O fornecimento de gás natural e sua comercialização no varejo e o atendimento aos empresários e industriais do Estado voltou a ser tema de discussões entre Mato Grosso e a Bolívia, nesta quinta-feira (30), durante um encontro entre o presidente do país vizinho, Evo Morales, e o governador Mauro Mendes. O insumo que já foi o segundo maior item das importações estaduais deixou de fazer parte do cotidiano dos mato-grossenses, de forma definitiva, desde abril do ano passado. Além do gás, a importação de ureia, matéria-prima para produção de fertilizantes, também foi afetada, encarecendo o custo de produção agropecuária no Estado.
As conversações foram reiniciadas por meio da assinatura de um termo de desenvolvimento de mercado com o governo boliviano, em Santa Cruz de la Sierra, para aprofundar a integração energética entre o Estado e a Bolívia, com foco na retomada da comercialização do gás boliviano. O Estado detém, desde o ano 2.000, toda a rede de dutos da Bolívia até o Distrito Industrial de Cuiabá pronta e instalada. Mendes dará sequencia ao entendimento no próximo mês, quando receberá a visita da comitiva boliviana, liderada pelo ministro Luis Alberto Sánchez Fernández, do Ministério de Hidrocarbonetos.
O lastro dessa relação tortuosa entre Morales e Mato Grosso – que se arrasta desde que ele assumiu o poder na Bolívia, em maio de 2010 – é a desativação da termelétrica de Cuiabá e inúmeros prejuízos para empresários que apostaram no abastecimento de Gás Natural Veicular (GNV) e adaptaram seus postos de combustíveis, bem como a consumidores, que desembolsavam cerca de R$ 3 mil para instalar o ‘kit gás’. Mais de mil carros chegaram a circular com GNV em Cuiabá e Várzea Grande. A unidade da antiga Sadia Oeste, em Várzea Grande, chegou a operar com gás natural, fornecido pela estatal mato-grossense, MT Gás, em contêineres.
ENTENDIMENTO – “O trabalho do governo de Mato Grosso é pela retomada do fornecimento do gás de forma ininterrupta, tanto para beneficiar as empresa e o setor industrial do Estado quanto para o cidadão, como é o caso do gás GLP”, frisou Mendes.
De acordo com o termo assinado, serão realizados estudos visando desenvolver as ações necessárias para que a empresa pública UPFB comercialize o gás natural para Mato Grosso e também da ureia. Isso inclui o desenvolvimento de infraestrutura e operação das redes de gás no Estado.
“Nós discutimos a cooperação e possível parceria do governo boliviano, por meio do Ministério e da Yacimientos Petroliferos Fiscales Bolivianos (YPFB) [empresa pública boliviana] com o MT Gás. Nosso objetivo é contribuir para desenvolver a comercialização, junto com o MT Gás, do gás natural, do GLP e da ureia, em parceria com o governo boliviano”, explicou o Mendes.
A empresa boliviana também realizará um estudo para analisar a possibilidade de participar de projetos de geração de energia, por conta própria ou em associações com empresas mato-grossenses.
No memorando assinado também consta a parceria para trocar experiências, informações e conhecimentos sobre biocombustíveis, que maximizarão o impacto e os benefícios para a mudança da matriz energética na Bolívia.
GÁS NATURAL EM MT – Implantada e inaugurada no inicio dos anos 2.000, termoelétrica de Cuiabá ´Mário Covas’ e o gasoduto seguem sendo o maior investimento privado consolidado no Estado, cerca de 700 milhões de dólares. Com capacidade de gerar 480 megawatts de energia em ciclo combinado de gás e vapor, a térmica pode suprir, sozinha, até 70% da demanda energética da Baixada Cuiabana. O gás veio para o Estado para ser a principal matéria-prima da usina térmica. O excedente do produto era comercializado.
Desde a primeira eleição de Evo Morales como presidente da Bolívia, em 2010, Mato Grosso e a térmica passaram a sentir os efeitos de seu mandato, já que os contratos de fornecimento de gás natural ao Estado foram rompidos de forma unilateral por repetidas vezes. Morales forçou revisão de preços sobre o metro cubico do insumo, prometeu várias vezes a retomada do suprimento, mas nada foi cumprido.
No ano passado, a controladora das empresas – térmica e gasoduto – a Âmbar Energia, pertencente ao grupo J&F, anunciou a suspensão – naquele momento como temporária – das operações. A decisão da Âmbar Energia ocorreu após uma decisão da Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), em arquivar a ação movida pela empresa que acusa a Petrobras de conduta anticoncorrencial no fornecimento de gás natural. A Petrobras, que detém o monopólio de fornecimento de gás boliviano no Brasil, também rompeu o contrato de entrega que tinha com Âmbar.
No final de 2017, o Estado – ainda com Padro Taques – tentou adquirir gás diretamente da estatal, mas não foi atendido.
O gasoduto Bolívia-Mato Grosso possui 645 Km de extensão, sendo 283 Km no lado brasileiro e 362 Km no lado boliviano, com capacidade de transporte de 4 milhões BTU/dia sem compressão e 7,5 milhões BTU/dia com compressão.
A Usina Térmica de Cuiabá é uma das mais modernas e eficientes do Brasil e sua produção é relevante para o sistema elétrico nacional como já foi reconhecido pelo Ministério de Minas e Energia. O imbróglio mato-grossense já recebeu até intervenção do governo federal ante à Petrobras, para que o fornecimento de gás fosse retomado. Mato Grosso oscila no ranking do país com a primeira ou segunda energia elétrica industrial mais cara do país.
Fonte: Cuiabano News