Nobres, Chapada e Manso são destaque em matéria de quatro páginas no Estadão

Fonte: Estadão

Em sua edição desta terça-feira, o jornal Estadão traz Mato Grosso como destaque. Confira a reportagem:

 Doze anos atrás, quando percorri o Estado do Mato Grosso em uma viagem de ônibus por algumas de suas principais atrações, meu celular era apenas um acessório, que passou quase o tempo todo dentro da mochila. Além de não pegar na grande maioria dos lugares, conexão com a internet ainda era coisa para lan houses ou salas de informática – um luxo raro, especialmente em viagens com a natureza como protagonista. Em casos assim, a ideia era de isolamento total, algo cada vez mais difícil nos dias de hoje. 

Desta vez, embora ainda não haja conexão em áreas mais afastadas – como o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, ou mesmo nas ruas do distrito de Bom Jardim, em Nobres –, pousadas, hotéis e mesmo alguns restaurantes oferecem Wi-Fi grátis. A sensação de isolamento se restringe apenas aos passeios. Depois deles, todos pegam seus smartphones para postar o mais rápido possível as fotos e vídeos feitos ao longo do dia, como eu mesma fiz no Instagram @viagemestadao durante a viagem. 

Repare na quantidade de peixes no poço da cachoeira Serra Azul, em Nobres

Repare na quantidade de peixes no poço da cachoeira Serra Azul, em Nobres Foto: Adriana Moreira/Estadão

Logicamente, esta não foi a única diferença que encontrei na região depois de tantos anos. Algumas são positivas, como a inauguração do primeiro resort do Estado, localizado entre as já citadas Chapada dos Guimarães e Nobres. Assim, ficou mais fácil intercalar bate-voltas focados em ecoturismo com dias mais relaxados, que incluem drinques à beira da piscina e refeições caprichadas, tudo no sistema all-inclusive. No rol das boas notícias também está a estrada para Nobres, que era de terra e hoje está asfaltada e bem sinalizada, o que permite que a viagem a partir de Cuiabá seja feita em apenas 2 horas.

Mas dói ver a quantidade de obras que deveriam ter sido concluídas para a Copa do Mundo (leia abaixo), como a do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), na capital, e a entrada do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães. O problema das queimadas na região do parque também continua, especialmente nessa época do ano, com pouca chuva e mato seco. Da estrada, vimos um imenso rastro de destruição e labaredas que consumiam quilômetros de vegetação – felizmente, o incêndio já foi controlado.

Pôr do sol na estrada

Pôr do sol na estrada Foto: Adriana Moreira/Estadão

O saldo, contudo, é positivo. O clima ensolarado quase o ano todo harmoniza perfeitamente com praias de cachoeira e flutuação em rios de águas cristalinas, repletos de peixes. Aproveite antes que as multidões descubram. 

* A jornalista viajou a convite do Malai Manso Resort

COPA DEIXOU LEGADO DE OBRAS PARADAS

O aeroporto de Cuiabá está bonito, renovado, pronto para os turistas. Mas basta sair de lá para se deparar com uma sucessão de obras que deveriam ter sido inaugurados para a Copa de 2014 e ficaram paradas por problemas em contratos e irregularidades. Algumas chegaram a ser retomadas e interrompidas novamente, como a do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), cuja licitação está sendo investigada pela Polícia Federal por suspeita de fraude. O governo agora estuda uma solução para a retomada das obras, ainda sem prazo de conclusão.

 A entrada do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, em 2005, era por um restaurante, bem próximo ao mirante para a famosa cachoeira Véu da Noiva. A nova portaria, prometida para a Copa, também não saiu. O que se vê no local são tapumes e um contêiner, que serve de base para quem está cuidando da portaria. Segundo informou a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec) do Estado, a empresa contratada abandonou a obra, e uma nova licitação deverá ser feita em breve. A ideia é que as obras sejam retomadas em até 60 dias. 

A essência de Nobres em cinco passeios

Qualquer semelhança não é mera coincidência: a cidade usou Bonito (MS) como referência para promover seus encantos, como a flutuação em rios cristalinos

Poço da cachoeira Serra Azul, em Nobres, é repleto de peixes

Poço da cachoeira Serra Azul, em Nobres, é repleto de peixes Foto: Adriana Moreira/Estadão

Rios de águas cristalinas perfeitos para flutuação, repletos de peixinhos, peixões e arraias, são o cartão-postal de Nobres. Com atrativos similares aos de Bonito, no Estado vizinho do Mato Grosso do Sul, a cidade “importou” de lá o modelo de visitação aos seus principais pontos turísticos. 

