Técnica do Samu é presa ao procurar UPA para tratar sintomas de coronavírus; vídeo

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Uma técnica de enfermagem do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi presa na noite de sexta-feira (12) após procurar por serviços médicos em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Chapada dos Guimarães (65 km de Cuiabá) com sintomas de Covid-19, o coronavírus.

Segundo relato da técnica, a prisão foi efetuada após um dos médicos da UPA, identificado como Silvio Batista Carneiro, tê-la denunciado por “expor perigo à vida de outrem” pelo fato de ela ter procurado uma unidade de saúde mesmo estando com suspeita de contágio.

A técnica, identificada como Antônia Helena de Azevedo, e sua filha, Joyce Antônia de Azevedo, foram medicadas na UPA e ao saírem da unidade de atendimento foram surpreendidas pela presença de policiais que solicitaram a condução de ambas à delegacia.

Já na unidade policial, por volta das 23h, mais uma vez as vítimas tiveram acesso limitado, tendo que esperar do lado de fora para falarem com o delegado porque poderiam apresentar riscos de saúde aos policiais. Em um vídeo encaminhado ao HNT/HiperNotícias, é possível ver o momento em que a técnica questiona a forma como foi tratada.

“Aqui não é o seu lugar”

Por meio de um relato do ocorrido, a técnica lembra os momentos que viveu na noite de sexta-feira e aponta a angústia e a frustração por ter sido humilhada de formas sucessivas ao procurar por ajuda médica.

No comunicado, a técnica, que atua há 13 anos como servidora pública, recorda que sentia muita falta de ar e que sua filha, que foi notificada com coronavírus, estava com dores no corpo quando ambas foram procurar por socorro médico na UPA.

Ainda na sala de triagem, elas foram surpreendidas pela reação do médico, que teria dito que Helena não poderia ter entrado na unidade porque ela representava um risco à sociedade estando com suspeita de contágio.

“Volta para casa e fique lá” e “Aqui não é o seu lugar” teriam sido algumas das palavras de ordem do médico às pacientes. A técnica aponta também que no momento em que a filha pegou o celular para gravar o profissional da saúde ainda gritou que “Se você filmar vou acabar com sua vida”.

Do lado de fora novamente

Com quadro de hipertensão, o que configura grupo de risco caso comprovado o contágio pela Covid-19, a técnica precisou receber medicamento na veia. Ela e sua filha foram atendidas por uma outra profissional da UPA.

Ainda em choque com o ocorrido, ambas foram novamente surpreendidas ao se depararem com policiais na saída da UPA, que solicitaram que elas os acompanhassem até a delegacia, pois o médico havia prestado denúncia contra as pacientes.

No relato policial, o doutor aponta que pediu à técnica para que se retirasse da UPA uma vez que somente Joyce Antônia estaria passando mal. Na negativa da técnica, o coordenador de vigilância sanitária foi chamado e apresentou notificação das medidas para serem adotadas.

Diante do descumprimento das medidas, segundo relato policial, ambas foram conduzidas à delegacia. Já na unidade policial, a técnica diz ter se sentido uma “bandida” diante de tanta humilhação.

Em trecho do vídeo no qual ela está do lado de fora da delegacia, a técnica questiona aos policiais onde ela deveria estar: “Não posso procurar a emergência, tenho que morrer na minha casa?”.

Após ficarem no sereno, ambas foram liberadas por volta das 01h30 de sábado (13). Por conta do registro policial, agora elas cumprem medidas restritivas.

Reprodução

Antônia Helena de Azevedo

Relato de testemunha do caso

Trabalhando sob risco

Uma das filhas da técnica aponta que mesmo fazendo parte do grupo de risco sua mãe teve negado o pedido de afastamento e foi obrigada a continuar trabalhando durante a pandemia.

À reportagem, a família apontou que não está descartada a judicialização do caso, uma vez que diversas denúncias já foram apresentadas às ouvidorias do Conselho Municipal de Saúde, do Ministério Público de Mato Grosso e do Conselho de Enfermagem.

O exame para verificação de contágio da técnica foi feito na última segunda-feira (08), mas por conta da baixa capacidade de verificação diária do Laboratório Central do Estado o resultado ainda não foi divulgado.

A reportagem tentou contato com a prefeitura de Chapada dos Guimarães para tratar sobre a situação, mas até a publicação da matéria não houve retorno por parte do Executivo municipal.

Por telefone, o médico apontou que foi cumprido o protocolo, tendo a paciente sido medicada de forma regular. Ele disse também que as versões apresentadas têm sido exageradas e que já está em contato com um advogado que tratará do caso na esfera judicial.

Veja o vídeo da técnica de enfermagem na delegacia.

Fonte: Hipernotícias