Após um ano de pandemia, a agressão do coronavírus no sistema pulmonar, que provoca falta de ar no paciente, tornou-se muito maior e a evolução tem sido mais rápida, principalmente nessa segunda onda. Isso quer dizer que tem demorado menos tempo para um paciente apresentar os sintomas e precisar de uma Unidade de Terapia Intensivo (UTI). Muitas vezes apenas 24 horas, segundo médicos da linha de frente.
Apesar da agilidade, o quadro sintomático, como um todo, se mantém os mesmo, mas o número de pessoas com sintomas aumentou. Tosse, febre e dor de garganta são as principais queixas de pacientes. (Veja quadro abaixo com dados até o início de abril)
O desconforto respiratório tem sido mais frequente que os casos de perda de olfato e paladar, que eram os sintomas tidos como chaves para diagnosticar alguém com Covid-19. Dados dos informes epidemiológicos da Prefeitura de Cuiabá apontam que, no primeiro semestre da pandemia, a dificuldade para respirar era a sétima queixa mais comum dos pacientes cuiabanos. Já em um ano, estava na quinta posição.
Tosse, febre, dor de cabeça e dor de garganta aparecem ainda como as queixas mais predominantes dos casos de infecção pelo coronavírus. Os números também se comprovam pela experiência de quem está na linha de frente de combate ao vírus. De acordo com o coordenador do Pronto-Atendimento do Hospital São Mateus, Maikon Ticianel, o quadro clínico é muito parecido com o começa da pandemia.
O médico explica que o paciente começa a sentir febre, dor de cabeça, dor no corpo e, em alguns casos, diarreia. Alguns pouquíssimos dias se passam e a infecção evolui para uma tosse com falta de ar. Estes dois últimos sintomas vão aumentando de forma gradativa até que infectado precisa do auxilie de uma ventilação mecânica ou precise ser intubado em uma UTI.
Maikon fala que tem casos que o paciente começa a sentir falta de ar em um dia e na data seguinte já precisam ser internados. Este foi o caso da jovem grávida jovem Mikaely Karoline Souza, que morreu aos 20 anos depois de esperar quatro dias por uma vaga em um leito de UTI. Ela tinha ido a um posto de saúde na manhã com queixa de falta de ar e, à noite, já precisou ser intubada. Não resistiu e a criança também morreu ainda no ventre.
De acordo com o médico, os pacientes com Covid-19 (a doença causada pelo coronavírus) demoravam até 10 dias para evoluir para uma forma grave da doença no começo da pandemia, em março do ano passado. “Hoje, com quatro ou cinco dias, ela já pode ter essa condição. Evolui mais rápido e mais grave. Tem essa diferença”, diz ao RD News.
O agravamento mais rápido vem depois das descobertas das novas variantes do coronavírus, principalmente a brasileira, que tem um poder de contágio maior. Além da transmissibilidade, o alvo do vírus tem sido cada vez mais jovens sem nenhum histórico de comorbidades, que resultado, inclusive, com desfecho de mortes. Quando não vem a óbito, os jovens, por serem mais resistentes, passam muito mais tempo em uma UTI.
Maikon acrescenta que, antes havia mais idosos ou pessoas com doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, hoje mais da metade das UTIs estão ocupadas por pessoas com menos de 50 anos.
Quem consegue se recuperar da Covid-19, ainda precisa enfrentar sequelas. O médico fala que tem sido comum casos de problemas renais, diabetes, perda de memória e até de transtornos neuropsiquiátricos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) pede mais estudos para compreender os efeitos do coronavírus depois de uma cura. “Ainda não se sabe se é para o resto da vida”, arremata Maikon.
Fonte: RD News