A crise alardeada pelo mercado financeiro devido à queda diária do petróleo Brent pode ser vantajosa para os motoristas. Especialistas da área econômica apontam que o preço da gasolina e do óleo diesel deve cair na bomba na próxima semana, quando a guerra de preços entre a Rússia e a Arábia Saudita – maiores exportadores de petróleo do mundo – se estabilizar.
O diretor executivo do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Mato Grosso (SindiPetróleo), Nelson Soares, destaca que nessas horas é preciso cautela e esperar que as oscilações de preços diminuam. Destacou que ontem (09) o preço do barril caiu 30%, mas que nesta terça já subiu para 10%.
Disse que se essa tendência de queda permanecer o preço dos combustíveis deve cair para o consumidor: “Com certeza. Em 2016, quando o preço do barril estava a 30 dólares, o preço da gasolina na bomba estava em média R$ 3,66 e o diesel R$ 3”.
Ponderou, no entanto, que tudo depende da Petrobrás repassar a queda na hora de refinar o produto e entrega-lo às distribuidoras, que por sua vez, também precisam passar a redução aos postos de combustíveis.
“A Petrobrás já disse em nota que aguardará a estabilização do mercado antes de tomar qualquer atitude em relação a mudança na política de preços. O momento agora é de cautela, pois é preciso esperar o fim dessa oscilação de valores”, reforçou Nelson.
O economista Adriano Pires, sócio fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), segue a mesa linha do diretor do SindiPetroléo.
Em entrevista ao site UOL, nesta segunda, ele também acredita que haverá queda no valor dos combustíveis, ainda que não seja possível dizer de quanto.
Explica que nesse cenário de guerra de preços entre Rússia e Arábia Saudita a Petrobras irá fazer os reajustes para baixo, já que o preço do petróleo não deve subir tanto nos próximos dias.
Acrescentou que nesta semana a estatal brasileira deve apenas monitorar o mercado, enquanto os ânimos entre os investidores ainda estão muito exaltados.
Ressaltando que a grande dúvida é qual será o novo patamar de preço e qual será a durabilidade disso.
Milena Magalhães – professora da Universidade Federal de Mato Grosso e mestre pela Universidade de São Paulo (USP), no Programa de Integração da América Latina – também acredita que a queda do preço do barril vai tornar a gasolina mais barata no Brasil.
No entanto, avalia que se o valor do barril continuar caindo nos próximos anos isso não seria um bom negócio para o país, tendo em vista que o país precisará investir muito dinheiro para explorar a camada do pré-sal, com maquinários de última geração para chegar às bacias onde contém petróleo. “A gente vai fazer todo esse esforço, todo esse investimento de prospecção, para vender o petróleo a um preço muito barato, então é um pouco mais complicado…”.
Destacando também que a gasolina mais barata inviabiliza a produção do etanol e afeta todo setor energético brasileiro e mundial.
“A gente entra num contexto de que estamos procurando meios de energias renováveis, justamente porque o petróleo sofre essa oscilação gigantesca por alguns fatores externos. Tem países que são grandes produtores e dominam o mercado, mas acabam por inviabilizar essas novas energias, a eólica, a solar, porque o petróleo fica cada vez mais barato”, analisou a especialista em economia internacional.
A ‘grita’ do mercado
A queda no preço do barril do petróleo gerou pânico entre os investidores e ações na bolsa de valores caíram drasticamente pelo mundo afora. Nesta segunda (09), a Ibovespa em São Paulo caiu 11%, considerado o pior índice da bolsa brasileira nos últimos 100 anos. Pela Europa, Londres registrou queda de 8%, a maior dos últimos três anos. A bolsa alemã caiu 5%, mesmo patamar registrado em Tóquio. O dólar bateu seu maior recorde em comparação ao real, chegando a valer R$ 4,72. As ações da Petrobras caíram quase 30%. Diante do cenário alguns mais desesperados já falam em uma nova recessão mundial parecida com a que ocorreu quando a bolha especulativa do mercado imobiliário norte-americano estourou em 2008.
A professora Milena explica que a queda no preço do barril se deve a três fatores principais. Primeiro a desaceleração da economia global nos últimos anos, principalmente da China, grande demandante de petróleo e produtos em geral. E em segundo o surgimento do coronavírus que provocou um grande choque na oferta e demanda de produtos.
“O coronavírus vem em duas frentes: ele provoca um choque de demanda, as pessoas não consomem mais e não produzem mais; e um choque de oferta, pois faltam trabalhadores para empregar e aumentar a produção”.
A Opep, Organização Mundial dos Produtores de Petróleo, se reuniu na semana passada para pensar numa política frente a queda vertiginosa do preço do barril do petróleo. Durante o encontro, a Arábia Saudita, maior exportadora de petróleo do mundo, defendeu a redução de oferta do produto para manter a cotação do barril em alta no mercado financeiro.
No entanto, a Rússia, outra gingante na produção de petróleo, não topou a proposta e resolveu dobrar a aposta afirmando que iria segurar o preço baixo e aumentar a produção. “Nessa briga, a Rússia afirma que vai aumentar a produção e aguenta essa produção num preço muito baixo por um período de 6 a 10 anos”.
Trocando em miúdos a professora explica que a guerra de preços entre a Rússia e a Arábia Saudita era a fagulha que faltava para gerar o “boom” que trouxe esse cenário de instabilidade, derrubando o preço do barril drasticamente em 30% – a maior queda desde a Guerra do Golfo em 1991.
Os especialistas também acreditam que a postura da Rússia seria para afetar os produtores de petróleo dos Estados Unidos, que já passam por dificuldades financeiras e que entrariam em falência, caso o preço do barril continue caindo.
“O custo de produção interna de petróleo dos Estado Unidos é muito maior do que o petróleo que a Rússia e Arábia Saudita produzem. Então os produtores do EUA já estão endividados e chegam a falar que não compensa produzir se o preço do barril no mercado internacional estiver abaixo dos 40 dólares, e chegou aos 35 e a previsão é que o valor diminua ainda mais”.
FONTE: Da redação, O Estado de Mato Grosso