Niuan expõe racha com Emanuel e anuncia troca de partido

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“Acho que a relação entre um prefeito e seu vice deve ser de parceria, não de subordinação ou como um vassalo”. A afirmação é do vice-prefeito de Cuiabá, Niuan Ribeiro, em entrevista exclusiva ao HiperNotícias.

Ao site, Niuan comparou os estilos do prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) e do governador Mauro Mendes (DEM), falou da gestão da capital e dos seus projetos políticos, incluindo as eleições de 2020.

O vice-prefeito de Cuiabá deixou clara sua insatisfação com a administração do prefeito Emanuel. Segundo ele, o chefe do Executivo faz a linha dos políticos que gostam de eventos e entregas. Niuan afirmou que desde o início da gestão, Emanuel o isolou politicamente e que, por isso, ele não tem informações sobre atos de administração, como, por exemplo, a minirreforma prometida pelo prefeito recentemente.

Filho de Osvaldo Sobrinho, político de Mato Grosso que, por dois mandatos cada, foi deputado federal e estadual, vice-governador e suplente de senador, Niuan tem 34 anos, é advogado com especialização em Direito Econômico de Empresas e acredita que está preparado para participar do processo eleitoral de 2020.

Ele afirmou que está disposto, inclusive, a trocar de partido, já que há um distanciamento entre os correligionários e o presidente do PSD, Carlos Fávaro. Niuan disse que tem mantido diálogo com, pelo menos, cinco legendas.

Confira o bate-papo com o vice prefeito:

HNT – Como se sente sendo vice-prefeito de Cuiabá, e como avalia as ações da prefeitura?

Niuan Ribeiro – Desde o início da nossa gestão houve uma grande evolução minha, tanto pessoal quanto política, porque eu nunca tinha tido a oportunidade de trabalhar na gestão pública. Me sinto bem maduro, mas, como em qualquer trajetória, é cheio de altos e baixos. Me sinto seguro como vice-prefeito, sinto que tenho preparo intelectual, técnico, mas sempre existem coisas para melhorar.

HNT – A SEC 300 ainda funciona – o senhor já criticou a existência dela depois do episódio dos “aluguéis fantasmas”, como avalia o papel dessa pasta?

Niuan Ribeiro – Temos o dever de falar a verdade à população. Pra mim, a SEC 300 é uma pasta de festividades, que faz promoções e eventos, porque o objetivo dela finalizou quando Cuiabá fez 300 anos em abril deste ano. Acho que é uma estrutura que poderíamos não ter esses gastos que temos hoje. Eu continuo não sendo a favor da SEC 300. A tarefa que a secretaria exerce poderia ser feito pelo cerimonial ou pela Secretaria de Governo, porque ela não tem um papel técnico, mas ela tem um orçamento próprio de cerca de R$ 1,8 milhão.

“O objetivo da SEC 300 finalizou quando Cuiabá fez 300 anos em abril deste ano”

HNT –   A Prefeitura anunciou uma minirreforma administrativa. Como está esse estudo?

Niuan Ribeiro – O prefeito Emanuel Pinheiro anunciou, mas eu participo muito pouco dos debates, das condições. Em nenhum momento fui chamado para participar em nenhum momento da gestão, em nenhum momento fui chamado para opinar. Isso não mudou em nada. Eu prefiro fazer meu trabalho na vice-prefeitura, os atendimentos. Ele falou que ia fazer essa minirreforma, que talvez fosse criar secretarias e extinguir outras, mas fala tudo e não fala nada, com todo respeito. Em essência, não posso comentar porque não fui chamado para o debate.

HNT – Não teme que a sua relação com o prefeito Emanuel Pinheiro acabe se tornando uma inimizade política?

Niuan Ribeiro – Não temo em momento nenhum, até porque sempre demonstrei lealdade ao prefeito, até nos momentos mais críticos dele, que foi o escândalo do paletó. Eu nunca ataquei a pessoa dele, nunca usei crises dele para tentar me sobrepor de uma forma oportunista. Agora, ele não me chama para as conversações e para os debates, e é um direito dele, porque ele é o prefeito. Tenho noção disso. Mas acho que a relação entre um prefeito e seu vice deve ser de parceria, não de vassalo e subordinação. Tenho o dever moral ético e político, até porque ele não foi eleito sozinho, de exprimir minhas opiniões. Duvido que tenha um vice-prefeito que trabalhe mais do que eu. Todos os dias estou no Alencastro, cumpro ponto, final de semana estou nos bairros. A Constituição tinha que mudar. O vice deveria assumir uma pasta, ou uma secretaria, e ter uma função dentro da administração. A gente não pode em pleno século XXI admitir que haja uma estrutura apenas para substituição ou ausência do titular, ou seja, se eu não tivesse compromisso com a sociedade não precisava nem ir na prefeitura, mas eu sei do meu compromisso, que vai além de bater o ponto. Em nenhum momento foi me dado a oportunidade de participar da gestão e meu referencial de político é meu pai, onde está minha raiz.

