Cuiabá e outras cidades quentes, como Palmas, Teresina e Dubai, não são as únicas que correm o risco de ficarem inabitáveis devido à progressão do calor no futuro. Todo o planeta estará sujeito às mudanças climáticas e sofrerá as consequências se não houver um controle pela humanidade. Um estudo publicado por National Geographic mostra que o planeta está batendo seguidos recordes de calor e ficará ainda mais quente nas próximas décadas.
No dia 30 de setembro de 2020, Cuiabá registrou a temperatura mais alta dos últimos 109 anos quando, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), chegou aos 44ºC às 17h. Este foi o calor mais intenso da cidade registrado desde dezembro de 1909, quando a medição começou a ser feita pelo instituto. Na ocasião, a cidade mato-grossense foi a capital mais quente do país na maior onda de calor da história em Mato Grosso e no Brasil. Entraram em discussão previsões feitas de que a capital mato-grossense se tornaria inabitável em menos de 100 anos.
Uma matéria chamou a atenção com o título ‘Cientista prevê catástrofe climática e Cuiabá inabitável dentro de 20 anos’, sem informar, no entanto, que o fenômeno ocorrerá de uma forma global.
Uma matéria pesquisada e elaborada por Madeleine Stone para a publicação de National Geographic afirma que o fenômeno climático atingirá a todos. Confira:
É difícil prever com exatidão a que temperatura a Terra pode chegar se continuarmos lançando carbono na atmosfera, observam os especialistas. Michael Wehner, pesquisador de climas extremos do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, escreveu: “O aumento nas temperaturas das futuras ondas de calor dependerá muito do tempo e da quantidade de emissão de dióxido de carbono.”
Contudo uma pesquisa recente conduzida por Wehner e seus colegas apresenta indícios de como seriam as ondas de calor do amanhã caso não restringíssemos em nada nossas emissões de carbono: ao final do século, as ondas de calor na Califórnia poderiam atingir temperaturas cerca de 10 a 14ºC mais altas do que hoje.
Durante uma onda de calor que assolou o oeste dos Estados Unidos nos últimos dias, as temperaturas no Vale da Morte, na Califórnia, subiram para escaldantes 54,4 graus Celsius, marcando a mais alta temperatura registrada em qualquer lugar na Terra desde 1931 e o terceiro dia mais quente já registrado em nosso planeta.
Mas a Terra já viu dias mais quentes no passado e os verá novamente no futuro. Durante os ‘períodos de estufa’, quando a atmosfera estava sobrecarregada com gases responsáveis pelo efeito estufa, o planeta era muito mais quente do que é hoje e as piores ondas de calor foram proporcionalmente terríveis. E ao passo que as emissões de carbono geradas pelos humanos ainda não compeliram a Terra a um novo estado de estufa, as mudanças climáticas estão ocasionando ondas de calor mais frequentes e severas, o que significa que as temperaturas extremas do Vale da Morte, provavelmente, não serão tão incomuns.
Nem tão cedo a Terra será tão escaldante e inabitável quanto Vênus — as temperaturas por lá são altas suficiente para derreter chumbo — mas esse calor que desafia os limites da tolerância humana ocorrerá com cada vez mais frequência ao longo deste século, segundo cientistas.
E, em um futuro muito, muito distante, a Terra pode realmente ficar como Vênus.
Passado escaldante
Pode não parecer, caso more na Califórnia ou no Japão, mas a Terra está, atualmente, no que os geólogos consideram como clima em modo geladeira: um período frio o suficiente para suportar um ciclo de era do gelo, no qual grandes camadas de gelo continentais aumentam e diminuem próximo aos polos. (No momento, o gelo do hemisfério norte recuou até a Groenlândia.) Para ter uma ideia de como seria um mundo muito mais quente, precisamos voltar pelo menos 50 milhões de anos, para o início do Eoceno.
“Essa foi a última vez em que a Terra vivenciou um clima realmente quente,” observa Jessica Tierney, paleoclimatologista da Universidade do Arizona.