O visitante precisa ir a alguma das agências locais para adquirir o voucher que será apresentado nas atrações – não é possível comprar na entrada e os preços são tabelados. A ideia, dessa forma, é movimentar toda a cadeia do turismo local, como explica Vicente Campos, dono da agência Anaconda e representante do Conselho Municipal de Turismo. Com o voucher, é possível ter um controle para que não seja ultrapassada a capacidade de carga nas atrações. Além disso, são recolhidos 1% para o Fundo de Turismo (Futur) municipal e 3% de ISS. 

A maior parte dos atrativos se concentra no distrito de Bom Jardim (ou na vizinha Rosário), que também serve de ponto de apoio. Há doze anos, a infraestrutura turística ali era quase inexistente. Embora algumas atrações, como o Aquário Encantado, já recebesse visitas, não havia pousadas (a hospedagem se concentrava em casas de família) ou restaurantes. 

Hoje, ainda se trata de um destino rústico, com ruas de terra e imóveis simples, mas a mudança é evidente. Segundo Vicente, já são 14 pousadas, 7 restaurantes e 12 agências de turismo, que vendem 25 atrações turísticas.

A flutuação é o carro-chefe, mas há outros programas. Para não comprometer as nascentes, protetor solar e repelente costumam ser proibidos: deixe para passar ao sair das atrações. Fique atento nas estradas: é comum avistar emas, tucanos e outros animais silvestres.

CACHOEIRA SERRA AZUL

Cachoeira Serra Azul, em Nobres

Cachoeira Serra Azul, em Nobres Foto: Adriana Moreira/Estadão

Fica dentro da propriedade adquirida pelo Sesc, cujo potencial ainda vem sendo mapeado. A cachoeira é uma das atrações abertas ao público – para chegar a ela, no entanto, é preciso enfrentar 800 metros de escadaria antes de conseguir a recompensa: flutuar no poço de águas cristalinas, com aproximadamente 6 metros de profundidade. Colete salva-vidas, máscara e snorkel estão incluídos: você vai precisar deles para observar as dezenas de piraputangas que circulam por ali. Elas não caíram da cascata de 46 metros de altura nem foram colocadas ali: simplesmente subiram o rio. Para voltar, dispense a escada: a tirolesa de 700 metros de extensão oferece emoção na medida certa. Preços: R$ 70 (flutuação) ou R$ 105 (com tirolesa).

FLUTUAÇÃO NO RIO TRISTE

Flutuação no Rio Triste, em Nobres

Flutuação no Rio Triste, em Nobres Foto: Adriana Moreira/Estadão

De triste, só mesmo o nome do rio: a flutuação ali é só alegria. São cerca de 1.500 metros por águas rasas, em que não é preciso fazer nada além de se deixar levar pela correnteza. Aliás, quanto menos movimento, melhor para a visibilidade: além das fáceis piraputangas, dá para ver dourados e até as arraias. Na nossa visita, no entanto, elas estavam bem escondidas: apenas uma, pequenininha, deu as caras. Preço: R$ 75. 

FLUTUAÇÃO NO AQUÁRIO ENCANTADO

Piraputangas, figurinhas fáceis nos rios de Nobres

Piraputangas, figurinhas fáceis nos rios de Nobres Foto: Adriana Moreira/Estadão

Localizado no Rio Salobra, o Aquário Encantado se destaca por seu poço de seis metros de profundidade, por onde brota a água cristalina, repleta de peixes. Depois de nadar ali por alguns minutos, os turistas partem para a flutuação no Rio Salobra. Preço: R$ 75. No local, serve-se almoço em sistema bufê, simples e caseiro, pago à parte.

LAGOA DAS ARARAS

Lagoa das Araras, em Nobres: aves se refugiam ali no fim de tarde

Lagoa das Araras, em Nobres: aves se refugiam ali no fim de tarde Foto: Adriana Moreira/Estadão

Mais próxima ao centro de Bom Jardim, a Lagoa das Araras é exatamente o que o nome diz: um alagado repleto de buritis para onde, no fim da tarde, diversas espécies de aves vêm se aninhar. As araras estão lá, como promete a atração, mas há também garças, biguás, maritacas, periquitos e até um gavião esperando um pássaro se distrair para atacar os ninhos. Chegue por volta das

17 horas, besuntado de repelente. Preço: R$ 15.

MIRANTE DO CERRADO

Tirolesa do Mirante do Cerrado. Vai encarar? 

