O adeus da unidade do 9º BEC após meio século em Cuiabá

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Batalhão de engenharia não tem raízes. Sempre deixa o antigo endereço em busca de nova frente de trabalho, ou missão, como se diz no jargão militar.

Sempre foi assim com o 9º Batalhão de Engenharia de Construção (9º BEC), criado em 26 de dezembro de 1917 e instalado no dia 2 de janeiro de 1918, em São Gabriel, no Rio Grande do Sul, com o nome de 3º Batalhão de Engenharia.

A após mudanças de aquartelamento naquele Estado e de trocar a denominação algumas vezes, ganhou a atual nomenclatura para se instalar em Cuiabá, em 31 de janeiro de 1971.

Depois de meio século entre cuiabanos, essa unidade do Exército está a um passo de hastear sua bandeira e ecoar seu grito de guerra – Nós fazemos! – em Sinop (500 km ao Norte da Capital), numa transferência gradual que se completará em 2027.

Meio século em Cuiabá. Exatamente esse é o tempo em que o 9º BEC, cujo patrono é o general José Vieira Couto de Magalhães, está entre a população cuiabana na qual se funde e com a qual se confunde.

Em cinco décadas, sua marca está em todas as regiões mato-grossenses, mas seu grande feito foi a abertura da rodovia BR-163, a Cuiabá-Santarém, ou Santarém-Cuiabá, como se diz no Pará, no trecho compreendido entre Posto Gil (município de Diamantino) e Santa Júlia, do lado paraense.

A construção da BR-163 começou um pouco antes da instalação do 9º BEC.

Mais exato ainda, em 16 de setembro de 1970, por militares da unidade, que foram seus precursores na obra, executada com a participação de civis contratados.

A obra da BR-163 foi delegada ao Exército pelo Ministério dos Transportes e sua execução era considerada estratégica, dentro do Plano de Integração Nacional (PIN), para a ocupação do vazio demográfico amazônico.

Dois bordões a inspiravam: “Integrar para não entregar” e “Terra sem homens para homens sem terra”.

Para comandar o batalhão que se instalava em Cuiabá, o Exército designou o coronel José Meirelles, que recebeu a missão de executar a obra da BR-163 até a divisa com o Pará, numa extensão de 793 quilômetros, onde o 9º BEC se encontraria com o 8º BEC, de Santarém.

Porém, o ritmo dos trabalhos foi tão intenso que a frente da obra rumo Norte estendeu seu trecho ao córrego Santa Júlia, no Pará, 321 quilômetros à frente, perfazendo a extensão de 1.114 quilômetros.

Numa época sem os recursos atuais, o 9º BEC dependia de serviço de aerofotogrametria, o que era feito pela companhia aérea Cruzeiro do Sul.

Os acampamentos do pessoal da obra eram montados às margens dos rios, o que contribuía para o aumento da incidência da malária.

Isso levou Meirelles a construir carroções montados sobre chassis, e os rebocava na medida em que a frente de serviço avançava.

As gerigonças foram apelidadas de “Circo do Meirelles”, mas reduziram a taxa da doença.

Com a obra da BR-163, o 9º BEC estava no auge da popularidade.

Para evitar possíveis ciumeiras por parte do 16º Batalhão de Caçadores (rebatizado 44º Batalhão de Infantaria Motorizado) em Cuiabá, Meirelles criou o conciliador slogan “Integração é com o 9º BEC e Segurança com o 16º Batalhão de Caçadores”.

Mesmo com sua formação militar e profissionalismo, o comandante do 9º BEC, nascido em Minas Gerais, lançou mão de seu lado político mineiro e tratou de evitar que a popularidade de seu batalhão desagradasse a outra unidade do Exército em Cuiabá.

Após deixar o serviço ativo, Meirelles foi vice-prefeito e prefeito da Capital mato-grossense.

Construindo e pavimentando rodovias, atuando em atendimento de assentamentos da reforma agrária, enviando contingentes para Força de Paz da ONU no exterior, transmitindo ensinamentos a milhares de jovens que em suas fileiras prestaram o Serviço Militar, o 9º BEC ganhou um quê de cuiabania.

Esse sentimento é respeitado pelo Exército, que, no entanto, tem todas suas unidades acima das questões municipais, por entendê-las peças de uma grande engrenagem da segurança nacional.

A oficialização da transferência partiu do Ministério da Defesa, por meio do Estado-Maior do Exército, e aconteceu em 18 de dezembro de 2020, sob a justificativa de ganhos estratégicos e logísticos.

Porém, essa decisão foi antecipada em setembro daquele ano, pelo comandante do Departamento de Engenharia de Construção do Exército, general de Exército Júlio César de Arruda, em reunião com a então prefeita Rosana Martinelli, de Sinop.

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Carroção do Meirelles

Meirelles construiu carroções montados sobre chassis, e os rebocava na medida em que a frente de serviço avançava.

Com a transferência do 9º BEC para Sinop, o Exército diminui o vácuo da presença militar nos 1.400 quilômetros pela BR-163 que separam Cuiabá de Itaituba (PA), para 900 quilômetros.

Nessa cidade paraense, se instalou o 53º Batalhão de Selva.

A BR-163 – Em 20 de outubro de 1976, na Cachoeira do Curuá, no Pará, o então presidente Ernesto Geisel inaugurou a rodovia.

Geisel estava acompanhado pelos ministros Sílvio Frota (Exército) e Dirceu Nogueira (Transportes) e dos governadores Garcia Neto e Aloísio da Costa Chaves (Pará).

A rodovia está pavimentada entre Cuiabá e Itaituba, onde se construiu no distrito de Miritituba, um porto no rio Tapajós, por onde Mato Grosso escoa commodities agrícolas para os quatro cantos do mundo.

De Itaituba a Santarém, resta um curto trecho sem pavimentação.

Fonte: Diário de Cuiabá