O secretário de Estado de Segurança Pública (Sesp), Alexandre Bustamante, afirmou que as Forças de Segurança de Mato Grosso têm trabalhado intensamente no combate à pandemia do novo coronavírus (Covid-19).
No entanto, mesmo com todos os esforços, disse que a população precisar ter consciência da gravidade da doença e cumprir as recomendações das autoridades para evitar a propagação do vírus.
“Não adianta fazer decreto para ficar em isolamento e a sociedade não querer ficar. É uma situação muito constrangedora para todos, tanto para os policiais que fazem a abordagem, quanto para o cidadão que não entende que corre um grande risco de estar na rua. Não só para ele, mas para outras pessoas. Por isso que depende da consciência do cidadão e não da força do decreto. Eu acho que Polícia foi feita para pegar bandido”, afirmou em entrevista ao MidiaNews.
O gestor ainda falou sobre o aumento de feminicídios ocorridos no Estado. De janeiro a maio deste ano, este tipo de crime teve um aumento de 75%.
“Nesse momento de Covid, a maioria das pessoas estão isoladas, a gente se assusta, mas era esperado esse número com o recolhimento da família dentro de casa. Mas estamos intensificando a Lei Maria da Penha nos Municípios e o fruto desse trabalho é para tentar diminuir”, explicou.
Os cuidados tomados com os detentos que estão nas penitenciárias do Estado e também o combate da Polícia contra a aglomeração de pessoas também foi discutido com o secretário.
Leia a entrevista na íntegra:
MidiaNews – De janeiro a maio deste ano houve um aumento de 75% dos feminicídios em Mato Grosso. A que o senhor deve essa evolução tão grande?
Alexandre Bustamante – Quando a gente trabalha com percentual, é muito complicado, porque a gente fala de 75% numa escala de números. E quando se fala de números reais, a gente verifica que em 2019 no mês de maio nós tivemos um feminicídio no Estado e agora em maio de 2020 tivemos seis. Realmente esse é um aumento muito grande, mas quando você está trabalhando em nível de Estado… É lamentável esse aumento sem dúvida nenhuma, nada justifica o feminicídio, mas estamos trabalhando para diminuir isso.
Nesse momento de Covid, a maioria das pessoas estão isoladas, a gente se assusta, mas era esperado esse número com o recolhimento da família dentro de casa. Mas estamos intensificando a Lei Maria da Penha nos Municípios e o fruto desse trabalho é para tentar diminuir. E é um crime que não tem outra forma de se combater. É com a denúncia. Então se o vizinho souber, tem que denunciar, se o parente souber, tem que denunciar. E principalmente a mulher, que se sentiu oprimida, tem que se manifestar para que se evite sempre o pior.
MidiaNews – Os índices de criminalidade vêm caindo em Mato Grosso desde 2018. O que levou a esta redução?
Alexandre Bustamante – Não dá para falar que foi isso ou aquilo, não há estudo criminalístico no mundo que pode confirmar e afirmar essas coisas. Na verdade têm três fatores. O primeiro é o bom trabalho das Forças de Segurança e o setor de inteligência aplicado na área operacional. Esses são os principais. Segundo, é que ano passado nós tivemos operação dentro da Penitenciária Central do Estado (PCE), que também desarticulou bastante a criminalização. E em terceiro, esse ano tivemos a Covid. Então esses três fatores se somaram e tudo ajudou, mas para mim o principal é o trabalho da área de Segurança.
MidiaNews – Então o senhor acha que a pandemia também ajudou na queda dos índices.
Alexandre Bustamante – Eu não posso afirmar veemente isso. Essa visão que eu tenho é que a menor circulação de pessoas, a maior presença dentro de casa, isso tudo influencia bastante, na minha opinião.
MidiaNews – Todos sabem que o efetivo policial em Mato Grosso ainda é aquém da necessidade. Agora, além de combater a bandidagem, a Polícia precisa vigiar aglomerações. Está dando conta deste recado?
Alexandre Bustamante – Eu acredito que sim, por mais que a gente ache e falem que temos poucos policiais, que está sempre aquém do necessário, os nossos profissionais estão se desdobrando, a gente tem dado uma responsabilidade muito positiva nas ruas. Mas, mais do que a presença da Polícia nas ruas, é a consciência da população, porque não adianta fazer decreto para ficar em isolamento e a sociedade não querer ficar. É uma situação muito constrangedora para todos, tanto para os policiais que fazem a abordagem, quanto para o cidadão que não entende que corre um grande risco de estar na rua. Não só para ele, mas para outras pessoas. Por isso que depende da consciência do cidadão e não da força do decreto. Eu acho que Polícia foi feita para pegar bandido.
MidiaNews – Não acha que a Polícia precisa ser mais dura no combate às aglomerações? Porque estas pessoas estão cometendo crime contra a saúde pública.
Alexandre Bustamante – A Polícia está sendo bem dura, já teve matérias inclusive em âmbito nacional, falando do exemplo das polícias aqui do Estado com relação aos fechamentos de festas. Hoje a Polícia Militar e a Civil aqui de Mato Grosso têm um procedimento de que todas as denúncias que chegam aqui no 190 serem checadas, porque a Polícia não tem como adivinhar, então tudo é verificado 100%.
