Desde 2013, faltava um mirante no Parque Mãe Bonifácia, que naquele ano ficou sem aquele ponto contemplativo acima da copa das árvores.
Agora não falta mais. E com uma vantagem: conta com um elevador para oito passageiros.
Na terça-feira (23), o Governo o Estado recebe a obra de um mirante com 15 metros de altura e define a data de sua inauguração pelo governador Mauro Mendes (DEM).
O mirante, construído em alvenaria ao custo de R$ 1,55 milhão e revestido com paisagens temáticas regionais, tem quatro estações de observação em 360º.
Com essa conquista, a mais charmosa área de lazer de Cuiabá ganha um quê a mais para o conjunto de suas atrações que misturam natureza, contemplação, história, práticas esportivas, relacionamento social e até lenda.
Do lado de fora, sol escaldante, temperatura elevada, baixa umidade relativa do ar, barulho, correria.
Dentro, sombra das árvores do cerrado, brisa amena, ar respirável, silêncio e calmaria.
Esse é comparativo de Cuiabá, no rigor do verão, com o Parque Mãe Bonifácia, na mesma época.
Uma imponente área verde, com espécies vegetais nativas da região, povoada por aves, répteis e mamíferos, coberta pelo verde e as cores e cheiro das flores e frutos – assim é o Mãe Bonifácia, o xodó cuiabano, ponto democrático de encontro e espaço para caminhadas, exercícios físicos, meditação, leitura e, claro, namoro, afinal, num cenário assim a paixão não nega fogo e aflora sob revoadas de pássaros das mais diferentes plumagens.
Mãe Bonifácia é o nome de uma unidade de conservação urbana, com mais de 77 hectares com pouca antropização por frutíferas nacionais, recortado por pistas pavimentadas para caminhadas, que somam 10 quilômetros, repleto de bancos, dotado com academia ao ar livre e equipamentos de exercícios distribuídos em vários pontos, área para encontros e palestras, e com segurança da Polícia Militar para tranquilidade dos frequentadores. Há banheiros e sanitários.
Num quiosque central, bebedouros garantem água para todos. Tradicionalmente, em datas de maior movimento, planos de saúde, hospitais e farmácias oferecem gratuitamente aferição de pressão arterial, medem glicemia e pesam frequentadores.
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Na terça-feira (23), o Governo o Estado recebe a obra de um mirante com 15 metros de altura
Segurança é uma obsessão do gerente do parque, o coronel aposentado da Polícia Militar Celso Benedito Pinheiro Ferreira. Ele é quem primeiro chega e às 6h abre os portões.
Também é o último a deixar o local, às 18h quando os visitantes vão embora e a área fica exclusivamente para a bicharada que ali tem seu habitat, no escuro, sem nenhuma lâmpada para incomodar.
Atento a tudo e a todos, o coronel Celso tem olhar de lince. Se vê algum cãozinho de estimação em algum veículo que entra, antes mesmo que o motorista o estacione, ele encosta sua moto ao lado e, educadamente, explica que não é permitida a presença de animais domésticos no Mãe Bonifácia.
Em parte, rodeado por prédios, o Mãe Bonifácia se situa entre as avenidas Miguel Sutil e Filinto Müller, e a Rua Corsino do Amarante, numa região nobre de Cuiabá entre os bairros Quilombo, Duque de Caxias e Morada do Sol, numa área que anteriormente pertencia ao 44º Batalhão de Infantaria Motorizado do Exército, que a utilizava para treinamento militar, inclusive com estandes de tiros.
Primeira grande área de lazer cuiabana, o Mãe Bonifácia tem fácil acesso e seus três estacionamentos garantem 300 vagas para automóveis e utilitários, além de igual quantidade para motos.
Ao longo da semana a visitação diária gira em torno de 700 frequentadores. Aos sábados e domingos, e nos feriados, esse número dobra.
O principal portão fica ao lado do Viaduto Engenheiro Domingos Iglesias Valério, mais conhecido por Viaduto do Despraiado, na Avenida Miguel Sutil. O parque virou democrático ponto de encontro de adeptos da caminhada, de corrida e bate-papo.
Pela manhã e à tarde, parte da pista circular central próxima à entrada pela Miguel Sutil se transforma em palco para a discussão dos mais diversos temas, incluindo futebol, política e economia.
Jovens em busca do aprimoramento físico, mulheres de todas as idades lutando contra o amedrontador ‘pneuzinho’, aposentados à procura de boa prosa, ricos e pobres, magistrados, empresários, políticos, profissionais liberais, estudantes, artistas, intelectuais, assalariados, prestadores de serviço, militares, policiais, enfim, o componente social cuiabano ali ‘bate ponto’. Há frequentadores antigos, que literalmente não arredam o pé do parque.
Turistas e figuras locais esporádicas também se misturam à comunidade mãe-bonifaciana. Escolas de Cuiabá, Várzea Grande e cidades da região levam grupos de alunos ao parque.
