Édio Gomes Júnior, o “Edinho”, que seria um dos ex-pistoleiros de João Arcanjo Ribeiro e que ficou conhecido como um dos autores da ‘Chacina da Fazenda São João’, perto da cidade de Jangada, ocasião em que quatro pescadores foram executados na propriedade do ex-bicheiro, em 2004, trocou de identidade, constituiu família e passou a trabalhar com venda de açaí na cidade de Barra dos Coqueiros, em Sergipe, onde foi preso.
“A gente faz um trabalho dentro da unidade de formiguinha, é algo bem meticuloso, precisa ser bem trabalhado. É o levantamento de presos que foram investigados pela unidade, porém encontram-se foragidos. O nome do Édio foi um dos primeiros a aparecer nessa lista, justamente pelo que tinha foragido. Ou seja, o tempo que havia o mandado de prisão em aberto contra ele”, explicou o delegado Marcel Oliveira, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), ao Olhar Direto.
“Esse trabalho busca justamente isso, impedir a impunidade desses crimes que ocorreram. As pessoas estão foragidas, mas devagar a gente vai fazendo um trabalho meticuloso com objetivo de chegar à prisão desses suspeitos para que a justiça seja feita”, disse.
Agora, de acordo com o delegado titular da DHPP, Fausto José de Freitas, existe um procedimento para o recambiamento do preso. “O Estado vai providenciar uma equipe para fazer a escolta dele de Sergipe de volta para Mato Grosso para que ele responder ao processo”.
Delegado títular da DHPP, Fausto Freitas
O homem ficou foragido por 18 anos. “A gente começou achar estranho algumas coisas, pois não se via movimentações atuais dele. Era como se ele tivesse morrido a partir do momento do momento que o mandado de prisão foi expedido. Isso despertou nossa curiosidade de começar a trabalhar nessa situação. Fomos trabalhando com sistema que temos em mão, através no Núcleo de Inteligência, e depois de algum tempo, fazendo vários cruzamentos, conseguimos constatar que ele possivelmente estaria na cidade de Barra dos Coqueiros”, acrescentou Marcel.
O foragido estava usando documentação falsa. Ele deverá responder em Sergipe pelo crime. “Isso corrobora com o sumiço dele. Ele estava com certidão de nascimento com outro nome, CPF, constituiu família e estava trabalhando” afirma o delegado Marcel.
O crime bárbaro foi relatado no processo judicial que culminou nas condenações de vários seguranças da fazenda de Arcanjo. Foram denunciados como executores dos pescadores o gerente do setor de pescas da fazenda, Joilson James Queiroz, e os seguranças Noreci Ferreira Gomes, Valdinei, Evandro Negrão, Édio Gomes Júnior, o “Edinho”, Alderi Souza Ferreira, o “Tocandira”, Adeverval José Santos, o “Paraíba”, e Carlos César André, o “Pezão”.
Conforme a denúncia, os seguranças vistoriavam os arredores das represas, devidamente armados, ação que era rotineira e ocorria até às 21 horas. No dia do fato, por volta das 20 horas, o grupo teria se dividido em dois, sendo que cada um foi para um lado da represa.
O segundo grupo localizou as quatro vítimas pescando, surpreendendo-as com disparos de arma de fogo. Itamir foi o primeiro a morrer, já que o disparo foi fatal. Outro deles acabou atingido no abdômen, mas não foi a óbito na hora.
Após os disparos, os seguranças teriam se reunido para verificarem o que havia ocorrido. As vítimas sobreviventes foram dominadas, tendo mãos e pés amarrados, uma às outras e sob a mira de armas de fogo, momento em que o acusado Edinho telefonou para Joílson, que era um dos administradores da fazenda e narrou o ocorrido da seguinte forma: “Matamos uma capivara e tem três amarradas, se quiser, trás uma faca para tirar o couro”.
Édio ficou foragido por 18 anos e foi preso nesta quinta-feira.
Ao tomar conhecimento do fato, Joílson foi até o local com Noreci, e ordenou que os pistoleiros afogassem as vítimas que haviam sobrevivido aos tiros, afirmando que fariam isso para que não deixassem pistas do homicídio que vitimou Itamar.
As vítimas foram amarradas juntas e jogadas na represa, sem darem ouvido aos gritos de clemência dos pescadores. No momento em que as vítimas submergiram, buscando meios de saírem da água, eram impedidas pelos acusados Alderi e Evandro.
Após a morte de todos serem constatadas, os seguranças colocaram seus cadáveres no veículo Saveiro e fizeram a desova dos corpos, um a um, na margem da estrada.
Ainda conforme a denúncia, os acusados teriam cometido o crime por haver uma associação entre todos eles para que impedissem a pescaria nas represas da fazenda e que aqueles que eram pegos, fossem eles empregados ou não do local, eram submetidos às lesões corporais e até mesmo à morte.
Os laudos mostram que todas as vítimas foram torturadas, sendo que algumas delas tiveram inclusive traumatismo craniano. Porém, três das mortes foram causadas pelo afogamento na represa. Somente Itamar foi a óbito por conta do tiro.
A defesa de Arcanjo, patrocinada pelo advogado Paulo Fabrini, se posicionou por meio de nota.
Veja na íntegra:
Acerca da matéria intitulada “Ex-pistoleiro de Arcanjo é preso por envolvimento em chacina com quatro mortos” publicada neste respeitável sítio de notícias, objetivando restabelecer a verdade, a defesa de João Arcanjo Ribeiro vem a público para dizer que:
(i) O sr. Édio Gomes da Silva, preso na data de hoje, trabalhou como motorista da casa de João Arcanjo Ribeiro até o ano de 2002, oportunidade em que foi desligado das suas funções;
(ii) Ao que consta, o único crime a que este cidadão responde foi cometido no ano de 2004, oportunidade em que João Arcanjo Ribeiro estava preso e incomunicável no Uruguai e que já não mais trabalhava como motorista;
(iii) Acerca da mencionada “Chacina da Fazenda São João”, o Sr. João Arcanjo Ribeiro nunca foi indiciado e/ou denunciado pelos fatos ocorridos, pois, como dito, encontrava-se preso e incomunicável no Uruguai;
(iv) A Fazenda São João, na época dos fatos, era gerenciada pelo Sr. Joilson James Queiroz, que vem a ser irmão do ex-genro do Sr. João Arcanjo Ribeiro, não tendo este último qualquer espécie de ingerência na administração do imóvel naquela época
Por fim, trata-se de uma vilania sem precedentes tentar vincular o nome do Sr. João Arcanjo Ribeiro a esta prisão e ao episódio a ela atrelado, uma vez que, repita-se, nunca houve indiciamento e/ou denúncia contra aquele.