MidiaNews – Temos visto casos de policiais que contraíram Covid no trabalho. Não estaria faltando equipamentos de proteção para estes profissionais?
Alexandre Bustamante – Não está faltando nada para ninguém. O que acontece é que estamos passando por uma pandemia mundial, não tem nenhuma categoria que está livre dela. Se eu perguntar de você se sabe de algum jornalista que pegou, você não vai falar para mim que é por causa de EPIs (Equipamento de Proteção Individual), é porque tem que pegar. E a mesma coisa é nas Forças de Segurança. A gente lamenta muito o falecimento de alguns civis, militares e agentes prisionais, mas a gente sabe que não está imune, gostaria eu que tivesse imune, mas não é assim. Os EPIs estão aí, os procedimentos e protocolos também de segurança. Mas é isso, somos humanos e estamos suscetíveis a ser acometidos pela doença.
MidiaNews – Recentemente o juiz Geraldo Fidelis afirmou que havia a suspeita de 600 casos de coronavírus na PCE. Esse número procede?
Alexandre Bustamante – Não procede, e ele sabe disso. Eu acredito que houve uma deturpação da fala dele, porque o que aconteceu foi que alguns detentos testaram positivos, mas assintomáticos, em uma ala que tinha 600 pessoas. Então foi feito o isolamento desses dois e feito o teste nos outros 600 e não deu Covid em outras pessoas.
MidiaNews – O Governo tem como atender a determinação de fornecer medicamentos e testes aos detentos da PCE?
Alexandre Bustamante – Não só para a PCE, mas para o Estado inteiro. Tanto o Governo Federal, quanto o Estadual e o Ministério da Justiça estão empenhados para que essa pandemia não alcance com muita força o sistema prisional. Não estão imunes, é claro, mas que não alcance com muita força, porque você imagina que a PCE aqui tem 2.500 reeducandos, é maior que muitas cidades do interior. E se acontecer lá dentro como isso vai impactar no sistema de Saúde do Estado? Então gente tem que realmente cuidar, não só deles, mas de todos que estão aqui fora, principalmente por causa da aglomeração.
MidiaNews – O senhor não teme que haja rebeliões caso a situação da Covid fuja do controle?
Alexandre Bustamante – Os que estão lá dentro estão bem cientes, estão seguindo todos os protocolos. Eles também estão com medo de pegar a doença, eles têm familiares aqui fora. Estão bem tranquilos e entendem o processo como está.
MidiaNews – O MPE abriu uma investigação contra o senhor por conta de contratações temporárias, quando há pessoas concursadas esperando o chamamento. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Alexandre Bustamante – Eu nem intimado fui ainda, não tenho nada a dizer. Eu nem estou sabendo desse processo, fiquei sabendo pela imprensa.
Mas quanto a isso estou bem tranquilo, eu não fui intimado, tenho determinação do Ministério Público para manter as contratações. O que está faltando é esclarecimento em algumas denúncias de concursados, que têm uma necessidade muito grande de serem contratados, porque está faltando emprego, mas o Governo vai nomear assim que for necessário. Enquanto isso, não vai nomear.
MidiaNews – Mas há realmente essa situação de pessoas concursadas esperando para serem chamadas enquanto estão realizando contratações temporárias?
Alexandre Bustamante – Eu não contratei ninguém a mais. Todos foram prorrogações de contratos antigos. Homologuei agora em abril um concurso de cadastro reserva para o Sistema Socioeducativo, e quem nomeia não é o secretário de Segurança, é o governador. Eu tenho unidades no interior, especificamente em Lucas do Rio Verde, que se eu não tiver contratados, ela fecha. E se o governador não nomear, eu tenho que contratar. Essa é a regra.
MidiaNews – Como a Sesp tem agido nesse momento novo que estamos vivendo, com essa pandemia matando milhares de pessoas…
Alexandre Bustamante – Vai ser complicado para todos nós. Hoje estamos fazendo essa entrevista por telefone, em outros tempos você estaria sentada na minha frente. O mundo está mudando e a Segurança também está. As estão pessoas usando máscaras, agora elas inclusive combinam até com a roupa. Os policiais nas ruas todos usando máscaras, alguns usando luvas, o uso de álcool para limpeza nunca foi tão grande. Hoje eu vi uma reportagem mostrando que nos EUA a quantidade de infectados cresceu mais porque abriram o comércio, mas nós vamos ficar com o comércio fechado, com a vida nesse ritmo até quando? Será que essa pandemia passa se continuar desse jeito? Será que depois do pico a sociedade vai voltar ao normal?
O que nós temos que ter é aparato de Saúde para poder fazer os tratamentos. Aqui em Mato Grosso os indicadores apontam que bastante gente esta infectada, mas ninguém fala dos recuperados, que temos bastante também. Temos que olhar essa diferença e também a capacidade que o Estado e os municípios têm de atender quem está doente. Na área de Segurança, a gente se preocupa muito, porque nós já tivemos óbitos, estamos muito expostos, não tem jeito de lutar. A gente sabe que essa doença mata, e os policais são todos humanos, têm famílias…
Fonte: Midianews