Nos dias atuais, a temperatura média da Terra gira em torno de 15ºC. Durante o início do período Eoceno, estava próxima aos 21ºC e nosso mundo era bem diferente. Os polos não tinham gelo. Os oceanos tropicais fervilhavam em temperaturas dignas de um spa, por volta dos 35ºC. Palmeiras e crocodilos habitavam o Ártico. Vários milhões de anos antes disso, no Máximo Térmico do Paleoceno-Eoceno (MTPE), a temperatura era ainda mais quente.
Os períodos mais extremos do estado de estufa permeiam os recuos mais profundos do tempo geológico. Durante o estado de estufa do Cretáceo, 92 milhões de anos atrás, as temperaturas da superfície global aumentaram para cerca de 29,4ºC e permaneceram altas por milhões de anos, permitindo o desenvolvimento de florestas temperadas próximo ao polo Sul. Há cerca de 250 milhões de anos, a fronteira entre os períodos Permiano e Triássico ficou marcada por um evento de aquecimento global extremo, quando a temperatura média da Terra ficou próxima aos 32ºC por milhões de anos, de acordo com uma reconstrução preliminar realizada pelo Instituto Smithsoniano.
Nesse tórrido período, a Terra vivenciou a maior extinção de espécies em sua história. Os oceanos tropicais eram como uma banheira com água quente. Não temos dados meteorológicos diários do Permiano (ou de qualquer outro capítulo antigo da história da Terra), mas é provável que no vasto e seco interior do supercontinente Pangeia, a onda de calor dessa semana no Vale da Morte teria sido como um dia qualquer.
“Quanto mais altas são essas condições médias, mais frequentemente observaremos eventos de calor extremos,” afirma Tierney. Nos dias com mais altas temperaturas durante os períodos de maior calor, “lugares como um deserto seriam inacreditavelmente quentes.”
Futuro abafado
Todos os recentes períodos de estufa da Terra parecem ter uma coisa em comum: foram precedidos por um enorme impulso de gases de efeito estufa na atmosfera, seja por erupções vulcânicas expelindo dióxido de carbono ou metano borbulhando abaixo do fundo do mar. Nos dias atuais, estamos conduzindo um experimento planetário semelhante, queimando enormes reservas de carbono fóssil, aumentando os níveis de dióxido de carbono na atmosfera a um ritmo inédito desde a extinção dos dinossauros, 65 milhões de anos atrás, e talvez desde muito antes.
“Normalmente, quando ocorrem mudanças climáticas a um ritmo acelerado [como no passado], elas são impulsionadas por mecanismos semelhantes aos de hoje,” diz a geocientista do MIT, Kristin Bergmann. “Há uma mudança bem rápida nos gases de efeito estufa que aquecem nosso planeta.”
Como no passado, as temperaturas médias globais estão novamente subindo depressa. E dias extremamente quentes também estão cada vez mais comuns, com pesquisa atrás de pesquisa concluindo que as temperaturas recordes recentes teriam sido quase impossíveis sem influência humana.
É difícil prever com exatidão a que temperatura a Terra pode chegar se continuarmos lançando carbono na atmosfera, observam os especialistas. Michael Wehner, pesquisador de climas extremos do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, escreveu por e-mail: “O aumento nas temperaturas das futuras ondas de calor dependerá muito do tempo e da quantidade de emissão de dióxido de carbono.”
Contudo uma pesquisa recente conduzida por Wehner e seus colegas apresenta indícios de como seriam as ondas de calor do amanhã caso não restringíssemos em nada nossas emissões de carbono: ao final do século, as ondas de calor na Califórnia poderiam atingir temperaturas cerca de 10 a 14ºC mais altas do que hoje.
Sabe aquela temperatura extraordinária que vimos ocorrer no Vale da Morte esta semana? “Acredito que, em um futuro em que ainda existam emissões altas, um evento com a mesma raridade que os atuais 54,4ºC, seria por volta dos 60ºC,” explica Wehner.
Um destino semelhante ao de Vênus?
