‘Presos em operação são bandidos travestidos de policiais’, afirma secretário

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O secretário de Estado de Segurança Pública, Alexandre Bustamante, classificou o grupo de policiais presos na Operação Renegados de “bandidos travestidos de policiais”.

A operação foi desencadeada pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) e a Polícia Civil para o cumprimento de 22 mandados de prisão contra policiais civis e militares, criminosos, e até mesmo a namorada de um investigador. Eles são acusado de crimes como concussão, corrupção, peculato, roubo e tráfico.

“Essas pessoas que foram presas não são policiais. São bandidos. Bandidos travestidos de policiais”, disparou em entrevista ao MidiaNews.

Bustamante ainda declarou que a ordem é prender qualquer bandido, independente de onde esteja. “Seja na Polícia, no Estado, na sociedade civil”, disse.

Na entrevista, ele ainda comentou sobre  a operação na favela do Jacarezinho no Rio de Janeiro, uso de armas por cidadãos comuns e aglomerações na pandemia.

Leia a entrevista na íntegra:

MidiaNews – Dias atrás o governador Mauro Mendes cobrou das prefeituras uma maior fiscalização das aglomerações, dizendo que a PM não tem como ficar cuidando disso. Ao mesmo tempo, a Operação Dispersão tem tido bom resultado. Qual é a opinião do senhor? A PM precisa voltar a focar em prender bandido?

Alexandre Bustamante – Na realidade, o que o governador quis dizer é que o cidadão precisa ter mais consciência e não depender da Polícia Militar para fazer uma fiscalização. Tem que ser pessoal. É uma doença que está aí matando todo dia as pessoas. Agora, ter que mobilizar toda a área da Segurança Pública para ficar combatendo aglomerações é realmente uma coisa complicada. A população precisa ter consciência que a pandemia está aí, está presente, e cada cidadão precisa fazer sua parte evitando aglomerações.

A Polícia Militar tem o papel institucional e constitucional dela de combater e prevenir a criminalidade.

MidiaNews – Ao mesmo tempo, percebemos que a Operação Dispersão tem tido bastante efetividade. Não seria um risco acabar com essas ações?

Alexandre Bustamante – O que a gente precisa é aumentar a consciência do cidadão para que as aglomerações não aconteçam. O Governo tem dialogado com a sociedade através da imprensa para que cada um tenha essa responsabilidade.

MidiaNews – Mas a Polícia continuará nesse trabalho?

Alexandre Bustamante – A determinação do governador é taxativa: evitar aglomeração a todo custo.  Hoje em dia, temos uma demanda que é a pandemia. A Segurança Pública está ajudando na distribuição de vacinas, evitando aglomerações, que é papel da Segurança Pública.

Só que algumas coisas depende do cidadão. Evitar aglomeração depende do cidadão. Porque se ele quiser fazer aglomeração a Polícia vai estar combatendo e vai continuar tendo aglomeração. O que a gente precisa é ter responsabilidade para evitar aglomeração. Se a Polícia não está destinada só a isso, ela tem condições de fazer outras coisas, por exemplo, fiscalizar ação do combate ao tráfico de drogas, fiscalizar ação do combate ao crime organizado. A Polícia Militar não consegue fazer tudo ao mesmo tempo. É muito difícil.

Então, o que o governador quer falar é o seguinte: precisamos dos policiais fazendo a área finalística deles para continuar mantendo os índices da criminalidade sob controle e redução.

MidiaNews – Como anda a vacinação da Segurança Pública contra a Covid-19?

Alexandre Bustamante – Estamos chegando na fase final, acreditamos que até o final de maio, 100% da tropa de segurança já terá vacinado com a primeira dose e já começamos a segunda dose nos primeiros que foram vacinados. E aí vai depender cada tipo de vacinada de cada um.

MidiaNews –  Recentemente o Gaeco realizou a Operação Renegados que praticamente resultou no “fechamento” de uma delegacia, tal a quantidade de policiais lotados em um mesmo local que foram acusados de crimes.  Não considera que estas condutas são péssimas para a imagem da Polícia?

Alexandre Bustamante – Não. Não tem nada de péssimo não. Essas pessoas que foram presas não são policiais. São bandidos. Bandidos travestidos de policiais. A maioria dos profissionais [da Segurança Pública] são gente do bem. Os ruins vamos prender. Bandido, independente de onde ele esteja, vai ser preso. Seja na Polícia, no Estado, na sociedade civil. A Polícia trabalha combatendo bandidos. Se tiver na Polícia, a gente prende também.

MidiaNews –  Nenhum delegado foi citado nessa Operação. É possível ocorrer casos tão graves de corrupção dentro de uma delegacia e um delegado não tomar conhecimento?

Alexandre Bustamante – Possível é, mas não perpetua para sempre, porque a Polícia também está sempre investigando. Tanto é que fizemos as prisões necessárias.

MidiaNews – O senhor é um policial de carreira. Defende punição pesada para policiais que saem da linha?

Alexandre Bustamante- Defendo uma punição justa. O que está na lei. Nem mais, nem menos. Eles vão responder – se tiverem cometido crimes transvestidos de policiais – as penas que a lei determina.

MidiaNews – Na semana passada, uma operação na favela de Jacarezinho, no Rio de Janeiro, terminou com 28 mortos. Houve quem visse que alguns moradores foram executados. Como analisa aquela ação?

