“Um pouco de esperança em meio a um mar de desespero”, assim classificou a enfermeira Andriele Miranda, que atua na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Sul, no bairro Pascoal Ramos, a tarde de terça-feira (30), em que ela e toda a equipe da unidade puderam se despedir pela porta da frente de cinco pacientes que tiveram alta da covid-19. O momento foi marcado por muita emoção, gratidão, reencontro de famílias, alegria e alívio.
Receberam alta os pacientes Orlando Cesar Almeida Teles, 55 anos, que passou 7 dias internado; Onofre Rosa de Mesquita, 81 anos, que passou 6 dias internado; Martinho Ferreira de Almeida, 59 anos, que ficou 8 dias internado; Maria Antônia da Costa Silva, 60 anos, que esteve por 10 dias internada e José Francisco Rodrigues, 62 anos, que ficou 8 dias internado na UPA Sul.
Reencontros e gratidão
“Foi difícil, não foi fácil. Mas Deus é maior, ele é o Todo Poderoso. Eu venci mais uma, tenho o privilégio de sair aqui e ver porque eu achei que não iria ver mais a minha família, mas Deus está acima de tudo. Foi força, muita luta, muita determinação. Foram 10 dias de muito sofrimento, buscando a Deus e orando bastante porque, hoje, pra sair aqui do lado de fora vivo foi maravilhoso! Obrigado a todos que me ajudaram, que oraram por mim. Aqui eu recebi um milagre, aqui eu recebi um tratamento especial, aqui eu cheguei a 50% de perda do pulmão e Deus entrou com providência e hoje estou curado pela honra e glória do Senhor. Quero agradecer a todos eles que se dedicaram, de madrugada eles eram as únicas pessoas que nós podíamos comunicar, trazendo recado e levando recado pra nós, medicando nós e foi muito feliz, foi difícil , mas venci”, disse Martinho Ferreira Almeida ao sair da unidade e reencontrar a família.
A filha dele, Sueli Campos Almeida, disse que a família inteira passou 10 dias de muita angústia, medo e tristeza, mas que, em meio a esse momento difícil, também houve união e empatia. “Cada um sente a dor do outro aqui. A gente está tendo contato com as outras famílias. Então a gente vira amigo, vira irmão. Todo mundo é igual. A covid veio pra isso: para reunir a família”, destacou, enquanto aguardava o pai junto a outros familiares de pacientes que receberam alta.
Para Jhulia Kevinny, neta da feirante Maria Antônia da Cruz, 64 anos, que passou 6 dias internada, o momento do reencontro na alta da avó também foi de muita gratidão. “Foi angustiante pra família inteira, nós sofremos muito porque não podemos ver, mas o tratamento foi excelente, sempre tinha alguém aqui pra falar que ela estava bem, o porteiro que fica para entregar as comidas estava tranquilizando a gente. É dez! Pela honra e glória do Senhor ela saiu e está sendo lindo, não sabia que era assim e eu também não sabia que iria passar por isso um dia, mas eu estou passando e eu dou glória a Deus por ela estar saindo disso”.
Dona Maria Antônia compartilhou do mesmo sentimento da neta: “Agradeço muito a Deus por isso e à toda a equipe do hospital que me tratou superbem, não me deixou faltar nada, me cuidaram muito bem mesmo! Eu me senti acolhida. Graças a Deus, foi um tratamento humanitário, muito bom! Não imaginava essa despedida, fiquei muito feliz e muito emocionada. Eu espero que essa pandemia acabe porque, senão, quem vai acabar somos nós. Só tenho a agradecer a Deus e todo o pessoal aqui que me acolheu de braços abertos, noites e noites na beira da minha cama me ajudando, isso é muito bom, muito obrigada mesmo!”, agradeceu.
Esperança para continuar na linha de frente
Para a enfermeira Andriele Miranda, que ajudou a cuidar de todos os pacientes que receberam alta na UPA Pascoal Ramos, entregá-los de volta às suas famílias lhe deu um alívio e força para continuar o trabalho na linha de frente do combate à covid-19. “Não foi nenhum pouco fácil. Às vezes a gente acha que está sendo mais difícil do que o começo. É bom ver que no meio desse mar de desespero tem um pouco de esperança. É bom ver quando a gente consegue mandar o paciente para casa tranquilo e bem. Dá um alívio pra continuar porque, às vezes, a gente só vê aquele cenário triste das pessoas piorando ou da pessoa vindo a óbito e a gente não ter muito o que fazer pra salvar”, relata.
A profissional da saúde lembra que a doença ainda está fazendo vítimas, os índices estão altos e que, diante de tudo isso, as equipes das unidades de saúde estão tentando reverter esse quadro. “Mas a população precisa ajudar com a higiene, o uso do álcool, com a máscara, evitar aglomeração, evitar sair de casa porque é um vírus que sofre mutação, então, cada vez ele vai ficar pior e é por isso que a gente está lotado. Não está tendo todo esse apreço, esse cuidado pela vida como a gente precisa que tenha. É isso que eu peço à população: que ela tenha apreço e cuidado pela vida porque ela é curta”, alerta Andriele.
Veja vídeo