Tirolesa do Mirante do Cerrado. Vai encarar?  Foto: Adriana Moreira/Estadão

Trata-se de um lugar para relaxar. No alto de um morro, próximo ao Aquário Encantado, o bar oferece uma bela panorâmica de Bom Jardim, com uma piscina em forma de peixe para se refrescar enquanto aprecia o pôr do sol. Se estiver sentindo falta de emoção extra, a tirolesa de 700 metros de extensão (R$ 30, pagos à parte) dá conta do recado. Preço: R$ 25. 

Trilhas e praias para curtir a Chapada

Véu da Noiva, a cachoeira mais famosa, só pode ser vista do mirante. Mas há outras opções para se refrescar no parque nacional

Cachoeira Véu de Noiva, cartão-postal da Chapada dos Guimarães

Cachoeira Véu de Noiva, cartão-postal da Chapada dos Guimarães Foto: Adriana Moreira/Estadão

A imponência da cachoeira Véu de Noiva permanece igual, mesmo na época de seca, quando há menos volume d’água. Agora, contudo, quem vai ao Parque Nacional da Chapada dos Guimarães só pode observá-la do mirante: sentir seus respingos sobre o rosto, como fiz há 12 anos, é impossível. A trilha que levava a seu poço foi fechada por risco de desmoronamento no entorno da cascata.

Para as melhores fotos, prefira a parte da tarde. Mas a beleza é uma só a qualquer hora: as águas do Rio Coxipozinho despencam a 86 metros (equivalente a um prédio de 28 andares), pelas bordas de um imenso paredão de arenito. Embora o banho ali seja vetado, há outras maneiras de se refrescar do calor mato-grossense no parque. Duas cachoeiras que ficavam em propriedades vizinhas foram incorporadas à área protegida, para a alegria dos visitantes. 

Praia no cerrado

Praia que formada pela Cachoeirinha, no Parque Nacional Chapada dos Guimarães

Praia que formada pela Cachoeirinha, no Parque Nacional Chapada dos Guimarães Foto: Adriana Moreira/Estadão

A dos Namorados é menorzinha, compacta, mas deliciosa para passar o tempo no seu poço raso. A segunda, a Cachoeirinha, tem uma praia maior, para jogar a canga na areia e se refestelar sob o sol do cerrado. A piscina natural que se forma ali é ótima para ir com as crianças – mesmo debaixo da cascata, a água chega na altura da cintura. Uma delícia, aproveitada em igual medida por turistas e moradores das proximidades. 

A trilha que leva a ambas tem cerca de 1.200 metros de extensão, é autoguiada e bem marcada – leve água e, se quiser curtir as cachoeiras por mais tempo, também um lanche. No caminho, repare na vegetação: próximo à entrada do parque, ela é ressecada, típica do cerrado. Como há milhões de anos a área era ocupada pelo mar, é comum encontrar no caminho fósseis de conchas e animais marinhos. Fotografe e devolva para o mesmo lugar, ok?

Fóssil encontrado na Chapada dos Guimarães

Fóssil encontrado na Chapada dos Guimarães Foto: Adriana Moreira/Estadão

À medida que se avança para mais perto das águas, as árvores ficam altas e imponentes, e dá para sentir a umidade no ar. “Mas as espécies são as mesmas, a diferença está na cobertura do solo”, explica o guia Lucas Buttura, da Confiança Turismo. 

Para ir a outros atrativos, no entanto, será preciso o acompanhamento de um guia. O Circuito das Cachoeiras, por exemplo, tem 10 quilômetros de extensão (ida e volta) e passa por seis cascatas. Vá com roupa de banho por baixo para se refrescar sempre que possível – e não esqueça o protetor solar. A entrada no parque é grátis.

Na cidade

Igreja de Sant'Ana, do século 18, no centrinho da cidade de Chapada dos Guimarães

Igreja de Sant'Ana, do século 18, no centrinho da cidade de Chapada dos Guimarães Foto: Adriana Moreira/Estadão

Chapada dos Guimarães é também o nome da simpática cidadezinha onde está o parque nacional. Mais alta que Cuiabá (800 metros acima do nível do mar), tem um clima mais fresco à noite, especialmente no inverno. Um alívio em comparação ao calorão da capital. 

No centrinho, a praça no entorno da Igreja de Nossa Senhora de Sant’Ana, do século 18, reúne uma feira de artesanato, bares e lojinhas simpáticas. A Onng, por exemplo, vende camisetas de boa qualidade, com frases tradicionais do Mato Grosso. Ao lado, a Delícias do Cerrado tem picolés e sorvetes com sabores típicos, como umbu, buriti e tamarindo. 

