Para sobreviver com 6 em casa e um salário mínimo, mulher anda 4 km para buscar ossinho em açougue em Cuiabá.
A dona de casa Sueli Batista da Silva, 52, mora no bairro Doutor Fábio, na periferia de Cuiabá. A alguns quilômetros dali, fica o açougue Atacadão da Carne, onde outras pessoas que já convivem com a fome vão buscar ossinhos doados pelos proprietários.
Em julho, o UOL registrou uma fila formada com duas horas de antecedência para a retirada dessas doações, ao menos três vezes por semana.
É como faz Sueli, por horas debaixo do sol escaldante à espera de alguma proteína. Em sua casa, cuida dos netos e das filhas, enquanto luta para garantir alimentos para a família.
O Atacadão da Carne fica no bairro CPA 2, distante quase 4 km da casa dela. Quando não tem dinheiro para a passagem de ônibus, vai andando mesmo.
“E, às vezes, quando temos que ir [no açougue] com as crianças, colocamos no carrinho e vamos a pé. O dinheiro que temos não dá para comprar carne”, diz.
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A casa simples deixa evidente a falta de dinheiro para lazer ou confortos básicos. Com Sueli, vivem o marido, as duas filhas, em cômodos improvisados nos fundos da residência, e os dois netos, que têm menos de um ano.
Eles sobrevivem apenas com benefício da dona de casa, no valor de um salário mínimo. Ela não consegue mais trabalhar como empregada doméstica devido ao glaucoma e a problemas nos nervos que a impedem de andar nos dias de crise.
O marido faz alguns bicos com fretes e mudanças. Mas, neste ano, chegou a ficar meses sem conseguir nada.
“Neste ano está ruim mesmo, não conseguia R$ 1. Começou a ficar muito difícil”, diz.
Quando começou a buscar os ossos no açougue, o cenário era outro. Sem a fila que hoje dobra a esquina, as poucas pessoas que iam ao estabelecimento conseguiam voltar para casa com carne moída e pedaços de costela.
“Hoje não dá. Fico assustada de ver o tanto de gente, antes a doação era três vezes na semana, diminuíram para duas. Esses dias teve até briga lá por causa de lugar na fila. Eu não brigo, não”, conta. O Atacadão da Carne chega a entregar 500 quilos de ossinho por dia.
‘Peço a Deus para abençoar’
Na busca por novas oportunidades, o marido de Sueli decidiu viajar para Sinop (MT) em busca de um emprego. Em poucos dias, conseguiu o tão sonhado trabalho.
“Ele já está com 60 anos, está na idade de descansar. Mas vamos fazer o quê? Precisamos do dinheiro. Vai ganhar mais ou menos um salário mínimo também. Peço a Deus para abençoar. Esses dias meu neto ficou doente e nós sem nada de dinheiro”, afirma.
“Não está fácil, não. Mas como diz o ditado: colocamos Deus na frente para abençoar os filhos e os netos. Fico preocupada de faltar algo para meus netos, que são bebês e não sabem falar”, diz.
Garantir o gás na cozinha, com preços em alta, também não é tarefa fácil. Por isso, nos fundos da casa, ela tem um fogão a lenha. É lá onde faz as refeições que precisam de mais tempo para cozinhar, como os ossos do açougue.
Com olhar vazio e triste, responde que tem dias em que a comida falta. “Pegamos cestas básicas que foram distribuídas no açougue e estamos tendo o básico. O salário deveria aumentar, não dá para nada. Você recebe hoje e quando é amanhã já não tem mais nada.”
“A esperança é a última que morre. Deus proverá. Sempre aparecem pessoas boas para ajudar”, diz.
Com informações do UOL