Alexandre Bustamante – Vamos esperar as investigações, apurações para saber se foram moradores executados ou não. Eu não faço conjecturas em cima de informações que não tenho. Não tenho certeza de como foi a operação e as pessoas que foram mortas. Não posso dar uma opinião em cima de incertezas. Por isso, prefiro aguardar as investigações. Acredito no trabalho da Justiça, das polícias, da corregedoria e do Ministério Público. Quem tiver que ser punido, vai ser.

MidiaNews – Acha que traficante tem que ser tratado com toda a força do Estado?

Alexandre Bustamante – Tem que ser tratado com a lei. Não só traficante, como todo tipo de criminoso, como corruptos, assaltantes… Cada um tem sua punição adequada dentro do sistema jurídico brasileiro. O que não pode é o Estado permitir que exista uma lei que proíba e a pessoa faça.

MidiaNews –  Como vê os decretos presidenciais que facilitam a aquisição de armas no Brasil?  Não teme um aumento no número de acidentes com armas?

Alexandre Bustamante – Na última semana houve um incidente em Santa Catarina em que um rapaz matou pessoas com facas. Vão proibir uso da faca? Não vai né. O problema não é a arma. O problema é a pessoa que utiliza o equipamento. Eu tenho uma opinião formada como cidadão e não como secretário de que cada um pode ter a sua arma desde que responda pelo mau uso dela. É muito melhor ter o controle de todas as armas no Brasil, registradas e cada um com seu porte de arma e com uma pena mais severa de quem fizer mau uso dela ou não fizer a guarda necessária.

MidiaNews – Os índices criminais estão reduzindo no Estado. Alguns, inclusive, ficando abaixo de médias nacionais. Qual o trabalho desenvolvido pela Sesp para diminuir ainda mais o número de crimes em Mato Grosso?

Alexandre Bustamante – É um conjunto de fatores. Não vamos colocar a responsabilidade em um só fundamento. Temos um bom trabalho da Polícia, os homens da Segurança Pública; temos reflexo dos investimentos que estão sendo feitos na Segurança; a maior integração das forças estaduais e federais que tem resultado em maior quantidade de apreensão de drogas, maior recuperação de veículos, redução de crimes de roubo, furto e homicídio.

Alguns atribuem isso à pandemia, eu atribuo mais ao trabalho sistemático da Segurança Pública. Acredito que nós, policiais, cada vez mais estamos trabalhando melhor, com mais tecnologia, mais inteligência e o resultado é a redução de todos os índices. Temos, hoje, no Brasil diversos Estados que atravessam a pandemia e os resultados não são como os de Mato Grosso. É um trabalho conjunto.

Temos melhorado nosso sistema prisional, fazendo um controle maior das unidades prisionais. Temos mais efetividade na segurança na rua, mais viaturas… É o conjunto mesmo que vem fazendo com que haja essa redução sistemática e contínua.

MidiaNews – O programa Mais MT prevê investimentos de R$ 766 milhões em segurança nos próximos anos. Para 2021, quanto e em o que o Governo está investindo?

Alexandre Bustamante – Neste ano, agora para o primeiro semestre, já está destinado R$ 184 milhões em investimentos em todo o sistema. Sistema prisional, socioeducativo, Polícia Militar, Polícia Judiciária Civil, Bombeiros, Politec.

Os investimentos abrangem a criação do Batalhão Rural, aquisição de pistolas, munições, aeronaves, construção de novos raios em unidades prisionais, laboratório de análise da Politec, tecnologia embarcada, inquérito policial eletrônico, entre outros. Vamos melhorar a qualidade e aumentar o número de viaturas que atendem à sociedade e às forças de seguranças.

Onde houver necessidade de viaturas traçadas, teremos. Onde não houver necessidade, teremos viaturas condizentes com o terreno urbano. Foi o determinado pelo governador [Mauro Mendes]: que atenda melhor a área de segurança, mas sempre com foco na sociedade.

MidiaNews – Uma boa parte do dinheiro vai para inteligência. O senhor pode detalhar como será esse investimento?

Alexandre Bustamante – Sim, diversos. O uso de OCR (reconhecimento ótico de caracteres) é um exemplo. O uso de ferramenta de buscas e informações, outro. Querendo ou não, a tecnologia veio para somar. Todas estas ferramentas, que estão sendo colocadas à disposição da Segurança, vêm para otimizar o nosso trabalho. Outro exemplo são as ferramentas de videomonitoramento, que, ao possibilitar o reconhecimento facial, facilita a captura de pessoas foragidas.

MidiaNews – Deste total, R$ 230 milhões devem ir para o programa Tolerância Zero. Em que consiste?

Alexandre Bustamante – A gente tem diversos programas aqui dentro [da Secretaria de Segurança]. Programa Tolerância Zero, Águia, enfim. Vamos distribuir os investimentos em todos essas camadas. O Tolerância Zero trata do aparelhamento de estrutura da Segurança Pública no combate à criminalidade. E, serão [investidos] tudo isso que eu já te falei.

MidiaNews –  A bandidagem tem o que temer com esse endurecimento na segurança?

Alexandre Bustamante – Não. A bandidagem tem que respeitar o cidadão. Eu não me preocupo muito com a criminalidade. Eu preocupo em dar ao cidadão a segurança que ele merece. Então, todo investimento que está sendo feito na Segurança Pública reflete para o cidadão de bem. E, se tiver criminalidade nós vamos prevenir e combater quando houver.

Fonte: Midianews