Almoço com vista

Vista do restaurante Morro dos Ventos

Vista do restaurante Morro dos Ventos Foto: Adriana Moreira/Estadão

Mais afastado do centro, vale a pena reservar um almoço no Morro dos Ventos, restaurante com um belo mirante – em dias claros, dá para ver até os prédios de Cuiabá, a cerca de 70 quilômetros de distância.

Mas o que seria da vista se não fossem os sabores? O menu tampouco decepciona, com pratos típicos do Estado, muito bem servidos. Pedimos a costelinha de porco com arroz (R$ 136, para três pessoas, mas quatro comem tranquilamente), acompanhada de feijão, torresmo, farofa de banana e salada. Para fazer a digestão, melhor caminhar (bem pouco) até o mirante antes de voltar para o hotel. 

Alterne sossego e bate-voltas em resort

Localizado à beira do Lago do Manso, Malai Manso tem localização estratégica entre Cuiabá, Nobres e Chapada dos Guimarães e funciona no sistema all-inclusive

Piscina para relaxar no Malai Manso

Piscina para relaxar no Malai Manso Foto: Adriana Moreira/Estadão

São mais de 260 acomodações entre quartos e bangalôs, 117 hectares de área e atrações na medida para levar as crianças. Mesmo com números superlativos (especialmente aos fins de semana, quando fica lotado), o Malai Manso, primeiro resort do Estado, se esforça para não ser impessoal, como é comum em hotelões. O atendimento, de modo geral, é cuidadoso, e a equipe nitidamente se empenha para cumprir eventuais pedidos dos hóspedes.

Às margens do Lago do Manso, o Malai tem localização estratégica, a 1 hora de Cuiabá, 45 minutos de Nobres e 1h30 do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães. Minha programação alternou dias puxados, com trilhas e foco no ecoturismo, com dias mais relaxados no resort. Afinal, a piscina (e o open bar) está ali para isso. Aliás, o sistema é all-inclusive, com diárias a partir de R$ 997 o casal, com duas crianças de até 11 anos grátis no mesmo quarto.

Caiaque, lancha ou SUP?

Stand up paddle e caiaque para curtir o Lago do Manso

Stand up paddle e caiaque para curtir o Lago do Manso Foto: Adriana Moreira/Estadão

Dias mais relaxados não significam necessariamente não fazer nada. O resort tem atrações como campo de golfe, spa, arvorismo, parede de escalada, equipe de recreação e a possibilidade de contratar passeios para Nobres e Chapada. Ou apenas curtir a lagoa com atividades como canoagem e stand-up paddle (R$ 75 cada, na Companhia da Aventura).

Preferi me arriscar no SUP, sobre uma prancha perfeita para iniciantes sem muita habilidade, como eu. Me desequilibrei apenas uma vez, quando um jet ski encheu o manso lago de ondas. Mas foi um alívio me refrescar do calorão do Centro-Oeste.

Caso você não queira mesmo fazer esforço, vale contratar um passeio de lancha (R$ 259) pela lagoa, para ver de outros ângulos formações clássicas da Chapada, como os morros do Chapéu e do Navio. A parada é numa ilha que só se forma durante o período de seca, apelidada de Bora Bora, repleta de ninhos de garças e quero-queros. Há saídas de manhã e à tarde, mas a vantagem de ir no segundo horário é o belo pôr do sol.

Saiba antes de ir

Quando ir e como chegar às cidades do roteiro

Paradinha na estrada para clicar as formações da Chapada dos Guimarães

Paradinha na estrada para clicar as formações da Chapada dos Guimarães Foto: Adriana Moreira/Estadão

De Cuiabá a Nobres, são 2h de carro; para a cidade de Chapada dos Guimarães, gasta-se 1h. Vale alugar carro para ter mais mobilidade entre os destinos, mas há a possibilidade de contratar traslados para os passeios.

Quando ir

A estação seca, de maio a setembro, tem dias ensolarados e temperaturas quase sempre altas, mas as cachoeiras têm menor volume d’água. De outubro a abril, o calor é forte, e a chuvas, diárias. 

Passeios

Confiança Turismo oferece tours para os principais destinos do Estado, com guia e traslado, e saídas em grupo ou individuais. Na Companhia da Aventura, os roteiros privilegiam o contato com a natureza, com trilhas, rafting e outras atrações. Em Nobres, o site do Sesc lista as agências locais.