Professores aproveitam para reforço de aula prática sobre natureza e cuidados ambientais.
Operadoras de turismo incluem o Mãe Bonifácia aos roteiros de seus pacotes. Não há registro de incidente grave no parque. O ambiente é descontraído. Frequentadores se conhecem ou passaram a se conhecer naquele local.
A cordialidade se estende à entrada principal, onde o catarinense vendedor de água de coco Dirceu Babinski, apelidado Taffarel, conversa com os fregueses tradicionais e os trata pelos nomes.
A natureza foi generosa com o pessoal que caminha e corre.
A topografia levemente acidentada do terreno exige maior esforço nas subidas e prudência ao pisar nas descidas. Nas trilhas, sempre muito limpas, o vaivém é feito nos dois sentidos.
De um lado e do outro delas, a bicharada toma conta do ambiente.
Saguis desfilam nos galhos de aricá, bocaiuva, baru, lixeira, guariroba, pequi, oiti, jamelão. Melro, bem-te-vi, canário, tucano, joão-de-barro, quero-quero, sabiá-laranjeira e outras aves em voos rasantes e em incursões pelas árvores completam a beleza do lugar.
Pra quem se prepara para prova de resistência o parque oferece uma pista de areia com 473 metros de extensão. Paralela a ela, uma estreita pista cimentada permite o acompanhamento do atleta em treinamento, ao longo de seu trajeto.
Durante a caminhada sob o silêncio, vez ou outra se ouve um barulho rente ao chão, em meio à folhagem caída. Tanto pode ser um lagarto quanto uma cutia ou um rato. Nada assustador.
Ao atravessar as pontes de madeira do parque, fique atento. Capivaras e preás costumam aparecer entre a água poluída, que desafia a capacidade do governo e continua banhando o parque e matando a sede de parte de sua fauna.
Caminhar é sempre bom. No Mãe Bonifácia parece ser ainda melhor, mas é preciso ficar atento para o lugar onde se pisa.
De uma hora para outra uma cutia, quati, teiú ou até mesmo uma jiboia pode cruzar o asfalto.
Não mexa com eles. Mantenha distância. Fique em silêncio. Aproveite a oportunidade contemplativa. Depois da pista liberada, retome sua jornada e, se possível, leve consigo um vídeo ou fotos daquele momento, mas, por favor, não alimente os animais – deixe isso por conta da natureza e a suplementação que lhes é servida pelo pessoal da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), que administra o parque.
Em outubro de 2020, a população de saguis foi vítima de herpes transmitida pelo homem, ou por contato direto ou por alimento dado aos macaquinhos do Mãe Bonifácia, dos quais, 16 morreram.
Num dos pontos do parque há um casarão, que muitas vezes foi gabinete do então governador Dante de Oliveira e abrigou importantes reuniões para tratar de temas relacionados ao meio ambiente.
Nas trilhas há três pontes sobre os dois córregos que cruzam o Mãe Bonifácia e um deles tem o nome daquele logradouro. Mas, afinal, quem foi Mãe Bonifácia para receber tantos mimos?
MÃE BONIFÁCIA – Historiadores divergem sobre Mãe Bonifácia. Alguns teimam que foi escrava e ao envelhecer, abandonada, vivia à margem de um córrego onde surgiu o parque com seu nome.
Outros, que ela nunca foi escravizada. Mesmo divergindo há algo em comum sobre os relatos deles: Mãe Bonifácia seria benzedeira e teria poderes sobrenaturais. Mais: seria protetora de escravos que fugiam das senzalas e viviam num quilombo bem ao lado de barraco.
Daí, surgiu o bairro Quilombo e, claro, o Parque Mãe Bonifácia. Uma escultura do artista Jonas Corrêa, sobre um pedestal de pedra canga, numa área do parque, mostra Mãe Bonifácia amparando um homem prostrado aos seus pés.
A obra de arte tem ao seu lado três pés de caju,que ali permanecem como se fosse sentinelas daquela cena criada pelo escultor.
O PARQUE – Em 1997 ,iniciou-se a obra da Usina Termelétrica de Cuiabá, denominada Mário Covas, alimentada por gasoduto pelo qual o gás natural boliviano chega a Mato Grosso.
Essa obra exigiu compensação ambiental por parte da Enron Serviços do Brasil, que era sua proprietária.
O à época governador Dante de Oliveira, adepto de caminhadas e com perfil ambientalista, conseguiu junto ao Ministério da Defesa a doação da área de treinamento do 44º Batalhão de Infantaria Motorizado para a criação do Mãe Bonifácia, cuja infraestrutura seria bancada pela proprietária da Mário Covas.
Em 8 de abril de 1999, como parte da programação do aniversário de Cuiabá, o Exército doou a área do Mãe Bonifácia ao governo estadual, para a criação de uma unidade de conservação.
Assim nasceu o parque, criado em 26 de junho de 2000 e inaugurado em 23 de dezembro daquele ano.
A infraestrutura foi custeada pela Enron.
Fonte: Diário de Cuiabá