Com os termômetros atingindo 43ºC em Cuiabá nas últimas semanas, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta para risco de hipertermia. O médico geriatra Luiz Gustavo Castro Marques afirma que os idosos são os mais afetados e correm risco de morte.
O especialista, que atua no Hospital São Mateus, explica que os idosos são mais sensíveis e o organismo tem maior dificuldade em controlar a temperatura corporal.
“[O idoso] corre o risco de ter hipertermia porque tem mais dificuldade de controlar a regulação da temperatura. O idoso tem menos capacidade de se adaptar a essas condições muito diversas”.
Nessa semana, o artista Sebastião Mendes, 54 anos, sofreu um infarto após passar mal com o calor e faleceu. Ele estava em sua chácara em Cáceres (218 km de Cuiabá).
Entre os dias 21 de setembro e 9 de outubro, foram contabilizadas 35 mortes de idosos provocadas pelo calor excessivo em Rondonópolis.
O geriatra também revela que o calor excessivo pode causar queda de pressão e até mesmo inchaços no corpo.
Em entrevista ao MidiaNews, o médico tirou dúvidas sobre os riscos à saúde que a onda de calor pode causar e deu dicas sobre como agir.
Leia os principais trechos da entrevista:
MidiaNews – Por que o calor em excesso é mais perigoso para os idosos?
Luiz Gustavo Castro Marques – O idoso tem menos água na composição corpórea, é mais fácil de desidratar. E corre o risco de ter hipertermia porque tem mais dificuldade de controlar a regulação da temperatura. O idoso tem menos capacidade de se adaptar a essas condições muito diversas.
MidiaNews – O senhor tem recebido em seu consultório muitos idosos sofrendo com essa onda de calor?
Luiz Gustavo Castro Marques – Sim. O idoso, geralmente, não está no mercado de trabalho e a gente contraindica qualquer trabalho com exposição solar nesse período. Evitar sair, fazer limpeza no quintal.
MidiaNews – Que tipo de cuidados as pessoas devem tentar ao se deparar com temperaturas superiores a 43 graus?
Luiz Gustavo Castro Marques – O grande perigo é a desidratação porque, além do calor, a umidade relativa do ar está baixa. Diante disso tudo, dessas temperaturas atípicas, apesar de estarmos acostumados com o calor, a gente contraindica atividade física, recomendamos usar roupas de algodão, quem tem condição de ficar em ambiente climatizado, e o mais importante é evitar a exposição solar. Se ficar exposto, usar sombrinha, guarda-sol, protetor solar, óculos escuros, chapéu. Mas o mais importante é a hidratação, que tem que ficar muito atento. Porque temos a perda de água também pela respiração, além da pele.
MidiaNews – O uso de ar-condicionado é a melhor saída para amenizar o calor. Mas as mudanças bruscas de temperatura também não podem ser perigosas?
Luiz Gustavo Castro Marques – Para quem tem condições, o ar-condicionado é um bom alívio. Mas temos que levar em consideração que ele não renova o ar, isso pode mantém o coronavírus dentro do ambiente, sendo um risco também. O ideal é manter sempre alguma janela aberta ou desligar e deixar o ambiente ventilar em alguns momentos do dia, após receber alguém. A mudança brusca de temperatura também pode baixar a imunidade deixando a pessoa suscetível a gripes.
MidiaNews – Tomar bastante água e mais banhos que o normal ajudam a reduzir a temperatura corporal?
Luiz Gustavo Castro Marques – Agora até a água do chuveiro está saindo quente, mesmo com ele desligado. Mas a pele ajuda a controlar a temperatura do corpo, bem como protege o corpo. É um órgão muito importante, ainda mais para os idosos que são mais sensíveis. O banho ajuda também a hidratar a pele.
MidiaNews – Sabe-se que as altas temperaturas podem fazer cair a pressão? O que a pessoa deve fazer se sentir que está com a pressão baixa em razão do calor?
Luiz Gustavo Castro Marques – Deve primeiro aferir a pressão. Não tem que achar nada. Se for comprovado que é pressão baixa, tem que deitar com as pernas para cima, porque aí o sangue circula para a cabeça. Beber bastante água. Às vezes uma consulta virtual apenas pode ser suficiente para auxiliar o paciente. Tem que ficar sempre monitorando a pressão com aferição. A pressão baixa pode causar tontura, náusea, desmaios, vômitos.
MidiaNews – E os inchaços no corpo. Como fazer se a pessoa perceber que os membros inferiores estão inchados por causa das altas temperaturas?
Luiz Gustavo Castro Marques – Tem que se hidratar, principalmente. Também é importante fazer uma pequena caminhada, de 10 a 15 minutos, fora dos horários de calor intenso, que é das 9h às 16h. Isso estimula a circulação do sangue. Há, inclusive, o risco de ter trombose.
MidiaNews – Existe um limite humano para as altas temperaturas?
Luiz Gustavo Castro Marques – Não sei dizer. Mas as proteínas suportam até 60ºC. Depois dessa temperatura, elas começam a ser destruídas.
MidiaNews – Muitos idosos fazem as caminhadas regulares e evitam a luz solar. Mas caminhar à noite com mais de 35 graus também não pode ser perigoso?
Luiz Gustavo Castro Marques – O recomendado é sempre tomar bastante água e não precisa fazer aquelas caminhadas de 40 minutos, uma hora. O ideal é apenas 10 minutos mesmo para que tenha a circulação do sangue.
MidiaNews – Existe risco de morte como o Inmet alertou?
Luiz Gustavo Castro Marques – Sim, existe. Principalmente com os idosos, que são mais frágeis, mais vulneráveis. Por isso a hidratação é importante. O idoso não gosta de beber água, mas tem que beber. Não é para substituir a água por água de coco. Para fazer o idoso beber água é bom que ela seja saborizada, com limão, hortelã, manjericão. Isso estimula o idoso a beber água. É uma boa dica.
Fonte: Midianews