Mato Grosso assume protagonismo no Centro-Oeste da América do Sul

Fonte: Da Redação

O recente encontro entre o governador Pedro Taques e o presidente da Bolívia, Evo Morales, não foi um fato isolado na articulação diplomática do Estado. Desde a posse da atual gestão, em janeiro de 2015, a busca por reconectar Mato Grosso aos países vizinhos do Centro-Oeste sul-americano foi intensificada.

Quem conta esta história desde o início é a assessora de Assuntos Internacionais do Governo do Estado, Rita Chiletto. “Analisamos Governos anteriores, como Dante de Oliveira e Blairo Maggi, vimos que Mato Grosso havia tido várias iniciativas, mas não tínhamos ações conclusivas de fato”. Dada a importância da integração para o desenvolvimento regional, para a educação, para a saúde e para a cultura da interação com estes países, foi estabelecida prontamente a articulação para reconectar Mato Grosso aos países da América do Sul.

A primeira iniciativa foi levar o governador a Santa Cruz de La Sierra, para um encontro com o governador Rubens Aguilera, em novembro de 2015. Nesta ocasião, foi combinado de realizar, em abril de 2016, a partir da Feira Internacional de Turismo (FIT) do Pantanal, a Caravana da Integração. O objetivo era identificar pelo trajeto as dificuldades de acesso e aproximar Mato Grosso dos povos das regiões percorridas, ou seja, Bolívia, Chile e Peru. Nos seis dias de viagem, a comitiva passou por pontos estratégicos, onde houve contato com os administradores locais.

Foram percorridos povoados da fronteira, a partir de San Matias, San Ignácio, San José de Chiquito e San Miguel de Velasco. A comitiva seguiu em direção a Santa Cruz de la Sierra, Cochabamba e Oruro. Depois, cruzou o Chile e chegou até os portos do Sul do Peru. “Foi muito importante porque mostrou que, embora estejamos muito próximos, tem detalhes que nos afastam muito, por exemplo, os 315 quilômetros que precisam ser asfaltados de San Matias a San Ignácio. Isso inviabiliza o turismo, a interação cultural, o fluxo de pessoas e mercadorias. Ficou nítida a importância de pavimentar este trecho rodoviário”, destaca Rita. 

Desdobramentos

A partir da Caravana da Integração, Mato Grosso recebeu visitas de autoridades diplomáticas e empresários do Peru, interessados em intensificar o comércio com Mato Grosso. “Uma das Zonas Francas que visitamos foi a de Tacna, no Peru. Eles, inclusive, já vieram até aqui interessados em levar nossos alimentos para lá também. Então, Mato Grosso protagonizou acesso a estas parcerias e também buscou o governo central boliviano para pavimentação da rodovia de San Matias a San Ignácio”. 

 

Neste ínterim, o Aeroporto Internacional Marechal Rondon foi reformado e está habilitado para integrar os países da América do Sul. “Entretanto, depois daquele acidente com a Chapecoense, as autoridades bolivianas estão passando por várias auditorias, por questões de segurança, e, por isso, não estão autorizando voo da Azul saindo de Cuiabá rumo a Santa Cruz de La Sierra. Então, Mato Grosso tem conversado neste sentido com o governo central boliviano”, explica Rita. 

Em novembro, a assessora de Assuntos Internacionais diz ter recebido demandas do governo central da Bolívia para tratar de segurança na fronteira. Bolivianos foram assassinados em San Matias e a suspeita era de que os executores e os mandantes do crime fossem brasileiros. As Secretarias de Segurança Pública e de Justiça e Direitos Humanos de Mato Grosso estiveram com uma equipe da Bolívia tratando o assunto.

Fora isso, em uma agenda positiva, o prefeito de Cochabamba solicitou uma missão para fazer intercâmbio comercial com Mato Grosso. Entretanto, as datas ainda não foram fechadas. “Estas são iniciativas decorrentes da Caravana da Integração”, comemora Rita. 

Negociações comerciais

Já o comércio de ureia entrou na pauta de discussões do Governo mato-grossense no início de abril deste ano, quando autoridades da Bolívia vieram ao Estado falar sobre o assunto. Os bolivianos estão inaugurando uma fábrica em Bulo Bulo que vai ter uma produção de 700 mil toneladas por ano, sendo que 20% desse total ficam na Bolívia e 80% são exportados. “Sabendo do interesse deles em exportar para Mato Grosso, o governador aproveitou para negociar o que nos interessa: a pavimentação de San Matias a San Ignácio, a autorização para o voo da Azul e a renegociação do contrato do gás”, diz Rita Chiletto.

Maria Anffe/Gcom-MT

Em cima desta agenda, houve o encontro com o presidente da Bolívia, Evo Morales. “Mato Grosso está provocando a Bolívia. Eles têm interesse em vender ureia para Mato Grosso. Mato Grosso tem interesse na pavimentação, no gás e no voo da Azul. Vamos chegar num consenso. Já foram agendadas reuniões técnicas para tratar da questão do gás e a evolução das negociações é que poderão nos trazer resultados positivos”, destaca.

Mato Grosso sai na frente em termos de infraestrutura e logística comercial. O comércio de ureia pode ocorrer, por exemplo, via hidrovia Paraguai/Paraná. A construção da Zona de Processamento de Exportação (ZPE) de Cáceres cria um forte local de concentração de comércio no Estado. Os produtos podem ser exportados tanto pela hidrovia como por terra, com a pavimentação do trecho boliviano. “É uma forma de Mato Grosso expandir sua rede de infraestrutura e melhorar o acesso dos produtos ao mundo e, da mesma forma, receber produtos do mundo inteiro”, conclui Rita Chiletto.