“Acho que a relação entre um prefeito e seu vice deve ser de parceria, não de vassalo e subordinação”

HNT –  A relação do prefeito Emanuel Pinheiro com o governador Mauro Mendes, que anda estremecida, pode de alguma forma prejudicar Cuiabá?

Niuan Ribeiro – Eu vejo isso como ruim para Mato Grosso e ruim para Cuiabá. São diferenças de estilo de gestão. O Mauro eu vejo um cara extremamente pragmático, que procura fazer muito e falar pouco, ele é mais técnico. O Emanuel tem um estilo mais político. Ele gosta de inauguração, de lançamentos, ele gosta de estar andando e grande parte desse ruído é por causa disso. Quem perde é Cuiabá e Mato Grosso, mas eu espero que isso não seja maior que os interesses da população.

HNT –   Um dos exemplos dessa falta de alinhamento entre os Poderes Executivos é a questão da retomada as obras do VLT. O governador demonstra muita cautela e o prefeito é um entusiasta da ideia. Como você avalia esse assunto?

Niuan Ribeiro – Eu vejo que isso precisa ser debatido com mais seriedade. Era um tema que estava parado, morto, mas sempre em véspera de eleição levantam o VLT novamente. Na minha análise é por interesse político-eleitoral. A questão do VLT não é uma questão de honra. A questão do VLT é que precisamos de mais R$ 1 bilhão, fora os R$ 1 bilhão que já foi gasto. É uma questão de viabilidade financeira, mais técnica, fora o subsídios de R$ 36 milhões, no mínimo, que vai ter que ser pago. Além disso, o fluxo de passageiros diminuiu da época que foi feito esse estudo que apontou que o fluxo de passageiros para o VLT seria de 15 mil passageiros/hora. Acreditasse que esse fluxo caiu por haver mais pessoas usando moto e aplicativos de transporte de passageiros. Qual empresa privada vai investir em uma atividade que não dá lucro? Acho que o Mauro está tomando a decisão correta. Está buscando dados para ver se há viabilidade, ou não. O Estado passa por crise, está endividado, e muito disso é devido a Copa do Mundo, porque venderam para a população que as obras da Copa do Mundo seria a salvação.

HNT – Niuan, qual seu projeto político para 2020?

Niuan Ribeiro – Eu me sinto disposto, animado e preparado para participar do processo eleitoral de 2020. Participar do projeto eleitoral não quer dizer que serei candidato, é claro que meu nome está à disposição, mas eu quero discutir soluções novas para Cuiabá, que saiam da mesmice.

HNT –  Nos últimos dias você participou de reuniões com alguns partidos políticos, como o PROS, PSL, DC e o Podemos? 

“O Mauro é um cara extremamente pragmático, que procura fazer muito e falar pouco… O Emanuel tem um estilo mais político. Ele gosta de inauguração, de lançamentos …”

Niuan Ribeiro – Estou conversando, sim, com várias correntes políticas para identificar o que temos em comum para somar. Conversei com a Gisela Simona, do PROS, que é uma pessoa muito preparada, estudiosa, que realmente quer fazer a diferença na política. Além dela, o deputado João Batista, que é presidente do PROS, é uma pessoa que debatemos ideias e saímos animados em tentar construir um projeto para Cuiabá. Tenho conversado com outras pessoas. Existe um arco de cinco partidos para debater Cuiabá em painéis temáticos. Não tive reunião com o PSL, mas conversei com o deputado Silvio Fávero. Temos uma ótima relação e ele me convidou para ir para o PSL. O deputado federal Nelson Barbudo, apesar de não termos muita intimidade, soube que ele também se mostrou favorável a meu nome e me senti lisonjeado. O PSL é um partido que faz referência ao presidente Jair Bolsonaro, que avalio estar indo na direção certa. As pessoas dizem que ele fala demais e faz muitas trapalhadas, concordo também, mas ele quer fazer o certo, quer quebrar o ciclo do fisiologismo que durou 500 anos no Brasil. Quando você enfrenta coisas enraizadas na sociedade não é uma luta fácil (…). Recebi o convite do Podemos também. Tenho conversado muito com o deputado federal José Medeiros. Ele é uma pessoa que tem exercido um grande trabalho em Brasília, principalmente auxiliando o presidente Bolsonaro nas votações importantes e temos muitas afinidades. No DC, tenho conversados com os deputados estaduais Elizeu Nascimento e Ulysses Moraes. Tenho conversado com o Cidadania, que faz parte do grupo Renova, encabeçado pelo apresentador Luciano Huck. Então, estamos debatendo uma política de alto nível.

HNT –  Pensa em mudar de partido ou avalia alianças?

Niuan Ribeiro – Tenho ouvido propostas. No PSD, infelizmente, faz muito tempo que não converso com o presidente Carlos Fávaro (atual representante de Mato Grosso no escritório de representação política em Brasília). Sinto que está faltando alguma coisa. Não está preenchendo. Grande parte dos partidos perderam sua representatividade porque acabaram virando um balcão de negócios. O que me importa é estar em um partido que siga a cartilha que ele prega, é isso que eu procuro. Temos que achar pessoas que estejam sintonizadas com o que pensamos. Há possibilidade de mudança de partido, sim.

Fonte: Hipernotícias