Você sabia?  Zé Bolo Flô foi um poeta-andarilho

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Zé Bolo Flô, um dos personagens folclóricos de Cuiabá no fim da vida foi taxado como louco, foi morto como um indigente, sem nome, missa ou flores. Nascido como José Inácio da Silva, Zé Bolo Flô agora é nome de parque na cidade que tanto amou e poetizou, Cuiabá dos seus encantos e desencantos, a qual retratou em versos e letras de canções que nunca cantou.

Desde criança, ao cantarolar “eu vim, eu vim, eu vim de lá para cá, eu sou, eu sou, eu sou de Cuiabá/ terra de Dom Aquino/ me lembra os tempos de menino/ jogava peteca/ soltava ioiô/ brincava com Zé Bolo Flô”, sequer imaginava que se tratava de uma música da autoria do poeta-mendigo, meio louco, meio gênio, que carregava consigo um saco de estopa com todas as letras que povoavam a sua imaginação.

Foi durante as décadas de 1960 e 1970, que Zé Bolo Flô ao perambular por Cuiabá, se consolidou no imaginário popular da cidade. O apelido foi dado pelos cuiabanos, que tinham deste costume para caracterizar o dia a dia com seus personagens. De origem humilde, para se manter enquanto vivia de favor na casa de uma família tradicional, ele vendia bolos e flores no centro de Cuiabá. Por isso, ficou conhecido como Zé Bolo Flô.

Era irreverente por natureza. Adentrava as principais missas da cidade, com suas roupas maltrapilhas, um terno desgastado e uma camisa desbotada, e assim, com o saco nas costas, parava em frente ao altar, rezava e ia embora. Sempre carregava um santo para proteção. Religioso, estava em todas as festas de santo e acompanhava as esmolas do Senhor Divino. Ainda vivo era um símbolo, sua presença era festejada nestas festas públicas, e o poeta mendigo transitava entre as classes médias e pobres, mas era visto com maus olhos pela alta elite cuiabana, que torciam o nariz quando invadia a igreja com sua presença humilde.

Sua figura estava sempre a caminhar pela cidade, com seus poemas a marcar o compasso, e as canções a marcar o tempo. Rodopiava como em um giro e trilhava do Porto ao Centro de Cuiabá.  Até o dia em que não esteve mais. O trancafiaram como louco no Hospital Psiquiátrico Adauto Botelho, e lá morreu por volta de 1972 e 1974. O poeta-mendigo, o poeta-andarilho ganhou as páginas dos jornais. Morreu como indigente, mas foi lembrado saudosamente pela imprensa. E ao sair da vida entrou para a história.

Esta é a única imagem que se tem de Zé Bolo Flô, com o santo em mãos, de camisa listrada, de baixo porte, negro e cabelos crespos

Fonte: Olhar Conceito