Se você é niilista, pode dizer que tudo isso não é nada em comparação com o que a Terra provavelmente vivenciará no futuro distante. Os cientistas planetários há muito previram que, à medida que o Sol for envelhecendo e ficando mais brilhante, a superfície da Terra acabará esquentando até o ponto em que os oceanos começarão a ferver como uma chaleira. O vapor de água, um potente gás de efeito estufa, se espalhará na atmosfera, desencadeando um efeito estufa descontrolado que, em um bilhão de anos, poderia transformar nosso mundo em algo não muito diferente de nosso vizinho, Vênus. Lá, sob uma atmosfera densa, tóxica e sulfurosa, as temperaturas da superfície estão próximas de 482ºC.
“A suposição é que, à medida que o Sol brilhar mais, a mesma coisa acontecerá na Terra,” revela o cientista planetário da Universidade Estadual da Carolina do Norte, Paul Byrne, acrescentando que há bilhões de anos, nosso vizinho planetário pode ter tido clima e oceanos agradáveis.
Vênus pode não ter sido destruído pelo Sol. Um recente trabalho de modelagem sugere que pode ter ocorrido uma série de paroxismos vulcânicos que causaram “liberações colossais de CO2 na atmosfera”, declara Byrne. Mas qualquer cenário — morte por calor planetário causado pelo Sol ou por atividades vulcânicas — aponta para uma situação em que eventos que fogem muito do nosso controle podem impelir o clima futuro da Terra em uma espiral tremendamente quente.
“Se será exatamente 475ºC ou não, já não sei,” comenta Byrne, referindo-se à temperatura na superfície de Vênus. Porém, caso nosso planeta passe por uma transição semelhante à de Vênus, “será muito, muito quente.”
Mesmo se nosso Planeta Azul conseguir escapar do destino de Vênus, em cerca de cinco bilhões de anos não será possível evitar que sejamos torrados. Nesse inevitável futuro, o Sol se expandirá em uma gigante estrela vermelha, abarcando a Terra em uma chama ardente.
“A visão predominante é a de que o Sol engolirá a Terra,” sustenta Byrne. “Estamos fritos.”
Lugares mais quentes do mundo
De acordo com o Discovery Channel, é difícil definir realmente qual o lugar “mais quente” do mundo. “Os desertos mais quentes da Terra – como deserto do Saara, Gobi, Sonora e Lut – são tão remotos que é difícil ter acesso e manter um estação meteorológica nestes locais também é impraticável”, disse o pesquisador David Mildrexler.
Ele afirmou ainda: “a maioria dos lugares mais quentes do mundo simplesmente não foram medidos diretamente por instrumentos de precisão”.
A boa notícia é que não há uma temperatura definida de quanto os humanos não conseguem mais aguentar e o grande problema é mesmo lidar com a umidade.
A Organização Mundial de Meteorologia reconheceu oficialmente o Vale da Morte, na Califórnia, Estados Unidos, como o lugar mais quente do mundo no mesmo dia em que a temperatura bateu recorde em El Azizia, na Líbia, segundou informou o Huffington Post. O jornal inglês listou os 10 lugares mais secos do mundo. Confira:
Vale da Morte, Califórnia: este deserto californiano já atingiu temperaturas de 134° Fahrenheit, o que equivale a 56,7° Celsius. No dia 14 de setembro, a Organização Mundial de Meteorologia reconheceu oficialmente o local como o mais quente do mundo ao registrar 57,8 °C.
Dallol, Etiópia: Dallol é considerado o local inabitado mais quente do mundo e registra médias de temperaturas máximas acima de 41°C.
Deserto Lut, Irã: temperaturas acima de 70,7 °C foram registradas no deserto iraniano.
Tirat Tsvi, Israel: esta cidade, conhecida como o lugar mais quente da Ásia, já presenciou temperaturas acima de 53,9° C.
Ghadames, Líbia: neste local, a temperatura pode chegar a 55 ° C facilmente.
Wadi Halfa, Sudão: a cidade na fronteira do Sudão com o Egito já atingiu 52,8°C.
Timbuktu, Mali: a cidade já registrou a sufocante temperatura de 54,4°C.
Queensland, Austrália: caso visite o estado australiano de Queensland se prepare para temperaturas de até 68,9°C.
Turfan, China: esta área fica a noroeste da província chinêsa de Xinjiang e já viu temperaturas acima de 50°C.
Com informações da National Geographic/Terra