, considerado, na Primeira República, como o “salvador das finanças nacionais”; ROBERTO CAMPOS e ANISIO BOTELHO, Ministros da República; DOM FRANCISCO DE AZEREDO, por muitos anos Vice-Presidente e Presidente do Senado Federal; FILINTO MULLER, Presidente do Congresso Nacional; ALYRIO HUGUENEY DE MATTOS, Diretor do Observatório Nacional; CLOVIS CORRÊA DA COSTA, mestre de medicina; JOSÉ VENÂNCIO PEREIRA LEITE, médico, cientista, considerado pelos norte-americanos a maior autoridade latino-americana em fisiologia, e muitos outros.

Na área militar os cuiabanos também brilharam, a começar do Marechal ANTONIO MARIA COELHO, herói da retomada de Corumbá; o General JOÃO TARCISIO BUENO, a figura mais condecorada da II Guerra Mundial, o herói maior de Monte Castelo, única figura estrangeira condecorada com a “Cruz de Lorena” da França; o Cel. IPORAN NUNES DE OLIVEIRA, herói da tomada de Montesí; os Generais VAZ CURVO, PLINIO PITALUGA, GERVASIO PINTO DESCHAMPS, o cel. JOFRE BORGES SALIÉS e muitos outros que participaram da luta na península italiana.

No setor interno ilustres cuiabanos se destacaram nos comando do Exército Nacional, entre eles os Generais DILERMANDO GOMES MONTEIRO, JOAQUIM JUSTINO ALVES BASTOS. FREDERICO AUGUSTO RONDON, ESTEVÃO ALVES CORRÊA FILHO, SAMUEL ALVES CORRÊA, este recentemente Embaixador do Brasil do Iraque.

CONCLUSÃO

Com um aeroporto que é dos mais movimentados do país, onde segundo estatísticas oficiais, de 4 em 4 minutos pousa ou decola uma aeronave (entre grandes e pequenas); com um Terminal Rodoviário que é um dos cartões de visita da cidade, pelo qual transitam diariamente quase 10.000 pessoas; com um estádio que é dos mais elogiados do Brasil pelos “cracks” das grandes equipes do Rio e de São Paulo que nele atuam nos certames nacionais; com suas 56 Agências bancárias (na “Grande Cuiabá”); com seus requintados bairros residenciais de alto gabarito; com seus belos – Clubes sociais, a Capital mato-grossense vai de marcha batida para o seu futuro imprevisível.

Na expectativa de atingir a um milhão de habitantes ainda neste final de século, e empolgada por uma febre de construções só comparável à das mais progressistas Capitais do país, é a cidade que se dá ao luxo de construir três hotéis cinco estrelas ao mesmo tempo, neste ano da graça de 1986.

É a Cuiabá de hoje!

EDUARDO PÓVOAS é odontólogo em Cuiabá